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Crise energética cria emergência na Europa: o último a sair, apague a luz

Aumentos de até 1000% na conta, bares fechados e até volta à lenha são algumas das previsões catastróficas para o próximo inverno

Por Vilma Gryzinski 1 set 2022, 07h51
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  • É caso para uma “intervenção de emergência”, avisou a presidente da Comissão da União Europeia, Ursula von der Leyen. Intervenção mesmo: os aumentos nas contas de luz “estão expondo os limites do atual desenho do mercado de eletricidade”. 

    No mundo real, isso significa que mesmo famílias de renda média na Inglaterra não vão conseguir pagar a conta, mesmo com um subsídio do governo de 400 libras por domicílio, mais 650 para famílias que já recebem benefícios. Há prognósticos de aumentos de até 1.000%. 

    Os efeitos sobre as atividades econômicas podem ser piores ainda – se é que existe coisa pior do que desligar a calefação de casa no frio europeu, que começa em outubro. No começo da semana, seis grandes fabricantes de cerveja e associações de bares também pediram “intervenção imediata” do governo britânico. Previsão: até 70% dos pubs podem fechar as portas porque não conseguirão iluminar, aquecer e cozinhar para os clientes. Depois da pandemia, quando subsistiram com pagamentos do governo, seria uma catástrofe.

    O dono de um pub no interior da Inglaterra deu um exemplo para a BBC: seus gastos com luz e gás saltaram de 13 mil libras por ano para 35 mil (seis vezes mais em reais).

    Num país rico e desenvolvido como a Alemanha, cidadãos assustados começaram a fazer estoques de lenha, prevendo que não vão conseguir pagar os aumentos ou que haja blecautes compulsórios.

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    Enquanto isso, a Rússia “está nadando em dinheiro”, comparou Elina Ribakova, especialista em economia russa do Instituto de Finanças Internacionais, ouvida pelo Wall Street Journal.

    Para tripudiar sobre os europeus e as sanções econômicas decorrentes da invasão da Ucrânia, a Rússia fechou por três dias o Nord Stream, o maior gasoduto que alimenta os clientes transformados em adversários, alegando “motivos técnicos”. Na fronteira com a Finlândia, que abandonou a neutralidade forçada e pediu para entrar na Otan, uma estação de gás está queimando ostensivamente sua produção, incinerando 10 milhões de dólares por dia só para mostrar aos finlandeses como a Rússia pode desperdiçar a fonte energética que alimentava 70% do consumo do país.

    O que perde com os ingressos gerados pelo gás, a Rússia compensa com o petróleo, mais fácil de ser redirecionado e com clientes ávidos fora da esfera da aliança ocidental. O Wall Street mostrou como a Rússia ganhou 97 bilhões de dólares com petróleo e gás no primeiro semestre do ano. A exportação de petróleo chegou a 7,4 milhões de barris por dia, quase o mesmo nível de antes da invasão da Ucrânia.

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    Tão ou mais importante foi o acordo com a Arábia Saudita para que o maior exportador do Oriente Médio não abrisse as torneiras – o que deixou Joe Biden de chapéu na mão. A Arábia Saudita também está importando petróleo russo – parece loucura, mas o negócio compensa. O preço do barril caiu dos 130 dólares alcançados quando a guerra começou. Mas os 100 dólares atuais não deixam nenhum produtor infeliz.

    Gasolina cara e eletricidade quase inacessível em plena Europa, acabam com qualquer governo – e todos os políticos sabem muito bem disso. Em julho, o governo francês anunciou que vai nacionalizar 100% da EDF, a maior fornecedora de eletricidade do país (antes tinha 84%, numa demonstração da força do Estado na França). A empresa poderá ter déficits à vontade.

    O que contará mais para os europeus comuns, quando o inverno chegar: o compromisso moral em apoiar a Ucrânia, que não precisa nem ser explicado por obviedade, ou a pressão quase insuportável dos aumentos nas contas de energia?

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    É claro que os subsídios, por qualquer nome que sejam chamados, vão aumentar. Também é claro que isso vai aumentar a dívida e não ajudará a controlar a inflação, que tem uma chocante projeção de até 22% num país como o Reino Unido para o ano que vem.

    Os ucranianos estão usando todas as cartas que têm na mesa, tentando quebrar o “arco russo” que se estende num semicírculo pela região leste do país. Sabem muito bem que o tempo funciona contra eles e uma vitória militar, ainda que limitada à região de Kherson, onde foi lançada a atual contraofensiva, daria um crédito extra.

    A situação energética não significa que a Rússia está tirando de letra as sanções econômicas – mas certamente quer dizer que Vladimir Putin planejou muito bem o que queria fazer, embora o desempenho militar tenha sido cheio de erros, alguns insanáveis.

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    Ele entrou nessa para ganhar – e, numa hipótese que deixou de ser impensável, ainda teria o recurso das armas nucleares táticas para garantir que não vai perder.

    As apostas são altíssimas e as democracias europeias têm que estar à altura delas. Inclusive garantindo que suas populações não vão passar frio e nem ser obrigadas a fechar atividades econômicas. Nos últimos dias de seu governo, Boris Johnson vai anunciar um projeto de construção de oito usinas nucleares para garantir a segurança energética do reino. Vladimir Putin não pode rir por último.

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