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O que fazer com Joe Biden?

Bateu pânico na Casa Branca com a explosão da questão da idade

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 09h24 - Publicado em 18 fev 2024, 08h00
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  • Ninguém se saiu melhor do que Ronald Reagan quando sua idade passou a ser cogitada como ponto fraco durante a campanha de 1984 para a reeleição. “Não vou transformar a idade em assunto de campanha. Não vou explorar, com objetivos políticos, a juventude e a inexperiência do meu oponente”, disse ele no segundo debate presidencial daquele ano. Até o adversário mencionado, o democrata Walter Mondale, caiu na risada, num momento de espontaneidade. Reagan vinha de um primeiro debate em que havia se saído mal, com frases inconclusivas. Aos 73 anos, era o americano mais velho a ocupar a Casa Branca, e a pergunta sobre idade, feita por um jornalista, questionava se ele teria o mesmo vigor que John Kennedy ao passar várias noites acordado, durante a crise dos mísseis, o momento mais perigoso da história da humanidade. Na verdade, Kennedy, assassinado aos 46 anos, tinha muito mais problemas de saúde do que Reagan. Sofria de doença de Addison, doença celíaca e hérnia de disco. Usava colete ortopédico e medicamentos em doses espantosas. O distúrbio endocrinológico hoje é visto como possível responsável pela aparência de pele bronzeada que contribuía para sua imagem de vigor.

    “Kennedy, assassinado aos 46 anos, tinha muito mais problemas de saúde do que Ronald Reagan”

    Discutir a idade de um presidente, em especial quando ele não é nenhum octogenário saltitante como Mick Jagger, não tem nada de etarismo, o preconceito contra os mais velhos (às vezes, no sentido oposto, contra os jovens demais, como está acontecendo agora com o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, de 34 anos). Será também um assunto no Brasil, quando o presidente Lula da Silva se aproximar da idade de Joe Biden na campanha pela reeleição. Dirigentes do Partido Democrata já desistiram de tentar transformar o presidente em vítima de adversários malvados e preconceituosos. Na verdade, entraram no modo pânico depois dos recentes tropeços do chefe. É claro que muitas cabeças pensantes vão especulando sobre as opções. Faltam apenas seis meses para a convenção democrata, nenhum outro aspirante em potencial teve tempo de montar uma campanha e ainda muita gente não esqueceu o precedente Lyndon Johnson. Em 31 de março de 1968, ele anunciou que desistia de tentar a reeleição. Apenas quatro dias depois, Martin Luther King foi assassinado. Em junho, caiu Bobby Kennedy, que havia lançado sua candidatura após a desistência de Johnson. Sem um nome carismático como Kennedy, os democratas escolheram o pouco inspirador vice-presidente Hubert Humphrey, derrotado por um certo Richard Nixon. Kamala Harris parece encarnar uma opção pior do que Humphrey: tão promissora como senadora, revelou-se inconsistente e impopular como vice de Biden. Tem 28% de aprovação.

    Muitas e não declaradas esperanças democratas agora se voltam para duas mulheres: Michelle Obama, opção de última hora, e Jill Biden, a única pessoa a quem o presidente ouviria se houvesse um apelo para desistir. Aliás, já circulam as comparações com Nancy Reagan, que controlava fortemente os movimentos do marido em seu ocaso na presidência, quando passou a mostrar os primeiros sinais de Alzheimer. A tirada brilhante no debate presidencial, no final, mostrou ser mais uma frase de efeito. Como todos os humanos que vivem o suficiente para isso, Reagan também acabou entrando em declínio cognitivo.

    Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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