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O maximalista e o minimalista

Lula e Milei estão em polos antagônicos na relação com o mercado

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 3 jun 2024, 16h38 - Publicado em 27 abr 2024, 08h00

O site Bloomberg propôs uma comparação intrinsecamente injusta, mas irresistível: qual visão econômica será mais bem-sucedida, a de Lula da Silva ou a de Javier Milei? É um game que está acontecendo diante de nossos olhos e, como na série O Problema dos Três Corpos, afeta nossas vidas de maneira crucial. O brasileiro e o argentino são opostos em tudo; um, quer o governo máximo e o Estado indutor; outro, o governo mínimo e o empreendedorismo produtor. É uma questão em discussão permanente nos países que ainda não acertaram o caminho para a prosperidade coletiva, mas que nunca foi tão bem codificada por dois presidentes vizinhos. Lula, o populista de esquerda, pragmático e escolado na política, talvez obcecado demais em replicar resultados do passado. Milei, um libertário politicamente neófito que propõe uma visionária avalanche liberalizante. Os resultados dirão quem tende a ter mais razão, embora os jogadores tenham partido de posições diferentes — daí a injustiça da comparação —, com um Brasil bastante em ordem, considerando-se as circunstâncias, e uma Argentina martirizada por tudo o que de pior tem o peronismo em suas diversas encarnações, a caminho da hiperinflação.

“Os resultados dirão quem tende a ter mais razão, embora os jogadores tenham partido de posições diferentes”

Um exemplo entre tantos: Lula assumiu aumentando o número de ministérios para 38 — espíritos mais céticos diriam que o objetivo mesmo é contemplar aliados e promover a eufemisticamente chamada governabilidade. Milei cortou as pastas para nove e virou um serial killer de empregos pendurados no enorme cabide que sustenta o que chamou de casta. Lula é uma entidade conhecida, nos acertos e nos erros. Milei continua a ser um enigma, embora, até o momento, menos alucinado do que se esperaria de alguém que só cultiva laços de intimidade real com a irmã e com os cães — a namorada, que muitos achavam ser um arranjo de fachada, já foi para o espaço. O FMI elogiou o “impressionante” avanço promovido por Milei em matéria de ajuste fiscal, ao custo de uma queda prevista de 2,8% do PIB para este ano. A inflação subiu “só” 11% em março — uma vitória — e já despontou um superávit fiscal. Sobreviverão os argentinos com os cintos apertados até além do último furo? A dureza do ajuste atiçará a famosa volatilidade social do país?

Em recente viagem à Colômbia, Lula fez um diagnóstico sobre a América Latina: “Não pode ser por coincidência que todos nós, que já temos 500 anos de vida, não tenhamos nenhum país altamente desenvolvido, um país rico, um país com estado de bem-estar social que possa ser comparado aos países europeus. Alguma coisa está errada”. Equivocou-se ao atribuir a “coisa errada” a uma disposição de “nações colonizadas” a esperar por “muitos e muitos séculos a ordem daqueles que nos colonizaram para dizer o que a gente tinha que fazer”. A atual moda esquerdista de pendurar todos os nossos males no colonialismo ignora o fenômeno de um país como os EUA, uma colônia selvagem quando o Brasil já era exportador da mais cobiçada commodity da época — o açúcar —, mas que desenvolvia uma sociedade horizontalizada baseada na criação de riquezas por esforço próprio e na liberdade como valor supremo. É isso que o “mileinarista” argentino quer replicar com sua revolução cultural. Quem tem o melhor plano, ele ou Lula?

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890

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