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Está Trump se desviando da aliança automática dos EUA com Israel?

Negociações próprias para libertação de refém americano, visita à Arábia Saudita e encontro com o palestino Abbas são sinais fortes

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 13 Maio 2025, 07h13 - Publicado em 13 Maio 2025, 07h12

Donald Trump é focado em resultados – ninguém duvida disso. Os desdobramentos dessa realidade podem implicar numa mudança tremenda no Oriente Médio, inclusive a pressão para um grande acordo que traga algum tipo de solução para a questão de Gaza e, finalmente, o envolvimento da Arábia Saudita numa normalização com Israel – além de ótimos negócios com os Estados Unidos.

É bom ou ruim para Israel? Provavelmente, e levando em consideração as incontáveis possibilidades de que as coisas deem errado no Oriente Médio, pode ser bom.

No momento, Israel não consegue romper o ciclo que se reproduz sem resultados conclusivos. Gaza é ocupada e reocupada em repetições constantes do mesmo processo, os reféns – agora provavelmente vinte – continuam sequestrados em condições inimagináveis, o prestígio de Israel está na lona por causa do ônus para a população civil, não existe nem de longe uma solução política para o território e a única coisa que se divisa é uma ocupação permanente, com todas as suas complicações.

É aí que entrariam os Estados Unidos, a única força da face da Terra capaz de fazer Israel aceitar um outro tipo de caminho – e, claro, não premiar o Hamas, tanto quanto isso hoje é possível.

‘OBSERVADOR DISTANTE’

Os sinais de que Trump está desprendendo seu governo do alinhamento automático são múltiplos. Começam com as negociações do enviado especial Steve Witkoff com o Hamas, através de um intermediário misterioso, para a libertação de Edan Alexander, o refém com dupla nacionalidade, americana e israelense.

O Hamas possivelmente concordou em soltá-lo por saber que deixaria o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em estado de fúria – além, evidentemente, da abertura com Trump. Por mais que se multipliquem as declarações de que os Estados Unidos não vão abandonar os outros reféns, as negociações paralelas são um golpe duro.

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Com a visita de Trump à Arábia Saudita, sem Jerusalém no roteiro, o papel de Israel deixa de ser o de ator central para se tornar o de um “observador distante”. Esta é a análise, talvez exagerada, do Jerusalem Post, o mesmo jornal onde circulou que Trump reconheceria o Estado palestino em troca da neutralização do Hamas e do reconhecimento saudita de Israel.

Houve inúmeros desmentidos, mas o fato é que Trump vai se reunir em Riad com três personagens que, hoje, pareceriam totalmente improváveis: Mohammad Abbas, o líder da Autoridade Palestina (e alternativa rejeitadíssima por Israel a um acordo em Gaza); o presidente libanês Joseph Aoun, que está demonstrando uma certa capacidade de se afastar do Hezbollah, nem que seja tudo jogo de cena; e um islamista de barba e currículo revolucionário, o sírio Ahmad AL-Sharaa, supostamente convertido ao processo político depois de derrubar o regime de Bashar Assad.

MUDANÇA NA DINÂMICA

Tudo, obviamente, aponta para um grande acordo envolvendo países fundamentais – inclusive para o isolamento do Irã, o que forçaria um entendimento nas atuais conservações com os Estados Unidos sobre seu programa nuclear, outro aspecto que causa profundo mal-estar em Israel.

As articulações do príncipe Mohammed Bin Salman são, obviamente, de uma grande ambição e abrangem desde o interesse em reforçar a proteção americana até justificar à opinião pública a normalização com Israel com uma mudança no jogo na questão palestina.

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Mas, segundo o Post, a mudança é mais ampla. “A insistência saudita na participação de Abbas não é meramente um sinal para o público interno ou um gesto para o mundo árabe em geral. Reflete uma mudança na dinâmica política e de segurança, fatores que não estão funcionando a favor de Israel”.

O líder oposicionista Yair Lapid aproveitou para criticar o primeiro-ministro, mas enumerou fatos incontestáveis: “O governo Trump hoje está agindo sem coordenar nem ouvir Netanyahu. Fizeram um cessar-fogo com o sutis no Iêmen pelas costas dele, estão conduzindo negociações perigosas com o Irã, promovendo um programa nuclear saudita e fazendo acordos sobre reféns só para seus cidadãos.”

ESTRELAS NA MESA

Não seria novidade nenhuma se um presidente americano forçasse a mão para impor sua vontade sobre Israel. O precedente mais conhecido é o do presidente Dwight Eisenhower, o general de cinco estrelas que comandou as forças expedicionárias aliadas na Europa e ficou enfurecido com a malfadada operação conjunta de Grã-Bretanha, França e Israel para tomar o Canal de Suez depois da nacionalização ordenada por Gamal Nasser.

Numa carta histórica a David Ben-Gurion, datada de 7 de novembro de 1956, Ike bateu todas as estrelas na mesa.

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“É nossa opinião, como uma questão da mais alta prioridade, que a paz deveria ser restaurada e tropas estrangeiras, exceto pelas forças das Nações Unidas, retiradas”.

“Não preciso assegurá-lo do profundo interesse que os Estados Unidos têm em seu país, nem lembrar os vários elementos de nossa política de apoio a Israel em tantas maneiras. É nesse contexto que o exorto a cumprir as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas relativas à crise atual e tornar sua decisão conhecida imediatamente.”

É claro que Israel retirou suas forças do Egito.

ABRINDO A PORTA

Segundo o site Times of Israel, o poder de intimidação e de convencimento da maior potência do planeta também foi exercido nas negociações para a libertação de Edan Alexander, feitas através do intermediário não identificado.

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“A pessoa exortou o Hamas a libertar Alexander incondicionalmente, dizendo ao grupo terrorista que o gesto pegaria bem com o governo Trump e potencialmente abriria a porta a Washington coagir Israel a concordar com um acordo que acabe com a guerra em Gaza em troca dos reféns remanescentes – uma troca que Benjamin Netanyahu rejeitou até agora sob o argumento que deixaria o Hamas no poder”, disse o site.

Isso é verdade e, se Trump realmente tem um plano, ainda precisam ser conhecidos os detalhes das inúmeras complexidades envolvidas. Trump, obviamente, não pode permitir isso e mesmo que aceitasse a solução de colocar a Autoridade Palestina no comando de Gaza, o que faria com o Hamas e como garantiria que, de novo, não dizimasse os odiados rivais palestinos?

São questões sem respostas fáceis – ou até sem resposta alguma. Mas alguém tem que tentar respondê-las.

O suplício de Edan Alexander, torturado e mantido acorrentado numa jaula durante uma parte de seu cativeiro, ilustra o tipo de organização que é o Hamas e como a proposta de “neutralização” não cairá do céu.

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