Qualquer pessoa minimamente decente tem um nó no estômago ao ver o vídeo em que um policial mantém George Floyd submetido, com um joelho no pescoço, durante oito minutos. Quando tira, ele já está morto.
E qualquer pessoa, em condições idem, repudia a onda de protestos violentos, com saques, incêndios e a invasão da delegacia em Minneapolis, a cidade sobre o rio Mississipi bem ao norte dos Estados Unidos.
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Clique e AssineA morte de Floyd aconteceu num momento péssimo: a epidemia do novo coronavírus ainda tem focos importantes no interior do país, os ânimos estão exaltados à medida que se aproxima a eleição presidencial de novembro e Donald Trump não é exatamente um pacificador.
Trump fez tudo de acordo com o manual: lamentou a morte “revoltante e trágica”, colocou o FBI, o Departamento de Justiça para investigar se o crime pode entrar para a esfera federal e ofereceu ajuda ao governador de Mineápolis, Tim Waltz, para controlar a situação.
Tudo na língua Trump: “Qualquer dificuldade e nós assumiremos o controle, mas quando os saques começam, começam os tiros”.
O Twitter, em guerra com o presidente, censurou Trump pelo tuíte que “viola nossa política referente à glorificação da violência”.
Se fosse censurar todos os tuítes referentes ao caso pelo mesmo critério, poucos sobrariam.
Durante os três anos e meio do atual presidente, houve menos casos similares ao de George Floyd, com imagens revoltantes e reações violentas, em comparação com o governo Obama, que viu nascer o movimento Black Lives Matter.
Hoje, o movimento é relativamente menos agressivo do que o Antifa, os encapuçados que atuam com a mesma tática violenta do Black Bloc.
Os dois grupos, somados a manifestantes comuns, mais os aproveitadores ocasionais que aproveitam para saquear estabelecimentos comerciais, promoveram os dois dias seguidos de protestos violentos que culminaram no incêndio da delegacia.
O caso está agora no momento mais perigoso.
As autoridades não podem perder o controle, sob o risco de não garantirem mais a segurança dos cidadãos comuns. Para retomar o controle, só com o uso legítimo da força. E o uso da força, mesmo justificado, provoca mais protestos.
A onda está se alastrando por outros estados americanos.
Sete pessoas foram baleadas em Kentucky e a sede do governo em Columbus, Ohio, foi invadida.
Não existe questão mais explosiva nos Estados Unidos do que a racial e a aguda polarização política alimenta o tipo de protesto mais deletério – o que manipula politicamente a natural revolta de casos assim.
O que aconteceu com George Floyd? Como é comum nesses episódios, o caso começou com um delito banal.
Floyd tentou passar uma nota falsificada de 20 dólares numa lojinha da cidade. Um funcionário chamou a polícia e, a partir daí, os vídeos feitos por transeuntes, contam a história.
Derek Chauvin, o policial que subjugou Floyd, só entrou em ação, tragicamente, no fim da intervenção.
Floyd, um homem muito alto e forte, foi abordado num carro, algemado e encostado na parede, Reclamava muito, mas não ofereceu o tipo de resistência que justifica o uso da força.
Quando seria transferido para um carro da polícia, tentando se opor, Chauvin interferiu e o dominou com o joelho apertando o pescoço.
Floyd disse várias vezes: “Não posso respirar”. A certa altura, gemeu: “Mama, mama”.
Os quatro policias foram expulsos, o que, obviamente, não encerrou a questão.
Hoje vai ser um dia em que muita coisa pode acontecer nos Estados Unidos. No melhor dos mundos, a desejo quase unânime de que a justiça seja feita se refletiria em protestos não-violentos.
No pior, o que já aconteceu em Minneapolis será sobrepujado por atos muito maiores do tipo de violência que não traz justiça, só miséria para os cidadãos que perdem comércios e a proteção a todos devida.