Está certo Melania Trump faturar com um documentário de bastidores?
A Amazon pagou 40 milhões de dólares para filme que mostra preparativos para ela voltar à Casa Branca como primeira-dama

Todo mundo tem curiosidade sobre Melania Trump, com sua beleza deslumbrante e uma tendência a aparecer cada vez menos ao lado do marido. Ela tem mostrado sua imagem a conta gotas, mas até o fim do ano, os fãs — e os inimigos também, que são muitos — poderão vê-la num documentário feito sobre seus preparativos para voltar à Casa Branca. A Amazon ganhou num leilão o direito sobre a série, pagando 40 milhões de dólares.
Não se sabe quanto irá para Melania, mas não será pouco. Isso naturalmente levanta uma questão importante: é ético que ela ganhe dinheiro em decorrência de um papel público, na condição de mulher do presidente?
Os mais antitrumpistas enxergam até uma teoria conspiracionista: ela “desapareceu” durante a campanha eleitoral justamente para valorizar mais sua imagem. Lançou um livro cheio de fotos e vazio de informações — pelo menos daquelas que todos querem saber — e também promoveu uma linha de decorações natalinas já depois da vitória do marido.
O livro rapidamente chegou ao primeiro lugar na lista dos mais vendidos do New York Times e desencadeou uma série de artigos extremamente críticos.
CONFLITO DE INTERESSES
O Times classificou a compra dos direitos do documentário, a ser exibido em cinemas e no Prime Video em dois ou três episódios, como prova de que o dono da Amazon, Jeff Bezos, está tentando se aproximar de Donald Trump, mesmo sendo dono do mais antitrumpista dos jornais, o The Washington Post. Ele teve a ousadia de se declarar “otimista” em relação ao próximo governo — além de doar 1 milhão de reais para o fundo da posse.
Ninguém do mundo Trump vê qualquer conflito de interesse na venda dos direitos do documentário no qual Melania aparece como produtora executiva. O diretor é uma figura controvertida: Brett Ratner, acusado na época do movimento #MeToo por seis mulheres de assédio sexual e afastado do cinema desde então (nenhum caso teve denúncia oficial ou desdobramentos na Justiça).
Melania não faz declarações políticas, o que diminui o tamanho do problema. Sua atitude mais explícita foi não aceitar o convite de Jill Biden para tomar um chá na Casa Branca e tratar da transição. Disse que já conhece o processo e sabe o que a espera, embora múltiplas fontes tenham dito que ela não vai ficar em tempo integral na residência presidencial.
A filmagem do documentário, com fins lucrativos, é um exemplo praticamente sem precedentes das complicações do papel das primeiras-damas.
PROPORÇÕES BRASILIENSES
Todo mundo quer ver mulheres bem vestidas e apresentadas ao lado dos maridos presidentes, e isso é tratado como um ativo político pelos marqueteiros.
Michelle Obama, por exemplo, tinha sete pessoas só para cuidar de seu guarda-roupa, um dos elementos importantes da sua popularidade — e do marido também. Ela também tinha opiniões políticas fortes, que procurava adequar ao discurso político aceitável. Sendo esta a outra contradição: a opinião pública, embora demande sua presença, se ressente de primeiras-damas exercendo um papel político.
No primeiro governo do marido, Melania Trump tinha um staff de apenas cinco pessoas. Jill Biden terá, até o próximo dia 20, doze funcionários a seu serviço, uma equipe de proporções brasilienses, digamos. Ser mulher do presidente da maior potência da história tem dessas coisas.
Irá o documentário atender à enorme curiosidade que Melania continua a despertar, com seu histórico de modelo de olhos felinos vinda da Eslovênia para acabar casada com um bilionário nova-iorquino que turbinou o roteiro ao ser eleito presidente, contra tantas expectativas, não apenas uma, mas duas vezes?
Só mesmo assistindo para saber. E depois comentar no Face e no Insta, para desgosto dos antitrumpistas, que assistem à aproximação de grande nomes do mundo das big techs do próximo presidente. O que são 40 milhõezinhos nesse processo?