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Família real: amiga da falecida rainha realmente fez perguntas racistas?

Num momento ruim, em que Harry e Meghan vão causar mais escândalos, o caso da dama de companhia de Elizabeth II prejudica toda a família

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2022, 10h07 - Publicado em 5 dez 2022, 06h58
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  • Pelo relato de Ngozi Fulani, confirmado por testemunhas, Susan Hussey fez o oposto do que passou os últimos sessenta anos fazendo: perguntas insistentes sobre de onde ela “realmente” era.

    O teor das perguntas dá a entender que Susan Hussey, de 83 anos, achava que Ngozi Fulani, por ser negra e se vestir de maneira diferente, não poderia ser britânica.

    “De que lugar da África você é?”, insistiu.

    Ngozi era uma das convidadas para a primeira recepção dada pela nova rainha consorte, Camilla, focada no combate à violência doméstica. Ela usava um vestido tipo túnica com estampa de onça, bijuterias africanas e longos dreadlocks. Nada que cause sequer um segundo lugar em Hackney, o bairro de Londres onde tem um serviço para mulheres negras vítimas de violência doméstica

    Mas também nada que espantasse Susan Hussey, que durante sessenta anos acompanhou com a rainha Elizabeth II, de quem se tornou amiga íntima, em viagens e compromissos por lugares exóticos, aos olhos de uma inglesa, filha de conde, casada com Marmaduke Hussey, contemplado com o título de barão.

    O casal é retratado na última temporada da série The Crown: ela pedindo ao marido, presidente do conselho da BBC, que a emissora fizesse alguma coisa positiva para animar a rainha, desconsolada com os problemas conjugais dos filhos. Na realidade, a BBC estava produzindo em segredo a escandalosa entrevista com a princesa Diana, obtida com base em documentos inteiramente falsificados pelo jornalista Martin Bashir.

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    Susan Hussey se tornou íntima da rainha e da família real como dama de companhia, uma tradição que remonta à idade média de cercar a monarca – seja reinante ou consorte –  por mulheres da aristocracia. Com a morte de Elizabeth, ela perdeu o posto, voluntário e não remunerado. 

    Para não parecer que estava simplesmente dispensando os serviços de uma mulher de 83 anos (e um pouco surda, alegou um colunista, para tentar justificar as perguntas repetidamente ofensivas), o novo rei, Charles, que a estimava a ponto de incluí-la na lista de madrinhas do herdeiro, William, colocou-a, com outras veteranas do ramo, como voluntária para colaborar em recepções no palácio de Buckingham.

    Na primeira dessas recepções, aconteceu o desastre. Ngozi Fulani, cuja família é de origem caribenha e mudou o nome original, Marlene Headley, postou no dia seguinte o relato devastador. O palácio foi rápido em reagir, anunciando que a octogenária havia pedido demissão pelo comportamento “inadmissível”.

    Susan Hussey, que se tornou um clone da rainha, eternamente de chapéu, colar de pérolas, broche no ombro esquerdo, luvas e bolsa preta, circulando entre convidados das recepções reais com conversas amáveis, para deixá-los mais à vontade, realmente cometeu um ato deliberado de racismo? Estaria já afetada pela idade? A interlocutora exagerou, ou até gravou, a conversa para comprometê-la?

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    Em qualquer hipótese, criou um problema tremendo para Charles e toda a família real, à véspera da viagem dos novos príncipes de Gales, William e Kate, aos Estados Unidos. O glamour de Kate, faiscando com um colar de esmeraldas que foi da princesa Diana, abrandou as reações, mas mais percalços estão desenhados no horizonte.

    Nessa quinta-feira, começa o documentário serializado feito pela Netflix sobre o príncipe Harry e Meghan Markle. Famosamente, eles acusaram um membro não identificado da família real de racismo por especular sobre qual seria o tom de pele do primeiro filho do casal, ainda não nascido (o menino é ruivo como o pai).

    Harry e Meghan, com todos os privilégios que têm, procuram se passar por vítimas, uma das formas mais fáceis de conquistar simpatia em sociedades nas quais a saudável disposição a combater discriminações pode se transformar num instrumento para acusar críticos de racismo, sexismo e mais uma longa lista de males.

    Os dois não vão parar: livros, séries e podcasts só são altamente lucrativos por causa da posição única que ocupam, Harry como o segundo filho do rei e da inesquecível Diana – o “estepe”, titulo da autobiografia que lança em janeiro próximo -, Meghan como a atriz americana por quem o príncipe se apaixonou.

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    “Apaixonado até um pouco demais”, disse certa vez, de brincadeira, a rainha Elizabeth, segundo o autor de um novo livro sobre ela, Gyles Brandreth.

    A rainha estava prestes a ficar viúva e já sabia que sofria de mieloma, um câncer nos ossos, diz Brandreth, quando a entrevista escandalosa de Harry e Meghan foi ao ar.

    Quando o marido, Philip, morreu, Elizabeth escolheu Susan Hussey como acompanhante no trajeto até a igreja onde foi feito o serviço religioso de corpo presente.

    Ngozi Fulani disse, no passado, que Meghan tinha sofrido violência doméstica por parte da família do marido e afirmou que era por racismo o fato de que ela e Harry foram excluídos de aparecer na sacada do Palácio de Buckingham na festa dos setenta anos de reinado de Elizabeth.

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    Agora, Charles e Camilla convidaram Ngozi para conversar com eles sobre o episódio, um modo de se mostrarem antenados com o espírito reinante na era “woke” – e uma ruptura com o lema seguido ao pé da letra por Elizabeth toda sua vida: “Never complain, never explain”.

    Não reclamar e não dar explicações é tudo que a sociedade atual não faz.

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