Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Espanha: a esquerda de pernas quebradas adota um tom apocalíptico

Seria apenas uma saudável e natural alternância de poder, mas Pedro Sánchez apelou e falou numa escolha 'entre Lula e Bolsonaro'

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 Maio 2024, 00h06 - Publicado em 5 jun 2023, 08h11

Pedro Sánchez, o primeiro-ministro espanhol, não fez um governo ruim, considerando-se que é de esquerda e traz embutida a receita de desastre econômico de realizar ao pé da letra seu programa.

Mudou a legislação trabalhista, aumentou o salário mínimo, tirou os restos mortais de Franco da igreja erguida para abrigá-los e voltou atrás quando uma legislação ensandecida, em vez de proteger as vítimas de abusos sexuais, ajudou perpetradores já condenados a sair da cadeia. Na economia de 1,4 trilhão de dólares, manteve o padrão da “doença europeia”: crescimento fraco, com perspectivas anêmicas, mas com desemprego sob controle e sem grandes dramas.

Não cometeu nenhuma besteira brava nem comprometeu o excelente padrão de vida da Espanha, um país de dar inveja em inúmeros aspectos, começando pelas ruas limpas e bem cuidadas das cidades e culminando num sistema que concilia monarquia, democracia e regimes autônomos para as regiões onde o separatismo tem muito apelo, mas não consegue se impor. Não fragmentar o país já é uma vitória para qualquer governante, embora a direita critique Sánchez por excessivas concessões, incluindo anistia a separatistas catalães que haviam cometido crimes institucionais.

Sofreu o natural desgaste do poder e seu partido, o PSOE, levou uma sova federal nas eleições municipais e regionais, infligida pelo partido de direita, o Popular. Sánchez, conhecido como guapón, ou bonitão, pelas fãs – e pelos fãs também -, apelou. Antecipou para 23 de julho as eleições gerais que só aconteceriam no fim do ano. É arriscado, mas faz sentido. Depois da pancada nas urnas, governaria de maneira esvaziada, como um pato de uma pata só, até dezembro.

O primeiro-ministro apelou também no discurso, endossando a vertente da hiperpolitização que não combina nada com um político racional e equilibrado como ele. E ainda colocou o Brasil no meio. Acusou o PP e o Vox, o novo partido de direita nacionalista que teria que entrar numa coalizão de governo para dar maioria, de serem de “duas direitas extremas como Trump e Bolsonaro”. E apelou aos eleitores para escolher ficar com que está do “lado de Lula ou do lado de Bolsonaro”.

Continua após a publicidade

Parece que anda meio obcecado. E talvez não tenha recebido a atualização das recentes manobras do presidente citado como bom exemplo, ao abraçar o déspota venezuelano como se fosse um grande estadista, apenas, pobrezinho, prejudicado por não fazer uma narrativa vencedora – aprender palavra nova e usá-la erradamente está deixando a boca torta.

O primeiro-ministro, o PSOE e respeitáveis jornais de esquerda como o El País são coerentes com os princípios democráticos abraçados quando os socialistas desistiram das maluquices revolucionárias do passado e condenam as atrocidades praticadas pelo regime bolivariano na Venezuela.

Ao contrário de seus aliados do Podemos, de extrema esquerda, cujo ex-líder, Pablo Iglesias, trabalhou para Hugo Chávez na Venezuela e foi aquinhoado com aquelas malas recheadas que circulavam entre aliados esquerdistas na época em que os bolivarianos ainda não haviam conseguido escangalhar até com a indústria do petróleo.

Continua após a publicidade

Também apoiam plenamente a causa da Ucrânia, ao contrário dos companheiros cucarachas que não entendem a cabeça dos “sociais-democratas”, nas palavras do amicus maximus do déspota venezuelano.

Pedro Sánchez está nervoso porque as pesquisas não são nada boas: dão 31% dos votos para o PP e 25% para o PSOE, com encolhimento ou desaparecimento, na prática, do Podemos e do Cidadãos, que em certo momento pareceu uma boa alternativa de centro-direita. Só consegue maioria, muito apertada para cravar nesse momento, se a extrema esquerda não rachar, como está acontecendo agora.

A perspectiva da derrota tira qualquer um do sério e abre caminho a bobagens como dizer que agora “cabe esclarecer as coisas e saber o que a sociedade quer”. E se a sociedade quiser fazer uma mudança, através da democrática alternância de poder, da mesma forma que aconteceu quando acabou com dez anos de governo de direita e elegeu o partido dele, em 2018? Ah, aí estará escolhendo a “corrente reacionária” que percorre a Europa – uma referência bobinha ao que deveria ser uma oscilação normal do pêndulo político.

Continua após a publicidade

Comparar a brucutus, que querem destruir “todas as conquistas” de seu governo, os espanhóis que votaram na direita e consagraram figuras ascendentes no cenário político, como Isabel Díaz Ayuso, a governadora da região de Madri, não ajuda Sánchez a ganhar votos, mas este é o discurso dominante hoje até em países que pareciam ter saído da polarização redutora.

Até o maior adversário de Sánchez, o nada carismático Alberto Núñez Feijóo, entrou no ritmo da dança do apocalipse. “Espanha ou Sánchez”, proclamou o líder do PP.

Está errado, da mesma forma que Sánchez. A Espanha é o maior exemplo dos horrores que acontecem quando esquerda e direita se armam e vão à guerra, como aconteceu literalmente em 1936. É por isso que a retórica incendiária de campanha, previsível e até natural em outros países, deve ser mais cautelosa lá.

Continua após a publicidade

Preservar o magnífico patrimônio que o país criou, com a contribuição de todos, ao construir a democracia pós-franquista é um bem tão valioso que deveria estar acima de eventuais dores de cotovelo políticas.

E lembrar que uma derrota nas urnas não significa ser banido, cassado das redes, desmonetizado, exilado, preso ou fuzilado, e sim que temporariamente se fica fora do poder, ajudaria a acalmar os ânimos. Sem colocar, equivocadamente, o país dos outros no meio.

Mais um lembrete: além de ser contra a Ucrânia e a favor do regime venezuelano, o presidente a quem Sánchez considera exemplar quer furar o solo da Amazônia e tirar petróleo, um direito dos brasileiros que deixa os europeus surtados, principalmente a esquerda que adotou o discurso ambientalista como substituto do projeto revolucionário.

Continua após a publicidade

Com exceção da Grã-Bretanha e da Noruega, eles não têm petróleo e não querem que os outros tenham – ou pelo menos que novas explorações sejam feitas. Ah, sim, e a ministra que ia tirar a comida da mesa dos brasileiros, naquela notória campanha do passado, agora está sendo tirada do Ministério do Meio Ambiente.

É isso que dá envolver outros países em assuntos internos sem ter o dossiê completo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.