A síndrome de Susan Sarandon: só vale o sofrimento das vítimas padrão
Entorpecimento moral das esquerdas não admite que israelenses judeus tenham sido massacrados porque isso não combina com narrativa
Susan Sarandon é um prodígio que chegou aos 77 anos ainda ativa numa indústria cuja matéria prima é a beleza – o talento vem bem depois. Teve uma vida movimentada no topo do mundo, ganhou Oscar, foi a Louise da Thelma de Geena Davis, colecionou namorados como Louis Malle, David Bowie e Sean Penn. Foi sempre esquerdista, à maneira americana. Aparentemente, nunca questionou suas convicções, um trabalho árduo só recomendado para quem quer sair da zona de conforto.
Firmemente instalada nessa zona, falou uma das maiores barbaridades do atual ciclo de horrores desencadeado pelo novo conflito no Oriente Médio. “Existe muita gente que está com medo, com medo de ser judeu nesse momento, e está experimentando o gosto de como é ser muçulmano nesse país, tão frequentemente submetidos a violência”, disse ela numa manifestação a “favor dos palestinos” – atos que se transformaram em manifestações anti-israelenses e antiamericanas.
Perdeu a agência de talentos que a empresariava e ganhou uma resposta irretorquível da jornalista conservadora Asra Nomani. Com a experiência de ter nascido numa família muçulmana da Índia, ela escreveu: “Não minimize a experiência de judeus americanos sanitizando o inferno que é ser muçulmano em países muçulmanos”. Segue-se uma lista de exemplos desse inferno, em comparação com a liberdade e as oportunidades encontradas pela família dela nos Estados Unidos.
Por que uma pessoa inteligente e experiente como a atriz não admite que judeus americanos estejam chocados com as manifestações de ódio de que são alvo e que judeus israelenses sofreram incontáveis atos de uma perversidade quase sem precedentes?
Porque a “narrativa” estabelece um padrão de pensamento: eles são os vitimizadores. Não podem ser vítimas. Mesmo com a abundância de testemunhos e provas do que aconteceu na coleção de kibbutz perto de Gaza – ironicamente, com uma maioria de habitantes simpáticos à esquerda, como herdeiros de uma das mais radicais experiências de coletivização já feitas em qualquer lugar do mundo, onde nem salários havia e todos trabalhavam por ideais, tirando da caixa comum o que precisavam.
Por causa dessa distorção, também não encontram eco nos meios esquerdistas as violências sexuais indescritíveis cometidas na invasão do Hamas. É difícil até escrever sobre testemunhos como o de uma mulher identificada apenas pela letra S que contou o que viu, enquanto se escondia num matagal na área da rave invadida pelo Hamas em 7 de outubro. Uma jovem de cabelos castanhos compridos, contou, foi estuprada por vários homens armados, teve o seio amputado e jogado entre os estupradores, como numa brincadeira. O derradeiro atacante deu um tiro na cabeça dela enquanto ainda a violava.
Uma exceção nesse estado de negação veio da França, com um abaixo assinado divulgado no dia 10 com nomes de esquerda, como a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e a atriz Charlotte Gainsbourg, apelando “às feministas e simpatizantes de nossa causa para que os massacres de mulheres perpetrados em 7 de outubro em Israel sejam reconhecidos como feminicídios”.
“As violências cometidas contra essas mulheres correspondem em tudo ao feminicídio, ou seja, a morte de mulheres ou meninas em razão de seu sexo. Mulheres foram exibidas nuas. Mulheres foram violentadas a ponto de fraturar o quadril. Seus cadáveres foram igualmente violentados. Seus órgãos genitais foram mutilados. Urinaram sobre seus restos mortais. Algumas foram decapitadas, outras desmembradas e queimadas. Outras foram tomadas como reféns”.
“Até uma triagem foi feita entre as reféns: as bonitas foram levadas e as outras, mortas. Mulheres deficientes também foram violentadas e mortas, como Noya, autista, e Ruth, tetraplégica”.
Como um ser humano pode saber disso e não se abalar? Como falar “todes menines” pode ser uma causa tão importante e um nível avassalador de violência em massa contra mulheres passar em branco?
A síndrome de Susan Sarandon tem que ser quebrada por pessoas que não consigam negar os fragmentos de humanidade que existem nelas. É de seu próprio interesse validar essa humanidade.
Quando os primeiros reféns estiverem sendo trocados amanhã, todos verão crianças pequenas que foram capturadas como troféus. Ninguém poderá negar quem fez isso, mas muitos certamente continuarão tentando.