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Mulheres forçadas a desfilar nuas e fuziladas: as regras do Oriente Médio

Massacre na Síria é uma lembrança brutal de que ainda impera a lei do olho por olho e a vingança é prática comum de países tribais

Por Vilma Gryzinski 11 mar 2025, 06h36

“Eles bem que mereceram”. Esta é a verdadeira reação não divulgada de muitos sírios que não pertencem à minoria religiosa dos alauítas. O presidente interino – tomou o poder na ponta do fuzil – Ahmed Al-Shara pode ter fingido uma condenação, condizente com o horror do mundo exterior ao ver cerca de 1,3 mil pessoas fuziladas, incluindo crianças e mulheres obrigadas a desfilar nuas antes da execução, mas a verdade é que a violência em Latakia, Tartus e outras cidades onde os alauítas têm uma presença maior não foi uma reação isolada e descontrolada de “milícias” não controladas pelo novo regime.

Tudo obedece à lógica tribal: os alauítas são a seita do presidente Bashar Al Assad, que, tipicamente, os largou à própria sorte e fugiu para Moscou quando uma ofensiva de rebeldes islamistas conseguiu chegar a Damasco em apenas dez dias, no fim do ano passado. De acordo com a mentalidade tribal, Assad aparelhou as forças repressivas com sua própria turma.

Quando a sorte mudou de lado, os que não conseguiram fugir do país, fossem militares responsáveis por crimes hediondos, fossem civis inocentes, tornaram-se alvo de perseguições. Os episódios de extrema violência dos últimos dias foram desencadeados por um ataque de militares alauítas não desmobilizados contra forças dos novos donos do poder. Daí o “eles bem que mereceram”.

A repressão, como sempre, foi muito além dos combatentes armados e atingiu predominantemente civis não envolvidos na resistência.

DÉSPOTAS SANGUINÁRIOS

É a lei do olho por olho, dente por dente levada ao extremo. Ou, como chamou o jornalista Thomas Friedman, “as regras de Hama”. Quando era correspondente no Líbano, em 1982, ele conseguiu entrar na Síria para ver como havia sido barbaramente reprimida uma rebelião inspirada pela Irmandade Muçulmana, um movimento islamista de muçulmanos sunitas.

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O manda-chuva na época era Hafez Assad, o pai de Bashar, que havia liderado o único golpe do mundo dado por integrantes da Força Aérea, justamente por nessa arma se concentravam oficiais alauítas, uma seita minoritária e esotérica, com vários elementos da vertente xiita do Islã e outros únicos.

Depois de dominar a rebelião, Hafez Assad mandou demolir bairros inteiros de Hama, soterrando cerca de 20 mil pessoas. Máquinas de terraplanagem compactaram o que havia sobrado. Tudo ficou parecendo um enorme estacionamento. Friedman concebeu ali na cidade de mesmo nome a ideia das “regras de Hama”: inspirar tanto terror, pela extensão da repressão, que ninguém nunca, jamais pensaria outra vez em se rebelar.

Nada de novo, obviamente. O reinado do terror é comum, e até esperado, em países onde conceitos de direitos individuais, livre exercício da crítica, liberdade de pensamento e de religião e alternância no poder nunca existiram ou, no máximo, criaram uma finíssima casquinha de modernidade. Justamente alguns dos ditadores mais antenados na modernização, como o próprio Hafez Assad e o iraquiano Saddam Hussein, ambos originários do Partido Baas, socialista e nacionalista na origem, formaram entre os déspotas mais sanguinários.

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CORTINA DE FUMAÇA

Quando começou a nova rebelião na Síria, inspirada pela Primavera Árabe, muitos acharam que Bashar Assad não teria a mesma mão implacável do pai. Pois ele se revelou mais brutal ainda: apelou ao Irã, que na condição de regime xiita tem entre seus principais inimigos os islamistas sunitas, e fez um acordo com a Rússia. Conseguiu sobreviver durante dez anos, um espanto, considerando-se que 70% da população da Síria é sunita. A guerra civil deixou um número calculado em 600 mil mortos e milhões de refugiados.

Agora, muitos sírios pensam na vingança, apesar das múltiplas declarações em nome da unidade nacional acima das divisões sectárias. Tudo cortina de fumaça. Os alauítas serão repetidamente perseguidos e não é muito melhor a situação das múltiplas confissões cristãs. Em nome da sobrevivência, minorias cristãs se colocaram sob a proteção dos Assad. Já estão pagando um preço desde que rebeldes islamistas tomaram áreas do interior da Síria e agora que comandam todo o país, a situação fica mais premente. Os novos donos do poder procuram apresentar uma face civilizada e até nacionalista – um conceito rejeitado pelos princípios islamistas.

Ahmed Al-Shara trocou a túnica tradicional pelo terno e gravata, usados até com camisa preta, uma combinação algo mafiosa. Tem o apoio da Turquia e de países do Golfo e talvez até uma “mentoria” para passar uma imagem aceitável. Quer se apresentar como um governante legítimo que prega a conciliação e algum dia, talvez, quem sabe, convoque eleições. Pura encenação. Continuam valendo as “regras de Hama”, talvez apenas rebatizadas de “regras de Latakia”. Obrigar mulheres a se despir para a humilhação final antes da morte faz parte delas.

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