O embate dos dois modelos: Lula e Milei vivem momentos triunfais
Mas qual deles tem mais chances de dar certo, o do Estado gastador ou o do Estado mínimo? A discussão é uma das mais interessantes do momento
Javier Milei teve uma vitória arrasadora, apesar das tentativas de diminuí-la feita por comentaristas que estão choramingando pelos cantos, por simpatias de esquerda e falta de capacidade de prever a guinada (“Os populistas de esquerda sempre quebram a economia?”, perguntava o modelo mundial dessa turma, o The Guardian, exatamente no dia da eleição, apostando numa derrota dura para o presidente argentino). É instigante que seu momento de triunfo coincida com os bons fluídos vividos por Lula da Silva, depois de uma promissora primeira reunião com um Donald Trump cordial e disposto a fazer negócios.
Lula também aparece aumentando sua vantagem numa eleição sem Jair Bolsonaro, o nome ainda com grande apoio popular, embora o sucessor o tenha qualificado de “rei posto”. Faz parte do jogo – é à oposição e à imprensa credível que compete desmontar as fabulações.
Mas é certo que o momento é positivo para ele. Milei, por sua vez, foi praticamente eleito de novo e também pode pensar a sério na reeleição em 2027, ressalvando-se o histórico argentino de reviravoltas dramáticas. Diante dessa perspectiva, e não de um impulso para o adversário peronista, Axel Kicillof, como “todo mundo” esperava, inclusive analistas mais à direita, o dólar caiu 7,6%, os mercados entraram em estado de euforia – perigoso, todos sabem, mas compreensível -, as reservas do Banco Central aumentaram e as previsões sobre o risco país refluíram. Um fenômeno similar, em menor escala, aconteceu ontem no Brasil.
Os Estados Unidos podem até sair ganhando dinheiro com o swap de moedas de 20 bilhões de dólares com a Argentina, uma surpresinha quase impensável até a eleição de domingo.
ESTILO BOMBÁSTICO
Donald Trump também ganhou, pois mesmo entre seus apoiadores havia surgido uma resistência à dinheirama despejada no “aliado sistêmico”. Como Trump também ganhou com o sucesso diplomático, comercial e político da viagem à Ásia, na qual o assunto mesmo era a China e a reconstrução de um possível acordo comercial (a reunião com Lula foi importantíssima para nós e para os produtores brasileiros prejudicados pelas tarifas, mas no quadro da mídia internacional, sequer registrou), ele pode ser considerado o maior vencedor da semana.
É claro que ter por trás um PIB de 30 trilhões de dólares ajuda um bocado, ao contrário de nós aqui na América Latina, ainda lidando com economias que empalidecem diante da potência americana.
Qual a melhor maneira de superar as amarras que nos prendem e desencadear o crescimento fogoso que nos tiraria da praga dos salários baixos e das instituições frágeis?
Milei disse que a Argentina pode se transformar em uma superpotência em tempo relativamente curto, com o exagero que o caracteriza – mas também inspira otimismo nos eleitores que lhe deram nova vida, depois de uma fase muito negativa. A receita é conhecida, embora apresentada por Milei num estilo bombástico: diminuir o Estado que sufoca o empreendedorismo e os investimentos estrangeiros, libertando o espírito animal que aproveitará tudo o que o país tem a oferecer – infinitas terras férteis, gás, eletricidade, lítio – para uma arrancada econômica favorecida pelas big techs.
No Brasil, obviamente, é o contrário: o governo quer gastar loucamente, pensando principalmente “naquilo”- a reeleição de Lula -, legislar sobre o novo extrato social dos trabalhadores por aplicativo, resgatar o infinito cabide de empregos de estatais disfuncionais e controlar o conteúdo das grandes redes sociais.
ESCOLHAS INSTIGANTES
Qual modelo terá mais sucesso? Na Argentina e, principalmente, no Brasil, existe uma classe empreendedora, em vários graus de grandeza, que aprendeu a lidar com tudo de ruim que o governo – qualquer governo – manda para cima dela e muito do “embate dos modelos” depende do que os criadores de riqueza fazem, não dos detentores de cargos eletivos.
Também existem inúmeras outras maneiras de comparar os modelos e os próximos tempos permitirão a brasileiros e argentinos ver quem está se saindo melhor, mesmo com as diferenças de escala – a Argentina tem um PIB de quase 700 bilhões de dólares e o do Brasil é três vezes maior.
Também pesam na análise, por motivos óbvios, as inclinações políticas. O que o leitor prefere, um sistema em que um presidente diminui impostos e corta funcionários públicos, prometendo um futuro melhor em troca dos sacrifícios de agora, ou um em que corta o imposto de renda até cinco mil reais para o regozijo instantâneo, uma medida justa, mas acompanhada de tributação adicional sobre tudo, e “está dando dinheiro para o pessoal não trabalhar”, na sucinta definição do padeiro Carmildo, numa entrevista à TV Globo, enquanto o custo aos contribuintes de cada deputado federal já bateu em 270 mil reais por mês e avança o projeto de aumentá-los de 513 para 531?
Como esta, há muitas escolhas instigantes pela frente, em matéria de preferências, no Brasil e na Argentina. Pode ser difícil – ou será facílimo? – escolher o lado.







