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Assange não é herói nem jornalista: seu comportamento comprovará isso

Um projeto que parecia idealista virou uma fonte de revelações que comprometiam os Estados Unidos - nunca, jamais a Rússia

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 25 jun 2024, 07h26 - Publicado em 25 jun 2024, 06h52
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  • Com seus cabelos prateados e jeito de galã, Julian Assange se instalou no papel de herói do jornalismo mais investigativo que existe, o que compromete os poderosos.

    E como: as revelações em série do WikiLeaks mostraram aspectos brutais da guerra no Iraque, a central de tortura em Guantanamo para presos e sequestrados por ligações com a Al Qaeda, incontáveis correspondências de diplomatas americanos sobre os detalhes mais íntimos (e muito bem escritos) dos governantes dos países onde serviam.

    Leia também: Julian Assange faz acordo com os EUA e deixa prisão no Reino Unido

    Também expuseram as identidades de informantes e espiões em muitos desses países, inclusive o Afeganistão, expondo-os a represálias e execuções.

    Como pano de fundo, a figura quixotesca do filho de hippies que queria mudar o mundo e parecia um mártir da liberdade de expressão falando aos fieis da sacada da embaixada do Equador onde passou a maior parte do tempo – sete anos – desde que descumpriu o acordo judicial para a liberdade condicional.

    Milionários (e milionárias) abriam o bolso para apoiar a causa transformada em símbolo do progressismo e Pamela Anderson virou amiga íntima. Agentes do serviço espanhol de inteligência o espionavam para a CIA, o que tornou mais espantosa ainda a revelação de que desenvolveu uma relação tão sólida com Sara González Devant, uma advogada sul-africana filha de mãe espanhola e pai sueco, conhecida como Stella, a ponto de ter dois filhos com ela – sem ninguém ficar sabendo.

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    MUDANÇA DE SEXO

    Ao mesmo tempo, o soldado Bradley Edward Manning, que trabalhava na central de inteligência do Exército americano no Iraque e tirou uma cópia de todos os dados digitais enquanto ouvia Madonna nos fones de ouvido, virava uma mulher trans chamada Chelsea. Como estava presa por espionagem, a operação de mudança de sexo foi custeada pelos contribuintes americanos.

    Barack Obama deu a ela um perdão presidencial, mas as opiniões do pessoal mais à esquerda do Partido Democrata mudaram depois da acusação de que o WikiLeaks mantinha contato com o GRU, a inteligência militar russa – ah, que surpresa. O elo: expor a candidatura de Hillary Clinton e favorecer Donald Trump. Consta da investigação feita por Robert Mueller, o durão ex-diretor do FBI.

    Mas a coisa não colou: a direita trumpista abomina o FBI e muitos democratas preferiram continuar com o mito do herói mantido numa masmorra inglesa (um absurdo, obviamente, mas assim se fazem os mitos).

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    Outra insanidade: Assange poderia ser condenado à morte por espionagem nos Estados Unidos.

    Espertos e tolos repetiram isso e até presidentes que não tinham nada a ver com o assunto, exceto pelo antiamericanismo visceral, resolveram dar palpite.

    SEM NOVICHOK

    Um jornalista investigativo sério que estivesse com o oceano de dados do WikiLeaks na mão divulgaria seu conteúdo? Claro que não. Os grandes jornalões mundiais que foram escolhidos para sua publicação tiveram os cuidados de edição característicos da profissão. Mas tudo acabou divulgado.

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    Espera-se até hoje que o paladino da liberdade de expressão faça revelações, por exemplo, sobre a corrupção sistêmica na Rússia, a perseguição a Alexei Navalny ou os bastidores da invasão da Ucrânia.

    Isso, obviamente, não vai acontecer.

    O comportamento de Assange depois do acordo feito com a justiça americana comprovará se ele é mesmo o que os fãs acreditam. Ou se colaborou com os interesses da Rússia para sabotar os americanos em tudo o que fosse possível.

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    Curiosamente, acabou funcionando a favor: o WikiLeaks ajudou a controlar os abusos praticados sob o impacto do Onze de Setembro e o constrangimento com aliados expostos passou.

    E Julian Assange não estará exposto a um súbito encontro com o Novichok.

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