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Como Dubai se tornou o lugar que mais atrai milionários no mundo

O minúsculo emirado árabe supera até os Estados Unidos na atração dos muito ricos; outros, os expulsam, com o Brasil em quinto lugar

Por Vilma Gryzinski 13 set 2024, 06h36

Pelo terceiro ano seguido, Dubai chegará ao fim de 2024 como o lugar mais escolhido por milionários que deixam seus países, à frente até dos Estados Unidos. Zero de imposto de renda é apenas um dos atrativos num mundo em que o trabalho remoto, transações instantâneas, fábricas num país e administração em outro facilitam a mobilidade dos empreendedores.

Os nômades digitais, profissionais independentes que afloraram durante a pandemia, buscando clima e condições mais agradáveis para trabalhar em casa, abriram caminho para os milionários sem fronteiras.

As dúvidas sobre estabilidade política num emirado minúsculo, de tradições muçulmanas ultraconservadoras e cercado por fundamentalistas político-religiosos de todos os lados, foram superadas pelas vantagens e o dinheiro, tal como todos nós, adora quem lhe dá condições de crescer.

O país que mais exporta milionários hoje é a China, um sinal de que a exuberância da economia candidata a se tornar a primeira do mundo em condições sem paralelos, com um governo comunista e ambiente relativamente capitalista, não está tratando bem os gatos que pegam os ratos, para lembrar a frase célebre de Deng Xiaoping.

VISTO DOURADO

A lista da movimentação de milionários feita pelo fundo de gestão de fortunas Henley Private Wealth revela por si só quais os países com governos voltados para incentivar a economia e os que estão fazendo bobagens ou padecem de instabilidade.

Os que mais atraem riquezas, depois de Dubai, são Estados Unidos, Singapura, Canadá, Austrália, Itália, Suíça, Grécia, Portugal e Japão, todos com diversos incentivos aos estrangeiros que quiserem vistos de residência em troca de investimentos nas respectivas economias. É o processo chamado na maioria dos países de Golden Visa, ou visto dourado.

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Os piores da lista, de onde os milionários estão saindo: China, Reino Unido, Índia, Coreia do Sul, Rússia, Brasil, África do Sul, Taiwan, Nigéria e Vietnã.

Ver o Brasil perto da Rússia, submetida a fortes sanções pelos países ocidentais e outras condições negativas por causa da invasão da Ucrânia, é de chorar.

Dubai, em contrapartida, tem hoje mais de 72 mil milionários, numa população de apenas 3,6 milhões de habitantes.

ESPANTA DINHEIRO

As desvantagens de viver num país artificial, com bolhas especiais para expatriados e contato relativamente restrito com a população onde as mulheres ainda se cobrem de preto da cabeça aos pés para sair na rua, são contrabalançadas pelas condições extremamente liberais nas atividades profissionais propiciadas: o visto dourado, infraestrutura entre as mais modernas do mundo e baixíssimo nível de barreiras burocráticas.

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Diz uma empresa especializada nesse tipo de transferência de HNWIs, os indivíduos de alto rendimento como os ricos agora são chamados: “A inexistência de imposto de renda para pessoas físicas permite que HNWIs maximizem suas fortunas”.

Soa como música para quem está sob risco de pagar mais imposto de renda ainda, como no Reino Unido sob administração do Partido Trabalhista. Detalhe: o 1% mais rico paga 29% de todo o imposto de renda recolhido na Grã-Bretanha.

Aumentando a proporção para 10% dos ricos, chega-se a 60%. Mas o governo de esquerda quer mais, o que está funcionando como um espanta dinheiro.

E o que produz o oposto, um imã de investimentos?

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O caso de Pavel Durov é um exemplo. Numa entrevista rara, o criador do Telegram, agora em liberdade sob fiança enquanto aguarda o processo movido contra ele pela justiça francesa, exaltou as condições excelentes que encontrou para se estabelecer em Dubai, depois de sair da Rússia para não abrir o sigilo de seus usuários.

CARAVANAS DE CAMELOS

Na época, ele tentou se fixar, com sua equipe de quinze gênios digitais, em gigantes como Estados Unidos e Alemanha. Ficou decepcionad pelos empecilhos burocráticos e também o interesse que, por motivos óbvios, despertou nos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Em Dubai, que já tem uma população grande de russos milionários, encontrou as melhores condições.

O fato de que Durov tenha sido contemplado com um passaporte francês entregue pessoalmente pelo presidente Emmanuel Macron e agora seja processado por conteúdo criminoso no Telegram indica que as tentativas de atraí-lo para a França implicavam numa armadilha, mesmo que não intencional. Destratar bilionários digitais é uma manifestação de atraso, uma declaração de ignorância ao mundo.

O projeto de abertura de Dubai a investidores estrangeiros, incluindo influenciadores que adoram as paisagens instagramáveis, é da família reinante no emirado, os Maktoum. Preocupados em não continuar eternamente dependentes das reservas de combustíveis fósseis que transformaram países ainda tribais em milionários em petrodólares, os emires promoveram projetos ambiciosos como os que criaram edifícios incrivelmente modernos, dos quais os mais conhecidos são o Burj Khalifa, o mais alto do mundo, e o Burj Al Arab, com seu topo curvo. O turismo hoje gera quase 10% dos ingressos no país que, há não muito tempo, só tinha dunas desérticas e caravanas de camelos- além de muito gás debaixo da areia.

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Os Maktoum são modernizadores, mas sem nada parecido com as democracias do modelo ocidental. Há regras rígidas para estrangeiros, inclusive sobre os espaços públicos onde podem ser consumidas bebidas alcoólicas e casais não casados podem ficar sob o mesmo teto.

Quem se adapta e segue as regras desfruta das vantagens do melhor país do mundo, hoje, para investidores.

E sem pagar imposto de renda na pessoa física.

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