Críticas a foto oficial de Melania Trump mostram mundo descompensado
Para atingir o presidente, especialistas em moda mergulham num exagero que reflete intoxicação extrema típica das redes sociais

Melania Trump é linda, não mostra muito o jogo e quer administrar a própria imagem. Por que provoca tantas críticas? É o ódio por tabela: muitos imaginam que, falando mal dela, acertam em Donald Trump.
É o excesso de partidarização que atinge todas as esferas da vida, mantendo muitos em estado permanente de exaltação, para escolher o lado que apoia e o lado que odeia. De candidaturas ao Oscar a fotos oficiais, essa exacerbação dos ânimos pode provocar reações ridículas.
A foto oficial de Melania, tirada pela fotógrafa belga Régine Mahaux, despertou exegeses voltadas para um objetivo: falar mal da mulher do presidente. A campeã foi Hannah Jackson, especialista em “estilo de celebridades” da revista Vogue.
Uma conferida rápida em seus artigos mostra que ela fala bem de absolutamente todas as celebridades sobre as quais escreve. Exceto Melania, a quem acusa de fazer um pastiche, ou imitação barata, do estilo executiva. Embora não haja nada de barato no que ela veste: paletó de smoking Dolce & Gabanna, camisa branca, calça e faixa Ralph Lauren.
O conjunto fez Melania parecer “mais um mágico freelancer do que uma servidora pública”.
“VILÃO DOS FILMES”
Ela obviamente não é nem uma coisa nem outra. A jornalista também critica Melania pelas intervenções na foto – como se existisse alguém que nunca apelou ao photoshop – e até por não usar aliança de casamento nem anel de bodas, joias fabulosas que, na fase atual, a primeira-dama está deixando de lado.
Pois a “perfeccionista” Melania – adjetivo usado por Régine Mahaux – está apurando o estilo. O modelo austero que usou na posse, tão despojado que a deixou parecida com uma agente do Serviço Secreto, foi o maior exemplo. Que mal há nisso? Por que ela não pode evoluir no modo de se trajar ou fazer uma foto em que aparece numa pose mais poderosa, com as pontas dos dedos pousadas sobre uma mesa espelhada do Salão Oval Amarelo e o obelisco em homenagem a Washington – fálico, como todos os monumentos do gênero – erguendo-se ao fundo?
Uma jornalista do El País, María Porcell, criticou até o fato de que, sobre a mesa espelhada, não havia “um só papel, um lápis, um computador”. Seria, obviamente, um absurdo encenar um ambiente de trabalho na sala histórica, geralmente usada para receber visitantes estrangeiros. Comparou-a, claro, a Claire Underwood. Também disse que “o mundo contempla horrorizado a transformação da Casa Branca numa espécie de obscura e distante fortaleza, como quando o vilão dos filmes ficava com o palácio do rei e o transformava numa gélida residência inundada pela hera”.
Menos, pessoal, menos.
COMPARAÇÃO INJUSTA
A mesma atitude de agressividade permanente dos simpatizantes do Partido Democrata em relação a Melania tem o correspondente, com sinal trocado, nas críticas de republicanos a Jill Biden e Michelle Obama. Com equipes de especialistas em moda cuidado de sua imagem, as duas foram fieis a seu estilo e se saíram bem no papel complicado de primeira-dama, no qual precisam fazer uma bela figura pública, mas não interferir nos assuntos do governo.
Melania Trump é de outra categoria: beleza de ex-modelo, mulher de bilionário, habituada às grifes mais caras do mundo. É injusto compará-la a antecessoras.
Quem sabe a realidade de seu casamento? Quem saber a realidade de qualquer casamento, fora da intimidade do casal?
É natural que desperte tanta curiosidade, ainda mais por ser extremamente reservada, mesmo com assuntos muito mais relevantes do que sua pose ou suas roupas numa foto oficial. É certo fiscalizar seu comportamento, pois desfruta de benesses públicas. Também é justo patrulhar para ver se está seguindo as regras da ética também – quando, por exemplo, ganha dinheiro com um documentário sobre sua vida nos bastidores como primeira-dama. O resto, é implicância – e eivada de ressentimento.