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A revolução cultural de Trump

Num mundo de cabeça para baixo, as mudanças estão à direita

Por Vilma Gryzinski 2 mar 2025, 08h00

“Quando começamos a fazer a revolução, éramos uns simples garotos de 23 anos e os líderes da época eram idosos e experientes. Tinham mais conhecimento, mas nós tínhamos mais verdade”, disse Mao Tsé-tung, antecipando o que faria quando desfechou a Revolução Cultural, movimento de placas tectônicas em que alunos desafiavam professores e jovens com o livrinho vermelho na mão humilhavam integrantes mais velhos do Partido Comunista. É impossível não ver os paralelos com o “exército de Musk”, os rapazes de moletom e laptop convocados para o Departamento de Eficiência Governamental que não só podam, mas fecham instituições do governo americano. De anônimos funcionários burocráticos a generais estrelados como o ex-chefe do Esta­do-Maior das Forças Armadas, ninguém está livre da motosserra — metáfora emprestada de Javier Milei — da versão 2.0 de Donald Trump, mais ambicioso e ousado.

A revolução cultural desencadeada por ele em seu segundo governo é de direita na vertente populista, propulsionadora de um mundo que parece de cabeça para baixo. Trump adota posições que já foram de esquerda, como o protecionismo e a rejeição ao livre-comércio. Uma guinada tão extraordinária que até o presidente Lula criticou. “Eles que foram os autores do Consenso de Washington, que defendiam o mercado livre, agora estão defendendo o protecionismo”, reclamou o partidário do consenso do Foro de São Paulo. É uma ironia de cair o queixo: um presidente brasileiro critica um presidente americano por transgredir as regras da livre movimentação de mercadorias.

“Ele adota posições que já foram de esquerda, como o protecionismo e a rejeição ao livre-comércio”

Outra guinada espantosa: Trump passou a usar em relação à Ucrânia uma linguagem mais agressiva até do que a de Lula. Chegou a votar com a Rússia na ONU. Volodymyr Zelensky está sendo tratado a pontapés e a Rússia de Vladimir Putin, a pão de ló. Um dos mais interessantes debates desencadeados por essa guinada foi travado entre o vice de Trump, J.D. Vance, e Niall Ferguson, raro caso de historiador que não é de esquerda — ele se define como liberal clássico da linha do Iluminismo escocês e apoiou a eleição do presidente americano. “Lixo moralista”, fulminou o vice-presidente sobre um post de Ferguson que defendia uma aliança inquebrantável com a Ucrânia — afinal, o país ofendido e invadido, características que Trump simplesmente jogou pela janela.

A revolução cultural está pondo direita contra direita porque o republicano não tem compromisso intelectual ou político com o conservadorismo padrão. Gosta da Rússia e do abominável Putin, não liga a mínima para a ordem mundial sustentada pela superpotência americana, não quer saber de lições da história e está encantado com Musk e seu exército de “guardas vermelhos”. A comparação com a Revolução Cultural tem, obviamente, que manter a perspectiva. O caos deliberado criado por Mao provocou transferências populacionais, torturas e mortes em massa, num total calculado em 1,6 milhão de pessoas. Um de seus maiores símbolos foi a humilhação pública de figuras como Deng Xiaoping, obrigado a usar o chapéu de burro. O próprio Xi Jinping, filho de um quadro comunista expurgado, foi exilado no campo e vivia numa caverna. “Sem destruição não pode haver construção”, pregava Mao. Excepcionalmente, ele escapou da regra de que todas as revoluções devoram seus filhos.

Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2025, edição nº 2933

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