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Direita nacionalista populista cresce na Europa e Wilders é retrato disso

Levado pela revolta contra a imigração, movimento de muitas faces chega ao poder na Holanda e deve levar grande mudança ao Parlamento europeu

Por Vilma Gryzinski 20 Maio 2024, 07h59

Cortar impostos, controlar as exigências ambientais e, acima de tudo, revolucionar as regras que permitem o recurso do pedido de asilo político para fechar as portas à imigração em massa. Geert Wilders, que no passado era considerado uma “ameaça ou um “perigo”, hoje fala uma língua que muitos holandeses entendem e endossam. Ter sido normalizado ainda não permite que seja o primeiro-ministro, como líder do partido mais votado na Holanda, mas ele vai comandar o próximo governo, em coalizão com mais três partidos.

Wilders parecia uma figura mais folclórica, com seus cabelos tingidos de loiro (hoje estão brancos) e um discurso assumidamente contra a imigração.

“Vocês querem mais marroquinos ou menos marroquinos?”, perguntou a um grupo popular, numa cena que o levou a ser condenado por incitar à discriminação.

Isso foi em 2016. Muita coisa mudou e dizer – ou pensar – que querem “menos marroquinos” deixou de ser um tabu, inclusive na Holanda, um país de apenas 17,6 milhões de habitantes, dos quais 2,6 são de origem estrangeira.

COALIZÃO ÚNICA

O sentimento de que há um excesso de estrangeiros que não assimilam as culturais locais nem se integram aos valores das democracias avançadas é o mais forte propulsor da direita nacionalista. Partidos dessa tendência devem ficar em primeiro lugar nas eleições de junho para o Parlamento europeu em nove países: Áustria, Bélgica, Eslováquia, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia e República Checa.

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Mas as regras de asilo político estabelecidas pela União Europeia não devem mudar e aí estará um dos focos de conflito com o novo governo holandês.

O novo governo quer sair dessas regras para limitar os pedidos de asilo e o direito a trazer familiares, agilizar a deportação dos irregulares e acabar com a prioridade dos imigrantes em matéria de alojamentos bancados pelo estado.

Wilders é um populista que não tem queda por Vladimir Putin, ao contrário de outros da mesma tendência, como Marine Le Pen na França. Simpatizante de Israel, quer transferir a embaixada holandesa para Jerusalém e implantar educação obrigatória sobre o Holocausto para imigrantes. Mas já amenizou o discurso e desistiu de defender a proibição do Corão.

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Um dos quatro partidos da coalizão é o que representa agricultores, revoltados com as exigências ambientais, a burocracia infernal e até a venda obrigatória de terras dedicadas à pecuária ou suinocultura para diminuir a emissão de gases de efeito estufa.

Será uma coalizão única, e provavelmente impossível. Nenhum partido nomeará ministros, nem mesmo o primeiro-ministro. Suas funções serão entregues a “tecnocratas”, encarregados de implementar o programa de governo aprovado pelos quatro partidos da coalizão.

“INTERNACIONAL ULTRADIREITISTA”

Nesse sentido, será uma experiência sem precedentes e muita gente estará vigiando, o que aumenta a expectativa. De certa maneira, é o que acontece com Javier Milei na Argentina, que se transformou numa figura de projeção internacional, para o bem ou para o mal, pelo discurso ultralibertário.

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A ascensão da direita nacionalista tem sido recebida com verdadeira histeria por integrantes do polo político oposto. Em lugar de analisar e entender a motivação do eleitorado, até Elon Musk entra no discurso conspiracionista. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, surtou com o evento do Vox, o partido dessa tendência liderado por Santiago Ascabal, com atrações como Milei e Le Pen. Depois que Milei, equivocadamente, fez uma referência aos que têm “mulher corrupta” – uma acusação que não passou pelo crivo da justiça -, ele chamou a embaixadora em Buenos Aires de volta.

A “internacional ultradiretista” foi à Espanha porque o país “representa tudo o que mais odeiam”, disse Sánchez.

“Estamos incomodando os vermelhinhos em todo o mundo”, provocou Milei ao chegar, antes da crise da “mulher corrupta”, referência a Begoña, a mulher de Sánchez, sob suspeita de tráfico de influência.

Wilders tem mais traquejo político, mas compartilha com Milei o discurso sem filtros e o ego que dificilmente vai permitir uma atuação discreta como a de Giorgia Meloni na Itália. Vai ser um espetáculo interessante de ver – e observar no que vai dar.

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