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Israel e Síria: a religião secreta que está no centro de um novo conflito

Perseguidos por islamistas sírios, drusos arrastam forças israelenses a bombardear posições no país vizinho e criar novo foco de instabilidade

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 17 jul 2025, 08h25 - Publicado em 17 jul 2025, 06h42

Nada como o Oriente Médio para produzir acontecimentos complicados e, como acontece agora, inesperados. A nova área de conflagração envolve árabes inimigos, do lado de Israel e da Síria, pertencentes a uma religião peculiar e esotérica, os drusos., e os islamistas que até recentemente eram chefiados pelo novo presidente, Ahmed Al-Shara.

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Os drusos estão revoltados e clamando pela intervenção de Israel, que já bombardeou até Damasco para tentar conter tanto os atacantes quanto os aliados drusos. Movidos pelas inflexíveis leis tribais, drusos israelenses atravessaram a fronteira para tentar proteger os correligionários perseguidos. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apelou aos “irmãos drusos” para não fazer isso. Usou termos dramáticos:”Vocês estão arriscando suas vidas, podem ser mortos, podem ser sequestrados e estão atrapalhando os esforços das Forças de Defesa de Israel”.

“Confiem que as FDI protegerão seus irmãos na Síria”.

Ou seja, Netanyahu comprometeu Israel na defesa de cidadãos de outro país, uma complicação adicional num país já envolvido com uma guerra em Gaza, um cessar-fogo precário com o Hezbollah no Líbano e um Irã que certamente planeja se vingar das humilhações sofridas na “guerra dos doze dias”.

BARBAS RASPADAS

A conflagração é nova, mas o conflito é antigo. Os drusos são historicamente perseguidos em países muçulmanos por causa das crenças sincréticas, envolvendo elementos das grandes religiões monoteístas, gnosticismo e esoterismo. São proibidos de revelar qualquer coisa sobre elas e vão sendo iniciados aos poucos. Aos quarenta anos, os homens decidem se querem continuar no caminho religioso, onde terão acesso a conhecimentos secretos de mais alto nível, ou vão levar uma vida secular.

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Por causa das perseguições, eles migraram ao longo dos séculos para regiões isoladas, nas montanhas do Líbano, da Síria e do que hoje é Israel. Também passaram a seguir um princípio inflexível: seriam leais aos governantes dos países onde vivem, fossem quais fossem suas tendências, em troca da liberdade de praticar sua religião – e hastear sua bandeira multicolorida.

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Por causa disso, os drusos têm em Israel movimentos contraditórios. Os que são cidadãos israelenses a partir da fundação do país, servem o exército e participam das instituições do Estado. Um dos drusos mais conhecidos no país é o general Ghassan Alian.

Mas os membros da seita que vivem na região das montanhas de Golã, tomada da Síria na guerra de 1967, continuaram leais ao regime dos Assad, pai e filho. Por causa dessa aliança de conveniência, foram alvo de um massacre terrível desfechado pelo Estado Islâmico, com moradores indefesos fuzilados dentro de suas casas. A mesma cidadezinha, Suweida, voltou a ser atacada na atual onda de confrontos – com o agravante de que agora circulam os vídeos de execuções e humilhações, como raspar a barba de homens subjugados, aumentando a revolta.

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‘AL QAEDA DE TERNO E GRAVATA’

O ataque expôs a situação de duplicidade do novo presidente sírio, que há apenas alguns meses chefiava os rebeldes islamistas. Ele tenta provar que não é mais radical, passou a usar terno e gravata e foi até recebido com simpatia pelo presidente Donald Trump. Na vida real, sua turma massacra cruelmente minorias que foram aliadas do regime derrubado, por falta de opção, como os alauítas, cristãos e agora os drusos.

A derrubada do regime Assad foi uma surpresa: com o apoio do Irã e da Rússia, ele havia conseguido sobreviver contra todas as expectativas, considerando-se que leais mesmo, sós os alauítas, outra minoria religiosa. A maioria dos sírios é do ramo majoritário do Islã, o sunita.

Israel aproveitou o desmanche do regime para destruir posições militares e sistemas de defesa antiaérea fornecidos pela Rússia – o que deixou os céus livres para o ataque contra as instalações nucleares do Irã.

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As forças do novo regime não têm como enfrentar um exército profissional como o israelense, que bombardeou até o QG do Exército, em cena mostrada ao vivo na televisão, quando uma apresentadora é surpreendida por edifícios explodindo ao fundo da tela. Precisam apelar a aliados sunitas, como a Arábia Saudita e países do Golfo para interferir junto aos Estados Unidos. O governo Trump deu ouvidos e pediu a Israel para parar de atacar a Síria; também conseguiram a promessa de saída das forças do governo de Suweida. Mas são grandes os riscos de que a situação escape ao controle, com apelos antagônicos, como a promessa de Israel de manter o “pacto de sangue” com os drusos levando a uma nova frente de conflagração.

Sem contar seus próprios cabeças quentes. O ministro da Diáspora, Amichai Chikli, que vive falando mais do que o necessário, usou termos fortíssimos: “Não podemos ficar de braços cruzados diante do regime nazi-islamista da Al Qaeda de terno e gravata. Qualquer um que pensar que Ahmad Al-Shara é um líder legítimo está gravemente enganado – ele é um terrorista, um assassino bárbaro que deveria ser eliminado sem demora”.

Não são palavras tranquilizadoras. Enquanto isso, a possibilidade de uma normalização entre Israel e Síria – ou até um reconhecimento diplomático, na hipótese ambiciosa de expansão dos Acordos de Abraão – vai virando fumaça.

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