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A mulher-maravilha de Trump: Kellyanne briga, bate e leva

A assessora que aparece o tempo todo na TV não se intimida diante de nada, nem da realidade paralela. E complicou a vida de Tom Brady, marido de Giselle

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 2 fev 2017, 10h16 - Publicado em 26 jan 2017, 15h10

Que mulher pensaria em interromper uma pancadaria entre dois barbudos justamente no dia de glória do chefe? A onipresente Kellyanne Conway não só interferiu na troca de sopapos, acontecida num dos bailes comemorativos da posse de Donald Trump, como desferiu três socos na cara de um dos brigões.

A fonte é de confiança, Charles Gasparino, comentarista de economia da Fox News e simpatizante do novo governo, ao contrário de imensa maioria do resto da imprensa.

Gasparino, um viciado em malhação pesada com braços gigantescos, ficou impressionado: “Ninguém ficou ferido, fora o cara que Kellyanne esmurrou. Agora eu sei por que Trump a contratou”. Aparentemente, os envolvidos eram convidados – amigos ou parentes – de Kellyanne. Daí a necessidade urgente de colocá-los na linha.

Pancadaria retórica é a especialidade dessa mulher de 50 anos, longa cabeleira loira, muita maquiagem, quatro filhos e inesgotável capacidade de defender o chefe. Mesmo, ou talvez principalmente, quando ele se mete em situações que parecem indefensáveis.

O caso mais recente foi quando ela disse ao apresentador Chuck Todd que o porta-voz de Trump estava apresentando “fatos alternativos” quando defendeu a versão do chefe sobre o tamanho recorde do público presente à posse.

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Soltando fumaça metafórica pelas orelhas, Todd, um anti-trumpista militante que se comportou sem excesso de exageros na entrevista, bufou: “Fatos alternativos não são fatos. São falsificações”.

A principal atribuição de porta-vozes é justamente apresentar a versão mais positiva, para aqueles que representam, dos fatos – incluindo fatos alternativos. O problema é dizer isso, como fez Kellyanne.

Problema do ponto de vista de quem espera alguma lógica temperando as mentirinhas disfarçadas dos porta-vozes. Para quem espera uma combatividade imperturbável, capaz de responder a todas as provocações nem que seja com argumentos da realidade paralela, Kellyanne é a resposta.

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Mulher, de origem humilde, com um nome “de pobre” e sotaque de Nova Jersey (mãe de origem italiana, pai irlandês), Kellyanne incorpora o povão esnobado pelas elites que empurrou Trump para a Presidência.

Pare esse público, funcionaram a favor dela até as reações de menosprezo que provocou por sua roupa do dia da posse, um chamativo casaco tricolor da Gucci e nenhum respeito pela regra de que ninguém deve usar mais de um acessório vermelho (Kellyanne usou logo três: chapéu, luvas e bolsa). Talvez estivesse influenciada pela caracterização patriótica, como Supergirl, que usou numa festa a fantasia de comemoração da vitória de Trump.

Criada pela mãe, a avó e as tias italianas eternamente de avental diante do fogão, depois que o pai desapareceu de cena, Kellyanne foi Rainha do Mirtilo – e campeã de empacotamento da frutinha roxa na plantação onde trabalhava durante as férias. Foi estudante brilhante de Direito e aos 28 anos abriu uma empresa de pesquisas de tendências e comportamento no universo feminino que a aproximou da política.

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Entrou para a campanha de Trump no momento mais sinistro, quando tudo parecia perdido, e deu um conselho vital: ele não devia perder a autenticidade que o havia levado até ali e produzido tanto entusiasmo popular.

Como assessora do círculo mais fechado de Trump, ela ocupa uma posição superior à do porta-voz e diretor de Comunicação, o estoico Sean Spicer, cargo que rejeitou para ficar com os filhos – um casal de gêmeos mais dois meninos, de sete a doze anos.

Foi criticada por não ir – sob a “acusação” de ter uma visão convencional do papel de mãe = e criticada por ir. “Kellyanne Conway abandona os filhos para cuidar de Trump”, ironizou um site anti-Trump quando ela aceitou o posto de conselheira especial.

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“Não jogo golfe nem tenho amante, como vejo tantos políticos fazer”, detonou ela quando perguntaram como teria tempo para os filhos. Uma declaração perigosíssima, considerando-se que Trump joga golfe, geralmente em seus próprios campos. Quem especula sobre o estado de espírito de Melania Trump, baseando-se em fotografias da posse nas quais ela aparece com expressão de modelo vai querer fazer outras conjecturas.

Em meio ao tumulto dos primeiros dias do novo governo, Kellyanne trouxe até Tom Brady, o marido de Gisele Bündchen, para a briga. Brady, o mais famoso quarterback dos Estados Unidos, está na famosa final do campeonato de futebol americano e, por causa de uma disfarçada amizade com Trump, tem sido trucidado pela oposição. Kellyanne disse que o presidente é grato aos amigos leais que são capazes de levar “estilhaços verbais” por ele. O casal provavelmente preferiria ficar fora dessa.

Como avatar de Trump, Kellyanne é odiada pela oposição e ridicularizada em programas humorísticos. Ela equilibra o estilo estridente – comum às “advogadas loiras” que se transformaram em defensoras do conservadorismo em programas televisão – com inabalável gentileza no trato e o sorriso quase robótico de quem sabe que bater e apanhar fazem parte do mesmo movimento.

Trump, que usa os pronomes possessivos tantas vezes quanto Barack Obama usava os mais importantes pronomes pessoais (eu, eu e eu), já a chamou de “minha Kellyanne”. Deve ter adorado a história do convidado esmurrado no baile por mau comportamento. Seria bom se tiver ficado também com uma pulga atrás da orelha.

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