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De mulheres ao volante à paz possível: Oriente Médio melhora?

No último lugar do mundo onde pode haver esperança, atores e fatores positivos se conjuminam; falta a proposta de paz de Trump para árabes e judeus

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 25 jun 2018, 08h32 - Publicado em 25 jun 2018, 07h53
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  • Quem acha que entende as complexidades dos países e das culturas do Oriente Médio, em geral, quebra a cara.

    Dois acontecimentos nos últimos dias retrataram esses labirintos. Um foi a onda de aplausos, fogos e vivas que reverberou em cidades da Arábia Saudita à meia-noite de sexta-feira, quando entrou em vigor a legislação que permite às mulheres dirigir carros.

    Parece ridículo para o resto do mundo, mas as mulheres ao volante são um passo importante nas reformas que o herdeiro manda-chuva, Mohammed Bin Salman, está promovendo.

    A flexibilização dos costumes religiosos altamente restritivos faz parte de um conjunto que pode redundar em mudanças reais no financiamento e promoção do salafismo, o caldo de culturaque gerou as serpentes gêmeas da Al Qaeda e do Estado Islâmico.

    O príncipe bonitão também está completamente envolvido com a secretíssima proposta de paz entre Israel e palestinos, conduzida pelo genro de Donald Trump, Jared Kushner, e Jason Greenblatt, enviado especial ao Oriente Médio.

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    Por incrível que pareça, num governo cercado de inimigos e vazamentos por todos os lados como o de Trump, o plano está sendo mantido em segredo.

    É proibido mandar o rascunho das várias centenas de páginas por email para quem quer que seja. Só quem é autorizado pode ler o documento pessoalmente, na Casa Branca ou no anexo do Edifício Eisenhower.

    Mas o mero roteiro de viagem dos dois enviados já revela muito. O plano está sendo discutido entre os líderes de Israel, Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Catar – estes últimos, os mais difíceis de aproximar desde o racha que começou no ano passado e não dá sinais de melhorar, com uma guerra indireta travada no Iêmen.

    Os palestinos da ala de Mahmoud Abbas, a Fatah, deliberadamente se excluíram das

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    negociações. O pretexto foi a transferência da embaixada americana para Jerusalém. Mas o real motivo, como sempre, é principalmente, interno. Abbas está velho e doente, com a disputa pela sucessão já impossível de ser disfarçada.

    A briga intrapalestinos é maior ainda com a outra ala, a de Gaza, o território controlado pelo Hamas. Quanto pior a situação para os palestinos, de qualquer área, melhor para o Hamas – daí o incentivo às tentativas quase suicidas de derrubar a cerca que separa território de Israel de forma a evitar os atentados terroristas em massa que aconteceriam caso a passagem não fosse controlada.

    Qualquer concessão de Abbas e sua turma seria explorada pelo Hamas para passar a perna na corrente adversária, como fez em Gaza em 2007, numa rápida e cruenta batalha contra a Fatah. Os negociadores partem do princípio que, sob pressão dos vizinhos maiores e mais ricos – à exceção, óbvia, do Irã -, representantes da Autoridade Palestina, sejam quem for, serão levados a negociar.

    As questões permanecem as mesmas. Como as lideranças palestinas recusaram, em duas ocasiões, as propostas em que um futuro estado independente teria como capital a parte leste de Jerusalém, uma hipótese que está sendo sondada é que Abu Dis, um subúrbio na verdade colado na cidade histórica, ocupe este lugar.

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    Abu Dis fica a apenas um quilômetro da Jerusalém histórica, o centro cercado por muralhas. É a Betânia do Novo Testamento, onde Jesus ressuscitou Lázaro, cuja tumba é encimada hoje por uma mesquita, vizinha da Igreja de São Lázaro. A sede do Congresso palestino foi erguida em Abu Dis, com uma janela bem grande de onde Yasser Arafat pretendia contemplar Jerusalém.

    A proposta de Abu Dis pode ser apenas um lance intragável, para abrir as negociações e levar de volta a uma capital em Jerusalém Oriental. A tática de dar pouco para acabar cedendo mais também deverá ser usada em relação às áreas que eram palestinas antes da guerra de 1967 e foram ocupadas por cidades, vilas e condomínios destinados aos israelenses judeus.

    Tanto Benjamin Netanyahu quanto Mahmoud Abbas ou seu substituto terão que dar um duro danado para convencer os seus próprios duros e puros a aceitar um acordo, com as inevitáveis concessões mútuas.

    A popularidade de ambos sempre aumenta quando rejeitam qualquer tipo de acordo e teriam que mostrar ter o dom dos verdadeiros estadistas, que pedem sacrifícios no presente para benefícios no futuro. O alinhamento do príncipe saudita e do presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, é vital para o xadrez que está sendo jogado por Trump e seus representantes.

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    Ambos andam em campo reconhecidamente minado. O assassinato de Anuar Sadat em 1981, por ter selado a paz com Israel, e do rei Faisal em 1975, por ter iniciado uma abertura vagamente parecida com a do atual príncipe, pairam sempre como brutais marcadores da
    realidade.

    Um “diplomata norueguês” que assessora o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse depois de um encontro na Casa Branca que o plano de Trump cria um estado palestino de fato em áreas sob controle da Autoridade Palestina e em Gaza, contanto que o Hamas seja
    desmobilizado.

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    Israel continuaria a controlar a segurança, não haveria o direito ao retorno dos palestinos que deixaram a região e seus descendentes e os sauditas, principalmente, promoveriam o desenvolvimento econômico.

    O objetivo, segundo a fonte citada pelo Al Monitor, é um um conjunto de acordos que “sirva em primeiro lugar, e acima de tudo, aos interesses estratégicos e econômicos dos Estados Unidos”.

    O norueguês estava, claro, criticando a proposta ainda secreta. Mas, sem querer, forneceu o maior indício de que a coisa pode, ainda que remotamente, dar certo. Se é para o bem dos Estados Unidos, Trump vai insistir. Mesmo.

    No Al Monitor também está uma reportagem sobre a segunda curiosidade mencionada no início, como exemplo das complexidades do Oriente Médio. Muitos israelenses estão torcendo pelo Irã e pelo Marrocos na Copa do Mundo. Mesmo que seus pais e avós tenham sido expulsos, debaixo de atrocidades, os 140 mil judeus de origem iraniana e 492 mil procedentes do Marrocos conservam a lealdade futebolística.

    Alguns israelenses levando a bandeira nacional azul e branca apareceram até na parte reservada aos marroquinos no estádio de Moscou onde jogaram os Leões do Atlas. Sem contar os israelenses russos, judeus ou não (estes, mais de 400 mil) que dividem com os
    sírios partidários do regime de Bashar Assad a torcida apaixonada pela eterna Mãe Rússia.

    Dá até para sonhar com um Oriente Médio onde todos contribuam para viver num lugar melhor, em lugar de aumentar o tamanho do buraco que pode acabar engolindo todo mundo.

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