A esquerda está cheia de falsos democratas e agora o presidente colombiano, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, entrou oficialmente para a lista.
Foi execrável o que fez com Juan Guaidó ao forçar o embarque do líder oposicionista venezuelano num avião para Miami por ter entrado no país, atravessando a fronteira a pé, para tentar ser ouvido no que Petro considera uma jogada brilhante, uma conferência para a pacificação da Venezuela.
Tudo, obviamente, mentira: Petro adora o regime chavista e quer abrir caminho para uma regeneração diplomática de Nicolás Maduro e companhia.
A presença de Guaidó atrapalharia a conferência internacional? Claro que não. Atrapalharia os planos de Petro para parecer um mestre conciliador e não mais do que isso. Agora, o ex-guerrilheiro parece um líder autoritário ao corte latino-americano. E acabou fazendo o que o regime de Maduro não tinha conseguido: jogar Guaidó na vala comum dos oposicionistas que vão para Miami e acabam perdendo o, digamos, lugar de fala na Venezuela.
Elogiável pela coragem, Guaidó perdeu há tempo a aura de político que seria capaz de liderar uma virada de jogo contra a ditadura venezuelana quando foi eleito presidente por congressistas rebeldes.
Não funcionou, apesar do apoio dos Estados Unidos e dos governos de direita na época predominantes na América do Sul. Resumindo, Guaidó perdeu, Maduro ganhou. O confronto era desequlibradíssimo, com o regime tendo atingido há muito tempo o ponto de não retorno, com o controle sobre todos os mecanismos do poder, inclusive as Forças Armadas, cooptadas para o crime, e a chave dos muitos cofres.
Apesar do esforço para se apresentar como o salvador da pátria que quer liberar a cocaína e proibir o petróleo, Petro está perdendo popularidade, numa espécie de síndrome de arrependimento do consumidor: os eleitores votam em candidatos de esquerda e, quase imediatamente, se arrependem. Está acontecendo com Gabriel Boric no Chile, onde o jovem presidente acabou de estatizar a exploração do lítio, um enorme recurso em potencial do país, como se fosse uma versão bonitinha de Salvador Allende.
Adivinhem o que vai acontecer com o lítio, elemento estratégico para as baterias que movem a economia verde? Alguém acha que vai ser um sucesso? Só na realidade paralela.
E adivinhem o que está acontecendo com a economia comandada por Gustavo Petro, que tem um índice de aprovação de 34%? Dando certo? Claro que não.
A popularidade do presidente, ex-combatente armado do grupo M-19, também está sendo prejudicada por outra síndrome latino-americana, a de enriquecimento súbito de filhos de mandatários.
No caso de Nicolás Petro, que é deputado, tem uma ex-mulher revoltada e disposta a falar. Daisurys Vásquez diz que o primeiro filho arrecadou contribuições de campanha de elementos do mundo do crime e as desviou para uso próprio. Ou seja, passou a perna no próprio pai.
A ex apresenta textos e áudios de WhatsApp para bancar as acusações. “Lembrem-se de que tenho provas de tudo! Até do que NÃO imaginam”, ameaça. Será ouvida depois de amanhã no processo aberto na justiça.
É triste ver líderes de esquerda queimando seu capital eleitoral e repetindo erros que já foram tão tragicamente cometidos antes por seus pares ideológicos, sem conseguir tirar nenhuma lição deles. Argentina, Chile, Bolívia e Colômbia estão todos em diferentes níveis de regressão econômica e desgaste político profundo.
Petro já se meteu na taxa de juros e na cotação do dólar, aprovou uma reforma tributária que aumenta impostos e volta e meia insinua cancelar os contratos de exploração de petróleo e gás, grandes fontes de divisas para a Colômbia. E ainda passou por esquerdista deslumbrado com a revelação da compra de roupas de cama e mesa para a residência oficial em valor equivalente a 17,5 mil dólares. Nossa, devem ser horrível etc etc.
A expulsão de Guaidó manchou a conferência internacional convocada por Petro. O líder oposicionista disse que sua família e seus colaboradores estão sofrendo ameaças na Venezuela. “Lamentavelmente, hoje também tenho que dizer que essa perseguição também foi sentida na Colômbia de alguma maneira”, disse, finíssimo como sempre.
Fineza, por mais que seja elogiável, obviamente não é uma boa arma num embate com Maduro e companhia, ao qual se somou agora o presidente da Colômbia, com mão pesada e implacável para os democratas e salamaleques para os ditadores.