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Mais apoio de negros e latinos: voto de minorias pode eleger Trump?

Democratas se preocupam com a tendência de alta do republicano em setores do eleitorado que sempre deram por garantidos

Por Vilma Gryzinski 28 out 2024, 06h41
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  • O presidente americano já pode estar eleito – mas nós ainda não sabemos quem ganhou. Os votos antecipados em alguns estados passam de 50%, o suficiente para que o resultado final não possa mais ser alterado. Nesse cômputo, pesaram ou pesarão muito o voto de minorias como negros e latinos, que os americanos chamam de hispânicos. Tendo sido sempre considerados eleitores garantidos do Partido Democrata, cidadãos desses segmentos fizeram, em proporções variadas, uma transição sem precedentes na direção de Donald Trump.

    Uma pesquisa do USA Today delineou surpresas ruins para a campanha de Kamala Harris. Diz ela: os eleitores hispânicos hoje favorecem Trump na proporção de 49%, contra 38%. Entre o eleitorado negro, Kamala tem 72%, contra 17% para Trump.

    Entre os eleitores homens na faixa dos 18 aos 40 anos, a proporção é maior ainda: uma pesquisa feita para a Universidade de Chicago mostra que 26% pretendem votar em Trump. É o pior resultado dos democratas na história recente. Em 2020, Joe Biden teve 90% do voto negro.

    Como é possível que Kamala, filha de pai jamaicano, seja a candidata democrata com resultado menos positivos entre o eleitorado negro?

    Barack Obama tentou, equivocadamente, dizer que os homens negros que não queriam votar nela estavam sendo machistas. Pegou muito mal. É o tipo de estereótipo que normalmente não se espera do primeiro presidente negro da história, um homem inteligente e sofisticado, embora esteja sendo um ex-presidente apagado e dê foras quando decide influir no debate.

    É como se tivesse dito que os negros devem ter todos a mesma opinião, uma atitude discriminatória. Kamala não ajudou ao incluir a descriminalização da maconha num conjunto de propostas dirigidas ao público negro.

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    BOM DE BRIGA

    O estrago que a inflação fez nos rendimentos dos americanos é a mesma para negros, brancos ou azuis – e votar com o bolso é uma tendência universal.

    Há também, em determinados setores, numa proporção impossível de quantificar, uma influência cultural: quando Trump se levantou de punho erguido da primeira tentativa de assassinato, firmou a reputação de “bad ass”, um conceito que pode ser definido em português, em termos publicáveis, como alguém bom de briga. Conta pontos a favor num líder político por que o arquétipo comum é que seja alguém capaz de brigar por você.

    Há outras pesquisas mostrando uma virada menor em relação a Trump. A do New York Times/Siena dá 81% a 12% para Kamala Harris entre o eleitorado negro e 52% a 42% no voto hispânico.

    Entre os brancos, Trump ganha por 54% a 43%. Homens: 55% a 41% para Trump. Mulheres: 54% a 42% para Kamala. Quem ganha mais de 100 mil dólares por ano, se inclina por Kamala. Abaixo dos 50 mil dólares – equivalente a uma vida boa, mas apertada, para uma família americana -, o pessoal prefere Trump. Ter atraído as classes mais pobres é um dos trunfos de Trump, invertendo toda uma história política na qual os menos favorecidos se identificavam com o Partido Democrata.

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    CAUSAS IDENTITÁRIAS

    Na Flórida, que é o domicílio de Trump, ele está com 58% dos votos latinos, um feito sem precedentes. Normalmente, só os cubanos e descendentes davam maioria aos republicanos, considerados mais hostis à insanidade comunista que atualmente mantém a ilha esfomeada e no escuro.

    Muitas coisas mudaram nos Estados Unidos. Entre elas, a percepção de que o Partido Democrata virou o partido das causas identitárias, mais conectado com modismos do mundo universitário do que com a vida real, além de flagrantes exageros como a entrevista antiga em que Kamala Harris diz que é a favor de cirurgias de mudança de sexo pagas pelo governo para presos condenados e imigrantes ilegais.

    Uma parte dos hispânicos também têm a memória do fracasso de governos esquerdistas em países latino-americanos com os quais são relacionados. Em estados com uma população latina mais ligada ao México, como o Arizona, os democratas continuam preponderantes, com Kamala tendo 52% das preferências contra 35% para Trump.

    As oscilações refletem grandes movimentos, como a imigração em massa – calculada em estarrecedores dez milhões de pessoais no governo Biden – e seus efeitos sobre a opinião pública. Muitos latinos, mesmo sendo descendentes de imigrantes que entraram ilegalmente no país, consideram a situação atual é insustentável. Não é preciso pertencer a nenhuma tendência política ou grupo étnico para ver isso.

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    Num cálculo feito pela Federação pela Reforma na Imigração Americana, o custo da entrada em massa de pessoas que são redistribuídas pelo país foi de 150 bilhões de dólares em 2023. Do total, 67 bilhões vieram do governo federal e o restante de estados e municípios, muitos deles sem condições de administrar a enorme sobrecarga para os serviços como escolas e hospitais. O excesso prejudica brancos, negros, latinos e todas as demais camadas da população.

    TERREMOTO NA MÍDIA

    A imprevisibilidade do resultado da eleição presidencial tem provocado reações inesperadas. Até um suposto “êxodo” de Washigton, a capital que é quase 100% democrata, por quem não quer ter o desgosto de estar na cidade no dia de uma presumida vitória de Trump.

    Dois jornais da grande imprensa que sempre estiveram na vanguarda dos ataques a ele – e nem sempre com base nos fatos – agitaram a mídia com a decisão de seus donos de não publicar editoriais, que já estavam escritos, apoiando Kamala Harris.

    O dono do Los Angeles Times é Patrick Soon-Shiong, magnata da biotecnologia que é filho de chineses emigrados para a África do Sul. Ele teve a ousadia de propor um editorial enumerando as vantagens e desvantagens dos dois candidatos. Três jornalistas pediram demissão.

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    O Washington Post é, famosamente, de Jeff Bezos. Depois de passar anos bancando reportagens contra Trump, nem sempre comprovadas, como as que o colocavam na categoria de agente russo, Bezos decidiu que o jornal não faria um editorial de apoio a Kamala. Foi um terremoto no mundo da mídia, com mais demissões e denúncias. Badalado quando o Post fazia intensa campanha contra Trump, Bezos voltou a ser colocado nas hostes das forças do mal.

    No mundo das pessoas normais, os eleitores não precisam se pautar por editorais considerados por seus autores como a coisa mais importante do universo. Não serão os editoriais que elegerão Kamala Harris ou Donald Trump. Ou elegeram – caso a decisão já seja irreversível através do voto antecipado.

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