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Depois de guerra que custou 680 bilhões de dólares, Talibã está de volta

Com a saída dos americanos até setembro, abre-se o caminho para o retorno do grupo fundamentalista que não derrotaram em vinte anos

Por Vilma Gryzinski 15 abr 2021, 08h22
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  • Uma das raras politicas de Donald Trump que Joe Biden não amassou e jogou no lixo estará implantada até o próprio 11 de setembro: a retirada de todos os militares americanos no Afeganistão.

    A data é altamente simbólica. Os atentados de 11 de setembro de 2001 estarão completando vinte anos, um prazo suficiente para que muitos esquecessem que os ataques terroristas foram a causa da guerra no fim do mundo, que custou 2.300 vidas e 680 bilhões de dólares aos Estados Unidos – fora muitas dezenas de milhares de mortos entre civis e combatentes armados afegãos.

    Agora, o círculo se completa: os talibãs, ultrafundamentalistas que davam proteção e facilidades ao saudita Osama Bin Laden e sua Al Qaeda, estão com tudo pronto para voltar. 

    Basta um empurrãozinho no mais recente dos ineptos e corruptos governos que se sucederam sob a égide dos americanos, que tentaram inutilmente montar forças de segurança confiáveis, ou minimamente capazes de não desmoronar ao menor ataque inimigo, e, mais inutilmente ainda, governos viáveis.

    Por que os talibãs conseguiram não só sobreviver como aguentar tempo suficiente para ver um inimigo infinitamente mais poderoso concluir que o Afeganistão é um caso perdido?

    Entre as respostas, se inclui o fato de que o Talibã, como um movimento, tem uma base tribal, a da etnia pashtun, majoritária no Afeganistão e uma presença forte no vizinho Paquistão. Nessa região, a tribo é mais forte do que tudo.

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    A solidariedade tribal permitiu que os talibãs se deslocassem para o Paquistão quando a ação de americanos e aliados ficava muito intensa. O emaranhado paquistanês é mais complicado ainda, mas basta lembrar que Bin Laden só foi localizado e exterminado depois de dez anos, vivendo num casarão a um quilômetro de um quartel do exército do Paquistão.

    O Talibã também tem sua própria fonte de financiamento, os campos de papoula de onde se extraem o ópio e a heroína. As drogas rendem cerca de 1,5 bilhão de dólares por ano. Dá bem para sustentar seus 80 mil combatentes armados, acostumados a subsistir com quase nada nas regiões montanhosa do país.

    A ascensão dos talibãs – nome dos estudantes das madraças, as escolas islâmicas onde aprendiam a versão mais extremista do Islã – foi possível porque o Afeganistão estava totalmente esgotado por vinte anos de uma guerra civil brutal.

    Os fundamentalistas vinham sendo incentivados e financiados, inclusive pelos Estados Unidos, desde a época em que aderiram à resistência contra a invasão soviética, um grave erro de cálculo do tipo que tantos outros cometeram no Afeganistão. 

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    Os russos achavam que baixariam a tropa, reinstalariam um governo pró-Moscou e iriam embora. Ficaram dez anos, até surgir um Mikhail Gorbachev para assumir o tamanho do erro.

    Já estavam fora quando o Talibã emergiu, em 1996, estabelecendo um emirado, um governo islâmico em que as mulheres tinham que se cobrir totalmente com a burca; ladrões tinham as mãos amputadas; adúlteros eram executados e o estádio nacional de futebol virou palco decapitações, visto que os esportes estavam proibidos, tal como cinema, televisão e música.

    O fundamentalismo talibã assombrou o mundo quando duas estátuas gigantes de Buda, esculpidas na encosta de uma montanha na época da influência budista no país, foram dinamitadas. 

    O que era um patrimônio cultural único por qualquer padrão civilizado, para os talibãs representava apenas uma amostra de idolatria a ser exterminada.

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    Abominações similares foram praticadas pelo Estado Islâmico, o ISIS, que se instalou no Iraque e na Síria.

    ISIS e Talibã seguem exatamente a mesma doutrina ultrafundamentalista, embora tenham se estranhado quando os novos radicais do pedaço começaram a recrutar militantes no Afeganistão.

    O Talibã vai varrer o atual governo do mapa assim que os americanos virarem as costas ou seguir uma estratégia um pouco mais elaborada e criar uma espécie de fachada de conciliação?

    Esperar moderação de ultrafundamentalistas é ignorar as lições da realidade. 

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    Alguma outra força externa poderia influir?

    A China, que já criou uma rede de contatos no país, rico em recursos naturais inexplorados, tem interesse, obviamente, na estabilidade e repudia o fundamentalismo por causa de seus próprios muçulmanos. A Índia, que funciona basicamente movida pela rivalidade eterna com o Paquistão e o radicalismo islâmico, está revoltada com a facilidade com que os Estados Unidos entregam um país aos inimigos.

    Os infelizes que acreditaram na possibilidade de uma vida menos submissa aos rigores do fundamentalismo, as mulheres que ousaram estudar, as minorias étnicas e, claro, todos os funcionários do governo estão vendo o chão sumir sob seus pés. 

    Os talibãs, que já controlam várias regiões do país, mas ficaram fora das cidades maiores, estão voltando.

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