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O grande perdedor: queda do aliado sírio culmina ano catastrófico para Irã

O aiatolá Khamenei comandou uma sequência de desastres que abala as próprias estruturas do regime fundamentalista

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 dez 2024, 11h36 - Publicado em 9 dez 2024, 08h02

O regime iraniano investiu alto na Síria do agora exilado Bashar Al-Assad. Alto mesmo, entre 15 e 20 bilhões de dólares por ano, bastante dinheiro para um país afetado por sanções como o Irã. Também investiu teologicamente, digamos, incluindo a seita minoritária alauita, da elite do regime deposto, sob o guarda-chuva do xiismo, para justificar a aliança. Assad retribuiu e começou a aparecer em mesquitas, e a mulher, a chique Asma, passou a desaparecer de compromissos públicos — bem antes de ter câncer. Todo o esforço iraniano ruiu estrondosamente com a fulminante queda de Assad, levando junto a mais importante parceria estratégica traçada pelo aiatolá Ali Khamenei.

Um eixo que parecia vencedor, indo do Irã ao Líbano do Hezbollah, com milícias iraquianas e fanáticos iemenitas no meio, culminando na improvável aliança com os fundamentalistas sunitas do Hamas, agora parece uma zona de desastre.

Israel dizimou os principais aliados palestinos e libaneses do Irã, chegando ao ponto de explodir em Damasco o líder das operações externas da Guarda Revolucionária e de colocar uma bomba debaixo da cama de Ismail Haniyeh em Teerã, uma operação de uma ousadia difícil de ser exagerada.

Haniyeh estava em Teerã para a posse do novo presidente, escolhido depois que Ebrahim Raisi morreu num desastre de helicóptero, levando junto uma sucessão praticamente já decidida, na qual ele substituiria o velho e doente Khamenei, que, com 85 anos, não vai durar muito mais. No ocaso da vida, em vez da consolidação do regime e da rede de alianças que, na sua ensandecida opinião, levaria ao desaparecimento de Israel “até 2040”, como acreditam os fanáticos, ele está vendo tudo desabar.

Isso para não mencionar os dois bombardeios israelenses, em represália por ataques iranianos, que destruíram o custoso sistema de defesa antiaérea do Irã.

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PONTA DE LANÇA

Como consolação, está em companhia importante: Vladimir Putin também foi um dos perdedores com a tectônica mudança na Síria. E perdeu feio. Embora não seja existencialmente ameaçado, estando no comando do maior país do mundo, com muito fôlego para a profundidade estratégica, viu implodir no tabuleiro uma peça importante do xadrez geopolítico. Putin perdeu o porto de Tatus e a presença no Oriente Médio, mas não está desgastado como o Irã.

Mesmo assim, a capacidade iraniana de produzir encrencas não pode ser subestimada. O país ainda tem um programa nuclear prontinho para produzir as primeiras bombas. Um Irã ferido fica mais perigoso e imprevisível.

Uma recomposição, à la Hamas, com os novos líderes é totalmente impossível: o Irã bancou as forças do regime e usou combatentes do Hezbollah como bucha de canhão para dizimar a resistência, com consideração zero pela população civil. No fim, os números falaram mais alto: sem o Hezbollah como ponta de lança, os rebeldes sunitas, a linha muçulmana seguida por mais de 70% da população, prevaleceram,

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Os primeiros momentos pós-derrocada mostraram cenas inacreditáveis, como a invasão da embaixada do Irã, com saques e retratos rasgados e jogados no chão do aiatolá Khamenei e dos “mártires” que o Irã cultua: Qassem Solimani (explodido pelos Estados Unidos) e o libanês Hassan Nasrallah (explodido por Israel). O povo está com ódio do Irã.

COLEÇÃO DE FERRARIS

Outras cenas mostram uma criança pequena saindo de uma cela de mulheres de uma das mais notórias prisões da Síria, onde a tortura em massa era prática corrente. A suspeita de que haja centenas de prisioneiros e celas subterrâneas é simplesmente alucinante. É impossível não fazer uma conexão com os israelenses presos nos túneis debaixo da terra.

Também foi filmada a garagem do palácio presidencial e as provas de como o poder enlouquece os tiranos, com uma coleção de Ferraris vermelhas, entre várias dezenas de outros carros de luxo, de marcas como Aston Martin, Rolls Royce, Mercedes, BMW e Bugatti.

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Em seu exílio em Moscou, Assad não tem mais o que fazer com as Ferraris vermelhas.

Finalmente sem ninguém com o sobrenome Assad no poder, algo que não acontecia há mais de cinquenta anos, muitos sírios comemoraram com otimismo a queda rápida e quase miraculosamente incruenta. Nos primeiros momentos, também não houve a caça aos alauitas, a seita minoritária que Assad havia colocado no comando dos órgãos de segurança. Haveria a possibilidade de um regime razoavelmente decente ou, pelo menos, não horripilante? As probabilidades são quase nulas.

Para não deixar dúvidas sobre o que prevê agora — antes, nenhum serviço de inteligência, incluindo CIA, os russos e os tão próximos israelenses, previu a queda fulminante do regime —, caças israelenses bombardearam grandes depósitos de armas, impossibilitando que caiam em mãos dos rebeldes agora catapultados a líderes do país.

E se a novidade de derrubar o regime contaminasse o Irã?

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