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Mais de 240 mil mortos e feridos: é hora de discutir a paz na Ucrânia?

Com a Rússia numa posição ruim e mais de 100 mil baixas, segundo general americano, voltam a flutuar sondagens sobre negociações

Por Vilma Gryzinski 11 nov 2022, 08h14

Retiradas não ganham guerras, resumiu Winston Churchill depois de seu discurso mais famoso e do eternamente heroico esforço nacional para tirar as tropas britânicas ilhadas na França pelo avanço das forças nazistas.

E o que a Rússia está fazendo é uma retirada da cidade de Kherson, a única capital regional ucraniana que conquistou no início da invasão.

Não há o menor indício de que Moscou considere as perdas sofridas, e agora o recuo humilhante, um motivo para repensar a invasão da Ucrânia.

Mas o governo americano começou há plantar que este pode ser o momento certo para abrir negociações.

As perdas foram avaliadas pela fonte mais autorizada possível, o chefe do estado-maior das Forças Armadas americanas, general Mark Milley. Suas palavras têm um peso especial: ele não pode manipular números como fazem os serviços de informações.

“Estamos falando de mais de 100 mil soldados russos mortos e feridos”, disse o general numa palestra em Nova York. “É o mesmo provavelmente para os ucranianos”.

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Fora mais 40 mil vítimas entre a população civil.

Temos assim um total de 240 mil mortos e feridos dos dois lados. É um balanço terrível de uma guerra que não tem nenhuma justificativa.

Os números também retratam a força da resistência ucraniana – abastecida pelos armamentos que Estados Unidos e outros aliados fornecem.

A mistura de sentimento de defesa da própria terra e armas modernas criou uma situação que os russos ainda não sabem como resolver. O dilema mais recente é a saída das tropas russas de Kherson.

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É uma retirada para valer ou uma armadilha? Ninguém ainda pode cravar uma resposta. Mas o fato é que Vladimir Putin obrigou os responsáveis pela defesa de Kherson a uma humilhante encenação diante das câmeras.

Sergei Surovikin, o novo comandante das forças invasoras que chegou com fama de fazer e acontecer, apelidado de “general Armagedon”, parecia um carneirinho constrangido ao “propor” a retirada para a margem oriental do rio Dnipro. O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, fantasiado de general – nunca integrou as Forças Armadas -, deu ordem para a retirada.

Seria este um bom momento para tentar abrir um ainda altamente hipotético processo de negociações?

O general Milley acha que sim.

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“Precisa haver um reconhecimento mútuo de que a vitória pode não ser atingida através dos meios militares e, portanto, é preciso recorrer a outros meios.”

Com 18 bilhões de dólares já entregues à Ucrânia, entre ajuda militar e em dinheiro mesmo, para manter o país funcionando, os Estados Unidos têm a palavra final. Já fizeram o presidente Volodimir Zelenski abrir mão de uma das pré-condições para negociar com os russos: que Vladimir Putin não estivesse mais no comando da Rússia.

É uma condição, obviamente, impossível – embora compreensível pelo nível das atrocidades cometidas pelos russos.

Ontem, Zelenski deu mais um sinal da pressão americana, concentrada na preparação da reunião do G20. A Ucrânia tem que “fazer tudo, no campo de batalha e na diplomacia” para recuperar seus territórios.

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Proporcionalmente, a Ucrânia está pagando um preço muito mais alto do que os russos na moeda mais preciosa que existe, vidas humanas. Cem mil baixas, segundo o cálculo do general Milley, fora as 40 mil vítimas civis, pesam mais para uma população de 43 milhões, como a ucraniana, do que para os 146 milhões de russos. Sem contar a destruição material.

Se existisse justiça, segundo os mais elementares princípios do direito natural, a Rússia teria que se retirar dos territórios invadidos, pagar indenização pelos danos materiais e entregar os acusados de crimes de guerra.

Infelizmente, isso não vai acontecer. Pior: quanto mais os russos sofrem humilhações como a retirada de Kherson, mais aumentam as probabilidades de que o Kremlin aumente as brutalidades cometidas contra os ucranianos, esperando dobrar o país com a destruição de sua infraestrutura, vulnerável aos mísseis de longo alcance, a maior vantagem militar dos invasores.

Mas bombardeios, sozinhos, não ganham guerras. Estaria a Rússia de Putin em algum lugar próximo de reconhecer que “a vitória não pode ser atingida através dos meios militares”.

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Há analistas que acham que seria o suicídio político de Putin.

Por enquanto, só é possível prever que os cemitérios vão continuar aumentando.

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