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Nem Cristo escapa: militante derrubaria estátuas “brancas”

Para aparecer numa hora de tanta concorrência, ativista do Black Lives Matter diz que imagens do “Jesus europeu” é forma de supremacia branca

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 24 jun 2020, 11h53 - Publicado em 24 jun 2020, 05h30

“Sim, acho que as estátuas do europeu branco que alegam ser de Jesus também deveriam vir abaixo”.

“Na Bíblia, quando a família de Jesus quis se esconder, se misturar na multidão, adivinhe para onde foi? Para o Egito, não para a Dinamarca”.

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Shaun King, o autor das tuitadas provocadoras, tem uma obsessão por tons de pele. 

Sua mãe e seu pai dizem que ele é branco, mas King ganhou notoriedade como militante do Black Lives Matter. 

Usa até um bigodinho fino parecido com o de seu xará muitíssimo mais famoso, Martin Luther King, além de óculos e cabelos à la Malcolm X.

O King atual diz que seu pai biológico era “um negro de pele clara” com quem a mãe teve um relacionamento.

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Quando alguém põe a mãe no meio, voluntariamente, a coisa está feia.

Sem falar em envolver Jesus na atual onda de estátuas derrubadas nos Estados Unidos, num furor iconoclasta que levou Donald Trump a ameaçar invocar a justiça federal e criar uma pena de 10 anos de prisão quem continuar a praticar o vandalismo.

Quando George Washington é tombado e urinado, Cristovão Colombo decapitado e nem o general Ulysses Grant, o comandante das forças unionistas que derrotaram os estados confederados sublevados para manter a escravidão escapa, a coisa está pavorosa.

Também não está fácil se destacar em meio à fenomenal competição de ignorância.

Shaun King, que já tentou fazer um jornal, um site e uma app, tudo sem resultados, agora evocou o santo nome de Cristo.

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É uma forma garantida de ganhar manchetes e cliques.

“Todos os murais e vitrais do Jesus branco e sua mãe europeia e seus amigos brancos devem vir abaixo. São um instrumento da supremacia branca”, tuitou.

“Recebi umas vinte ameaças de morte nas últimas doze horas”, exultou depois, tendo atingido o objetivo de causar.

Todo mundo sabe que as representações de Cristo são uma projeção dos traços dos fieis nos países de origem, incluindo as imagens com feições indígenas e orientais, adaptadas principalmente pelos jesuítas quando eram os soldados da linha de frente da evangelização.

Com o catolicismo em refluxo, até evangelizar saiu de moda e acabou, na prática, proibido. O papa atual, o jesuíta Francisco, tem uma tendência a preferir a Pachamama.

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Sobrou, pelo menos por enquanto, o fenomenal legado artístico da Europa cristã. 

Ninguém arriscaria cravar qual o Cristo mais impressionante de um patrimônio que abarca todos os grandes nomes da história da arte.

E não são todos loiros de olhos azuis como exagera Shaun King. 

Entre os menos loiros estão os de Caravaggio.

Feio, encrenqueiro, briguento, caluniador e desde criança órfão de pais levados pela peste, tendo morrido do exílio aos mal vividos 38 anos pelo assassinato de um homem em baderna de rua, o pintor deixou uma dramática coleção de Cristos.

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Em seus quadros, o divino e o humano saltam da tela, com os corpos barrocamente retorcidos banhados pela iluminação cinematográfica.

A brancura é mais a antecipação da morte, na série da Via Crucis, do que uma representação racial.

E os personagens que cercam Jesus definitivamente não tomariam café num balcão do Alabama na época da segregação racial no Sul dos Estados Unidos.

Caravaggio, obviamente, daria risada das discussões atuais.

Ou desembainharia a espada, dependendo da quantidade de vinho ingerida.

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Definitivamente não se guiaria pelos máximas e os exercícios espirituais deixados pelo fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. Entre elas:

“Não permita Deus Nosso Senhor que, onde eu não possa ajudar, venha a prejudicar alguém”, rogava o criador dos jesuítas. 

Dificilmente , e infelizmente, ele faz parte das leituras de Shaun King.

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