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Os convidados trapalhões: latino-americanos mostram o que não fazer

O pior modelo a ser seguido é o dos governos esquerdistas vizinhos que querem melhorar a vida da maioria e pioram tudo para todos

Por Vilma Gryzinski 1 jan 2023, 11h39

A foto dos convidados latino-americanos para a posse tem uma mensagem clara: não sigamos o exemplo deles. Estado interventor, aumento de impostos, aparelhamento dos movimentos sociais e, pior do que tudo, “refundação” de outras anomalias do que passa hoje por esquerda comprovam o fracasso dessas ideias.

Em vez de combater a pobreza, um objetivo altamente desejável, os pátria-grandistas a aumentam, atingindo níveis intoleráveis como no caso mais grave de todos, o da Venezuela.

Só o motivo do cancelamento da vinda de Nicolás Maduro já lembra seu status de pária, mesmo com revogações de última hora: empresas que abastecessem seu avião seriam sujeitas a sanções dos Estados Unidos.

Ficou fora da foto, mas permanece o exemplo de cinismo totalitário: ele permitiu algumas adaptações às forças do mercado, que o pessoal da sua estirpe geralmente só usa no narcotráfico e outras ilegalidades. Por isso, a inflação diminuiu e hoje a anualizada está em “apenas” 213%. Em 2018, passou de 25 000%.

O índice de pobreza extrema chegou a 76%. No ápice do programa de crescimento acelerado da miséria, em 2017, a “dieta de Maduro” fez com que 67% dos venezuelanos perdessem uma média de onze quilos. Sete milhões de pessoas, numa população de 28 milhões, saíram do país – e continuam saindo, embora a situação econômica esteja piorando menos.

Sem revolução bolivariana, um país sofisticado como a Argentina, com um nível de formação de quadros comparável ao do Brasil, afundou no modelo que mistura assistencialismo e intervencionismo estatal. A inflação encostou em 100% e o número de pobres foi a 43% da população, mais 8% de miseráveis. Alberto Fernández produziu, assim, mais de 50% de pobreza.

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O sorriso debaixo do bigodão é sincero, com algo de interesseiro. Além da loucura por Lula, ele revela o investimento de BNDES de 689 milhões de dólares em Vaca Muerta. É um ótimo investimento se cercado de todas as garantias. Vaca Muerta é um prodígio de riquezas em gás e outros combustíveis fósseis. O problema são as espécies vivas, daquele tipo que prolifera dos dois lados da fronteira. O Rattus rattus politicus adora essa coisa de furar poço e fazer um gasoduto bem grande.

A impopularidade de Fernández chega em algumas províncias a 78%.

O que aconteceu com o imposto sobre riqueza na Argentina? Ajudou os pobres, amainou a crise, diminuiu as desigualdades?

Obviamente, nem se fala mais nisso. Só quem pagou é que se lembra.

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Na Colômbia de Gustavo Petro o projeto é mais ambicioso: como ele tem uma coalizão política no congresso, foi aprovada uma reforma tributária que deverá gerar 4 bilhões de dólares em arrecadação. O dinheiro será usado para “aumentar o gasto público” em medidas “anticíclicas”.

Lembram-se do discurso da ex-presidente brasileira? Pois é.

Petro também conseguiu uma sobretaxa sobre os lucros das empresas de petróleo e gás – recursos que ele considera mais daninhos do que a cocaína -, um imposto sobre patrimônio e o aumento progressivo que chegará a 20% de taxação sobre refrigerantes.

Com jeitinho, o ex-guerrilheiro conseguirá acabar com o dinheiro dos outros.

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Petro continua a ter saldo positivo na imagem – 48% de aprovação contra 44% do lado contrário -, embora 66% dos colombianos tenham perspectivas pessimistas sobre o país.

Está muito melhor do que outro presidente da nova onda de governos esquerdistas, Gabriel Boric, que tem nada menos que 65% de desaprovação. É como se os chilenos tivessem sofrendo de “arrependimento de compra”. Elegeram um presidente que seria de extrema esquerda se este qualificativo fosse usado à risca. Agora, rejeitam o jovem tatuado que defendeu uma “refundação” nacional, através de uma nova constituição pela qual os pilares do estado chileno seriam mudados – rejeitada nas urnas por 62% dos eleitores. Inflação de 12% também não ajuda muito.

A mudança renegada no Chile, de criar um “estado plurinacional”, já vigora na Bolívia, onde tem mais apelo devido a sua grande população autóctone. Mas continuam os conflitos entre “La Paz” e “Santa Cruz”, como sinônimos de indígenas raiz e uma sociedade antenada com princípios modernos. O governador de Santa Cruz, Luiz Fernando Camacho, está preso, criando um estado de alta tensão que, à maneira boliviana, lembra o antagonismo entre petistas e bolsonaristas.

A presença do presidente Luis Arce e de Evo Morales também indica uma tensão política interna. Arce, que tem conduzido uma política econômica estabilizadora desde que era ministro, quer, obviamente, disputar a reeleição. Evo acha que o ex-protegido tem que lhe dar a vez.

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De todos os latino-americanos, o mais popular e consolidado é Andrés Manuel López Obrador, com 61% de aprovação – embora os mexicanos costumem dar altos índices aos presidentes em exercício, tenham qual tendência for.

Numa decisão com aquele ar de ridículo que cerca tantos dirigentes latino-americanos, AMLO resolveu mandar a mulher, Beatriz Gutiérrez Müller, representá-lo na posse. Vale usar o pretexto do avatar para olhar sua atuação.

AMLO criou uma miríade de programas assistenciais, incluindo a aposentadoria por idade para não-contribuintes, mas os problemas do México continuam do mesmo tamanho, inclusive a estagnação econômica e os níveis alucinantes da violência praticada em massa pelos narcotraficantes, com guerras por territórios que produzem corpos decapitados e pendurados em viadutos, entre outros horrores.

Como Lula, López Obrador tem um canal direto com a população mais humilde. Em outros aspectos, é bem diferente. Dá duas horas de entrevista todos os dias, viaja de classe econômica em aviões de carreira e sempre acusa a elites “racista e classista” e o “neoliberalismo”.

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Obviamente, princípios efetivamente liberais nunca fincaram raízes na América Latina, exceto por uma pequena fresta no Chile. Mas atenderia ao autointeresse dos que agora estão no poder aprender com os erros dos outros.

Pelo menos enquanto tivermos democracia eleitoral.

O Brasil é maior que seus governantes, segundo um dos princípios em geral confirmado pela história.

Só para lembrar que saímos de um patamar ruim, no qual governo nenhum dá jeito. O Brasil tem 53 pontos no Índice de Liberdade Econômica do Global Economy. Outros países que enviaram chefes de Estado à posse, com dados de 2021 (antes, portanto, da nova onda de presidentes esquerdistas): Chile, 74; Uruguai, 70; Peru, 67; Colômbia, 65; Paraguai, 63; Argentina, 50; Bolívia, 43; Venezuela, 25.

Seja qual for o milagre que poderia mudar esse quadro, não tem perspectiva de acontecer. Se não piorar, já seria alguma coisa.

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