O gatão e a ratazana: é óbvio que Trump já decretou o futuro de Maduro
E o fim do regime é o único resultado possível na Venezuela; presidente americano disse que "acha que sim”, os dias dele estão contados
“Os dias de Maduro como presidente estão contados?”, perguntou a entrevistadora, Norah O’Donnell, da rede de televisão CBS.
“Eu diria que sim. Acho que sim”, respondeu Donald Trump, encerrando as duas afirmações com um americaníssimo “yeah”.
É claro que a repórter quis detalhes, perguntando se haveria ataques em terra firme, mas o presidente americano que “não iria contar”.
“Não falo com uma repórter se vou atacar ou não. Você é uma repórter maravilhosa, é muito talentosa, mas não vou contar a você o que vou fazer ou deixar de fazer com a Venezuela.”
E sobre aquelas embarcações de traficantes detonados, para tristeza e compaixão dos simpatizantes de Maduro?
“Sabia que cada um daqueles barcos representa a morte de 25 mil americanos?”, contrapôs Trump, numa referência aos mortos por fentanil, na mais reveladora entrevista que já deu, fruto da nova administração jornalística da CBS, a cargo de Bari Weiss, ex-New York Times e ex-Free Press.
PRESIDENTE SEM FILTROS
A entrevista foi excelente porque a repórter, embora obviamente antitrumpista, tentou pegar o entrevistado de todas as maneiras, sem, no entanto, impedir que ele expusesse amplamente sua visão de mundo – cobrindo a si mesmo de elogios, como fazem todos os políticos de maneira ostensiva ou mais disfarçada.
Trump não é do tipo que disfarça o que pensa; ao contrário, expõe tudo, praticamente sem filtros, exceto por dizer que não quer “ser aqueles tipos de sujeitos que contam o que vão fazer”. Em relação à Venezuela, também ficou claro que tem um ressentimento especial com a migração clandestina em massa, produto, diz, do “esvaziamento de prisões, instituições mentais e asilos de loucos” para enviá-los aos Estados Unidos.
Sem contar os quadrilheiros do Trem de Arágua – “A pior gangue do mundo. Eles cortam as mãos das pessoas que chamam a polícia. ‘Você chamou a polícia?’. ‘Çhamei. Vocês tomaram meu apartamento, ocuparam o prédio’. Cortaram a mão dele”. Referia-se a um caso ocorrido na cidade de Aurora, no Colorado.
Nicolás Maduro não é estúpido – a maior prova é ter conseguido sobreviver no topo do poder desde 2013, num ambiente em que com certeza há outros pensando em pegar o lugar para si mesmos, pela força e não pelos votos, tão epicamente fraudados na Venezuela. Está vendo o recado escrito desde que as primeiras forças navais americanos se dirigiram para o Caribe, depois turbinadas pelo deslocamento do maior porta-aviões do mundo, o Gerald Ford.
Trump não pode deslocar um contingente dessas proporções e, depois de mais embarcações afundadas, dar o serviço por encerrado. Seria a total desmoralização para a maior superpotência da história. Trump sabe disso muito bem, pois é um especialista na linguagem do poder, mesmo que sem os requintes do pensamento acadêmico. Os que acham que é burro ou tosco, inclusive em altas esferas de governos estrangeiros, têm repetidamente se dado mal.
Ou seja, o gato e o rato nessa história, Trump e Maduro, costumam ser subestimados. Também a ser levado em conta: tudo o que a imprensa americana diz que pode dar errado na Venezuela é um produto, em grande parte, da animosidade contra Trump, não de análises imparciais.
ERA PÓS-MADURO
Segundo documentos revelados ao Washington Post, Maduro está tentando arrastar aliados como Rússia, China e Irã para o conflito com os Estados Unidos. Escreveu cartas pessoais aos respectivos líderes pedindo diferentes tipos de armamentos e peças de reposição, agora que se deu conta de que não adianta ter dois mil generais – seis vezes mais do que os Estados Unidos! – se eles só se ocupam em roubar, não em preparar a defesa do país.
Como é do estilo populista, ele também “mobilizou” batalhões bolivarianos de indígenas e até de idosos, que seriam usados como escudos humanos no caso de ataques americanos. Apareceu de cocar, provavelmente porque na Venezuela não existe a superstição brasileira em relação àquela palavra oposta à sorte e adornos de penas feitos por povos indígenas.
Quem acredita nessas coisas, achou que Maduro selou seu destino naquele momento. Quem acredita mais no Gerald Ford também acha que não existe saída e a tática de demonstrar poder, mesmo sem um ataque direto, vai acabar chegando aos resultados desejados. A discussão na verdade já se transpôs em parte para a era pós-Maduro e como vai ser a transição, de forma a evitar caos e anarquia que poderiam redundar exatamente naquilo que Trump quer evitar, mais imigração descontrolada para os Estados Unidos.
A ratazana está encurralada, embora ainda tenha muitas formas de prejudicar venezuelanos e americanos, inclusive se fizer, como já foi ameaçado, uma retaliação final contra a líder oposicionista María Corina Machado, cuja integridade não seria protegida nem pelo Nobel da Paz. Tudo será feito para impedir isso e para não parecer que a mudança de regime foi propiciada pelos Estados Unidos. Mas só não vê quem não quer.







