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O mistério do Moskva: como a Rússia pode “sumir” com navio de guerra?

Para não admitir que o cruzador de 12 mil toneladas foi destruído por mísseis ucranianos, Kremlin monta farsa ridícula de naufrágio acidental

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 18 abr 2022, 20h52 - Publicado em 18 abr 2022, 07h13

Na versão oficial de Moscou, o principal navio de guerra russo no Mar Negro, batizado com o nome da capital, sofreu um incêndio e foi a pique quando era rebocado para o porto por causa do mar agitado. Todos os 510 tripulantes se salvaram.

Num filme sem som divulgado ontem, cerca de 200 oficiais e marinheiros são cumprimentados pelo comandante do Moskva, Anton Kuprin, e pelo comandante da Marinha, almirante Nikolai Yevmenov.

Nem 24 horas se passaram até que as primeiras fotos do Moskva indicassem uma realidade muito diferente: um buraco no casco, sinais de vários focos de fogo e outras marcas consistentes com um ataque externo.

Provavelmente foram tiradas em embarcações que foram socorrer o Moskva, a nau capitânia da força naval russa no Mar Negro – e que não pode ser substituída porque a Turquia fechou o Bósforo a naves de guerra.

“Meu filho ligou chorando. Foi horrível o que viu”, contou a mãe de um jovem tripulante, falando sob condição de sigilo ao Novaia Gazeta, o jornal independente que agora tem de funcionar fora da Rússia. “Muita gente não sobreviveu.”

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Autoridades ucranianas disseram ter consciência de que o ataque ao Moskva, de 12,4 mil toneladas, um dos orgulhos da Marinha russa, seria vingado. Exatamente o que passou a acontecer em seguida, com bombardeios russos contra a fábrica de onde saíram os mísseis Netuno, de produção local.

A Ucrânia, que herdou uma indústria armamentista do tempo da União Soviética, tinha apenas dois mísseis dessa categoria, transportados por caminhões e disparados de terra. Esperou o momento certo para atacar o Moskva, distraindo seus sistemas de defesa antiaérea com drones.

A perda do Moskva foi um golpe tão grande que apresentadores de programas da televisão russa, mais putinistas do que Putin, cometeram inconscientemente um lapso revelador: trataram o caso como um ataque “do Ocidente” e não o acidente da versão oficial.

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“Podemos com certeza dizer que estamos na III Guerra Mundial”, disse Olga Skabaieva, do canal Rossya 1. “É uma guerra total, multifacetada, contra o Ocidente”, concordou o comentarista militar Dmitri Drozdenko.

Outros especialistas alinhadíssimos com a doutrina oficial clamaram por bombardeios contra Kiev (que já estão acontecendo) e contra as linhas de abastecimento de armas para a Ucrânia procedentes da Polônia e de outros países fronteiriços.

O afundamento do Moskva tem um peso militar médio e uma grande importância simbólica: foi dele que partiu o aviso de rendição, logo no começo da guerra, a treze militares ucranianos que defendiam uma ilhota. Mesmo sem a menor condição de enfrentar uma potência flutuante como o Moskva, a resposta dos ucranianos tornou-se um clássico: “Nave militar russa, vá se ferrar”. 

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Os termos foram ligeiramente alterados.

Entre as várias versões que circularam, os ucranianos foram mortos, presos ou resgatados. Um deles apareceu num vídeo oficial sendo condecorado. O governo emitiu um selo comemorativo, com um sinal universal substituindo o palavrão, e houve filas nas agências do correio de Kiev para comprar.

O afundamento do Moskva, com tudo o que significa, não altera a mudança de estratégia da Rússia: transferir o foco para as regiões separatistas de Luhansk e Donetsk. Se os russos consolidarem o controle sobre essas áreas, Vladimir Putin terá uma vitória para anunciar.

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Irá se contentar com isso? Quanto mais sofre reveses, mais perigoso fica. “Precisamos ter cuidado para não colocar Putin num beco sem saída, onde não tenha mais nada a perder”, disse David Petraeus, o estreladíssimo general americano da reserva.

“Por enquanto, ele ainda tem muita coisa a perder”, acredita Petraeus, referindo-se não às perdas em combate – “Ele não parece preocupado com os números de jovens soldados mortos ou seriamente feridos” –, mas com os prejuízos para a economia russa em geral e para os poderosos em particular.

É muito mais fácil erguer cortinas de fumaça metafórica para esconder os mortos do Moskva, o tipo de manobra que Putin e suas cortes de manipulares estão acostumados a fazer. 

Sem comunicação com as vítimas, as famílias já sabem que algo muito ruim aconteceu. Chorarão em silêncio.

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