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O bizarro candidato que pode definir eleição presidencial na Argentina

Javier Milei é o retrato da falência da política tradicional e todos querem saber para quem irão “seus” votos na final do processo eleitoral

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 13 Maio 2024, 22h52 - Publicado em 11 ago 2023, 08h08

Por falta de imaginação, praticamente todos os jornalistas comparam Javier Milei a Jair Bolsonaro, José Roberto Kast, candidato presidencial que perdeu por pouco no Chile, e Donald Trump.

Em favor desses jornalistas, diga-se que o autodeclarado anarcocapitalista realmente é um fenômeno da antipolítica, a rejeição aos profissionais do ramo que acomete uma parte significativa do eleitorado – muito compreensível num país como a Argentina, onde direita e esquerda se sucedem nos mesmos erros com precisão cronográfica.

Depois de amanhã, o domingo das eleições primárias, saberemos o exato tamanho do economista que cultiva uma estudada aparência de hobbit, as pequenas e cabeludas criaturas do Senhor dos Anéis. Até as costeletas em expansão são parecidas. Ou teria ele se inspirado em Carlos Menem?

Com Milei, tudo é possível, inclusive copiar uma “marca” populista que apela aos argentinos do interiorzão, longe dos centros urbanos onde seu estilo tem mais impacto.

Conseguirá Milei os cerca de 20% dos votos que indicam as pesquisas? Seja qual for seu patamar, ele será uma figura fundamental, mais adiante, quando sobrarem apenas dois candidatos à Casa Rosada.

Quem irá apoiar? E seus eleitores seguirão o que diz ou voltarão à velha forma do voto de protesto ao sistema, cravando branco ou nulo?

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Ninguém pode garantir uma resposta. Além das costeletas, Milei cultiva deliberadamente a imprevisibilidade.

Sem contar os fenômenos macro, como uma economia com o dólar a 600 pesos e inflação de 115%, ou episódicos, como o horrível assassinato de Morena Domínguez, uma menina de apenas onze anos arrastada e morta por dois ladrões de moto para arrancar sua mochila quando ia para a escola.

Entre as inúmeras declarações de repúdio, a de Milei foi a mais elaborada, no estilo deixa que eu chuto. “Queremos terminar com esse modelo que defende os delinquentes e voltar ao único modelo que funciona: a repressão aos delitos sem hesitação”.

“Por essa razão, estamos propondo uma reforma completa das leis de segurança interna, defesa, inteligência, do serviço penitenciário, tudo baseado numa nova doutrina de segurança nacional: quem faz, paga”.

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Até cidadãos argentinos que votam em outros candidatos muito provavelmente concordam com essa “nova doutrina”. O aumento da criminalidade num país que, comparado ao Brasil, era um continente de segurança afeta todas as pessoas, mas, como em todos os lugares, a conta mais alta é dos moradores das regiões mais pobres.

A sucessão de crimes horríveis, de uma violência cada vez chocante – depois de Morena, foi um médico, o cirurgião torácico Juan Carlos Cruz, morto com um tiro na cabeça para levarem seu carro -, reflete um embrutecimento social que leva muitos a apoiar a “nova doutrina” proposta por Milei. Vacilou, dançou.

Um deputado do partido dele, A Liberdade Avança, foi até El Salvador, onde o presidente Nayib Bukele se tornou o político eleito mais popular do planeta, com 91% de aprovação popular por causa de sua política de repressão em massa às quadrilhas.

O EL País fez uma ótima entrevista com Milei – obviamente, cheia de pegadinhas: o jornal espanhol é de esquerda e tem ojeriza a qualquer coisa que cheire a direita, mesmo que a origem do odor seja tão cheia de argumentos inesperados como os do argentino.

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Chega-se ao final dela sem poder concluir se ele é um louco bem sucedido ou um bem sucedido vigarista.

Pedimos licença para reproduzir alguns trechos.

Como reduzir a inflação?

“O problema da Argentina é que a solução está nas mãos do problema: os políticos. Eu sou o único que fala num programa com alcance de 35 a 50 anos. Quando nos aferramos ao curto prazo, tudo dá errado”.

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“Acabar com a inflação não é um problema técnico: é o problema mais fácil de todos de resolver. O mais complicado é o crescimento econômico. Começamos o século XX com um país que era o mais rico do mundo e hoje está em 140º lugar. Temos uma taxa de pobreza de 45%, com 10% de miseráveis. Existem quatro milhões de pessoas que não comem o suficiente enquanto a Argentina produz alimentos para 400 milhões de pessoas e tem uma taxa fiscal de 70%”.

Dolarização?

“A questão é a inversa: por que não dolarizar?”.

“Quando se tira a maquininha de imprimir dinheiro dos políticos, é isso que acaba com a inflação. Por que a inflação, em qualquer lugar e qualquer situação, é um fenômeno monetário gerado por um excesso de moeda em circulação”.

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“É fácil dolarizar? Superfácil”.

A simplicidade e a convicção com que Javier Milei trata de assuntos tão complexos conquistaram a fatia do público que será conhecida no domingo.

Muitos são jovens, filhos da “economia do celular”, vivendo diretamente as consequências de um estado inchado que produz pobreza e insegurança.

Louco, farsante ou genial? Talvez tudo isso junto?

Mas certamente produto de circunstâncias muito conhecidas pelos brasileiros. A criminalidade engole nossos países e só não vê quem não quer. Javier Milei é um de seus sintomas.

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