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Elizabeth Warren: falsa índia, real esquerdista e presidente?

Senadora e professora de direito em Harvard começa a encostar em Joe Biden como potencial candidata democrata para derrotar Trump

Por Vilma Gryzinski 20 ago 2019, 08h09

O Partido Democrata em um problema: um presidente com alto índice de rejeição (embora não absoluto) e retórica incendiária que cansa até partidários seria facilmente derrotado em novembro do ano que vem.

Aliás, todas as pesquisas dizem que será (seguem-se risadas algo céticas).

O problema está nos homens e mulheres que disputam a honra de fazer isso.

O mais cotado, Joe Biden, parece escolhido por eleitores que o consideram realmente capacitado a derrotar Donald Trump, principalmente por ainda passar a imagem de centrista ou menos malucamente esquerdista. 

E mais nada. O índice de entusiasmo é zero, agravado pelos foras, as falhas de memória e a impressão geral de que o candidato de 76 anos está no caminho da senilidade.

Soltando fogo pelas ventas, com uma vontade de brigar que coloca Biden na turma do dominó da praça, Elizabeth Warren, senadora pelo liberalíssimo estado de Massachusetts, está encostando nele em alguns estados.

No que mais interessa no momento, o precursor Iowa, ela deu uma virada: está com 28% das preferências dos eleitores democratas.

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Assim, desbanca tanto Biden quanto Bernie Sanders, que perdeu a aura de novidade que tinha na última eleição e pode perder o segundo lugar. Ambos apareceram com 17%.

Warren passou a mão no discurso de esquerda de Bernie Sanders e dobrou a aposta: seu alvo predileto são os grandes bancos, os gigantes da tecnologia e tudo mais que seja antecedido pelo prefixo mega.

Sinceramente, mesmo sabendo de sua necessidade e importância etc e tal, quem gosta de bancos? 

Ainda mais num país onde a maioria da população vive endividada, pendurada no cartão de crédito, enroscada no financiamento imobiliário e cortejando a falência?

Além de defender propostas perigosamente à esquerda do pensamento dominante dos eleitores, Elizabeth Warren ainda tem um problema de credibilidade.

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Um certo Donald Trump não deixa ninguém esquecer disso.

Pocahontas, Fauxcahontas. Armação, golpe. Mentiras. 

Com a brutalidade habitual, Trump inferniza a senadora que alegava ter antepassados indígenas, Cherokee por parte de pai e Delaware pelo lado materno.

Seria apenas uma memória familiar inocente, parecida com a de brasileiros que dizem “minha avó era índia”, ou “bugre”, ou “caçada no laço”, expressões remanescentes de uma era em que não eram consideradas ofensivas.

O problema é o uso sórdido, por padrões antigos ou atuais, para tirar vantagem. Harvard diz que Elizabeth Warren não se aproveitou da categoria declarada em sua ficha de inscrição para fazer carreira acadêmica.

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Mas por que ela não disse nada quando foi qualificada como a primeira “pessoa de cor” a se tornar professora na universidade?

Por que anotou “americano nativo” no quesito raça num documento oficial?

Sonho de vingança

Não é impossível, nos Estados Unidos ou no Brasil, ter uma mulher loira de olhos azuis e “zigomas pronunciados” – como ela vivia repetindo a título de “prova” – com indígenas entre seus antepassados.

Não é nada impossível ter falsos índios, interessados em tirar vantagem da designação que só pode ser usada por pessoas registradas pelas nações indígenas.

Difícil é imaginar uma professora de direito em Harvard e aspirante a presidente fazendo isso.

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Provocada por Trump, Elizabeth Warren cometeu outro erro: submeteu-se a um teste de DNA. E saiu proclamando que o resultado – probabilidade de  1/64 a 1/1024 de ter ancestrais nativos – confirmava sua alegação.

Só percebeu o tamanho da encrenca depois disso. 

Teve uma reação esperta: passou a pedir desculpas constantes aos nativos de verdade e se aproximou de líderes tribais para se transmutar em defensora de seus direitos.

Elizabeth Warren é de Oklahoma, o estado originalmente chamado de Territórios Índios, com a maior população nativa dos Estados Unidos, mais de 8% dos habitantes.

Tem uma história que não precisaria ser enfeitada. Era de uma família pobre que chegou quase à miséria quando o pai, instalador de carpetes, sofreu um ataque cardíaco. Foi ser garçonete num bar aos 13 anos.

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Com 19, uma típica beldade americana de lábios polpudos e cabelos um pouco mais escuros, casou-se com o namorado da escola. Só foi estudar direito depois de ter dois filhos. 

Hoje ambos casados com “pessoas de cor”. Seus quatro netos mostram a ascendência diversificada, mas Warren felizmente não teve a péssima ideia de usar isso com fins eleitorais. 

Podem apostar que, se continuar se destacando na disputa eleitoral, o fator familiar vai aparecer.

Com 70 anos, casada pela segunda vez com outro professor de direito de Harvard, Betsy, Liz ou Pocahontas faz o estilo Angela Merkel. Nenhuma maquiagem e roupas metodicamente iguais: calça e blusa preta, com um blazer ou cardigan colorido.

Usa os óculos sem armação que acrescentam pelo menos dez anos no RG – se existisse isso nos Estados Unidos – e gritam: professora de faculdade na terceira idade, feminista, de esquerda e muito brava.

Fez um caminho inverso à lógica. Começou na direita republicana e foi indo para a esquerda democrata.

Só não se pode dizer que atingiu o limite por causa da “jovem guarda”, as novas deputadas democratas cujo apoio ela corteja.

Com o encolhimento de Kamala Harris, depois de um momento de brilho no debate com Joe Biden, encarna um sonho de vingança dos antitrumpistas: ser eleita a primeira mulher presidente, já que Hillary Clinton não conseguiu o que parecia tão fácil.

Só precisa tratorar Joe Biden, primeiro, e depois Donald Trump. Que venham os tomahawks.

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