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A vida dentro das grades: poderosos presos passam apertos

De Berlusconi à ex-presidente da Coreia do Sul, corrupção, abusos e ladroagens criam uma classe única, a dos chefes de governo ou de estado enjaulados

Por Vilma Gryzinski 10 Maio 2017, 14h41
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    O destino despejou todo tipo de surpresas para Park Geun-Hye. Hoje, aos 65 anos, a ex-presidente da Coreia do Sul dorme num acolchoado que só abre à noite em sua cela. Come refeições num valor equivalente a cinco reais. Lava a bandeja em que são servidas.

    Usa um macacão verde e fica sozinha na cela a que foi recolhida desde o fim de março. Filha de ex-presidente, ele foi criada na Casa Azul, o palácio presidencial. Perdeu primeiro a mãe e depois o pai, assassinados.

    Desde o primeiro crime, caiu sob a influência de chefes de seita que a dominaram. A mais recente faturou mais de 50 milhões de dólares em “doações” de grandes empresas. Park Geun-hye se lascou com os abusos da guru e amiga.

    Silvio Berlusconi, ao contrário, leva a vida do bilionário que já era antes de se tornar primeiro-ministro  e, no período de decadência total, arrastar a Itália inteira para um dos seus recorrentes surtos de vergonha nacional.

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    Foi condenado, mas ganhou em segunda instância, por fazer sexo pago com uma menor de idade. Agora, está sendo processado por corromper testemunhas desse caso, com dinheiro e presentes. Perdeu os direitos políticos por seis anos.

    Cumpriu a sentença de abuso de poder em prisão domiciliar, por causa da idade – está hoje com 80 anos. Se é que se pode chamar de domicilio a suntuosa villa perto de Roma que divide com a companheira, de 32 anos. Por influência dela, virou vegetariano. Só pensa naquilo: voltar ao bunga=bunga da política e do poder.

    A lista de poderosos enjaulados é enorme, ao contrário do que indica o senso comum. As condições variam muito, da cana dura ao conforto apenas algo inconveniente da prisão domiciliar.

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    Mas um dos traços em comum entre políticos expostos ao sistema prisional é a cara de pau. Entram e saem da cadeia por todo tipo de malversação – não pela honrosa oposição de consciência our por resistência à tirania – como se fizesse parte da profissão. Ou será que faz parte mesmo?

    Alguns casos relativamente recentes vão do argentino Carlos Menem à indiana Indira Gandhi – esta, posteriormente assassinada.  José Sócrates se tornou o primeiro chefe de governo de Portugal a ver o sol nascer quadrado. Atualmente, aguarda julgamento em liberdade por uma lista de acusações que faria bonito em Curitiba. E quem sabe outras conexões apareçam?

    Nas Filipinas, o trânsito palácio-cadeia é intenso. Gloria Arroyo foi presa em 2011 no hospital,  onde havia feito mais uma cirurgia para corrigir deformidades na coluna, por atos de corrupção cometidos quando era presidente. O Supremo Tribunal a absolveu no ano passado.

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    Como presidente, Gloria Arroyo anistiou um antecessor, Joseph Estrada, ator de cinema que precisou de um impeachment e um levante popular para largar o osso viciante do poder. Rodrigo Duterte, o atual presidente filipino que está fazendo uma limpeza brutal de traficantes e viciados, não pode imaginar um futuro muito tranquilo.

    Moshe Katsav, ex-presidente de Israel, cumpriu até o fim do ano passado cinco anos de cana por estupro de duas funcionárias constrangidas a fazer sexo com ele. O ex-primeiro-ministro Ehud Olmert teve a pena por recebimento de propina reduzida a 18 meses, mas ainda está conhecendo por dentro o sistema prisional de Israel. A lista de ex-ministros e ex-deputados é impressionar até espíritos experientes em Brasília.

    Qual a conclusão? Cadeia não impede a roubalheira e os abusos de se repetir, mas alimenta a fome e sede de justiça dos que sustentam o bunga-bunga todo.

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