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Os russos estão perdendo em Bakhmut? Reação de Prigozhin é indício

O chefe da milícia Wagner está tão furioso que criticou indiretamente até seu patrono Putin, um jogo que ninguém sabe onde vai dar

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 12 Maio 2023, 07h36 - Publicado em 12 Maio 2023, 07h26

O desfile comemorativo da vitória na II Guerra Mundial com um único e miserável tanque foi apenas um dos escorregões de Vladimir Putin nos últimos dias.

O líder supremo agora foi chamado, indiretamente, de “vovô imbecil” pelo seu grande protegido, Ievgueni Prigozhin, o ex-presidiário que se tornou o criador e mantenedor do Grupo Wagner, um exército particular dentro do exército oficial.

As explosões de fúria postadas por Prigozhin contra o comando regular já viraram habituais e muitos especialistas achavam que, como homem de Putin, ele estava sendo usado para não deixar os líderes das Forças Armadas muito confortáveis. Stálin fazia isso como muito mais sangue envolvido, mandando fuzilar centenas dos mais fiéis generais só para lembrar que o Partido, nele corporificado, estava acima de tudo.

Prigozhin tem um dom para o drama e a escolha de cenários de filmes de terror, como os corpos ainda sangrando que mostrou como background de um dos vídeos mais violentos, acusando o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, e o chefe do Estado maior e comandante supremo das forças russas na Ucrânia, o general Valeri Gerasimov, de boicotarem sua tropa, formada por criminosos que trocaram a cadeia por seis meses de combate na frente ucraniana.

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Ele voltou a transmitir um de seus surtos, acusando uma brigada de fuzileiros russos de simplesmente fugir de Bakhmut — um indício de que a conquista da cidade não só não foi alcançada, como Prigozhin tantas vezes anunciou, como pode redundar numa retirada que selaria uma humilhação existencial para Putin.

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“Hoje, uma unidade do Ministério da Defesa deixou um dos nossos flancos desguarnecidos, abandonando suas posições”, bradou Prigozhin (“Obrigada pela publicidade dos nossos sucesso na frente”, trolaram os ucranianos).

“Nós temos um Ministério da Intriga em vez de um Ministério da Defesa, e portanto nosso exército está em fuga”, fustigou. A crítica quase inacreditável a Putin foi feita com referências ao “vovô feliz”, indiferente aos apelos que faz para que os wagneristas recebam mais munição.

“Mas o que o país deveria fazer, o que nossos filhos e netos deveriam fazer e como ganharíamos a guerra se de repente descobrirmos — e aqui é só uma hipótese — que o vovô é um total imbecil?”.

Detalhe cruel: Alexei Navalny, o líder oposicionista trancado no fundo do gulag de Putin, costuma chamá-lo de “vovô” ou de “vovô no bunker”.

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“Ou Putin responde e Prigozhin vira fumaça ou, se isso não acontecer, será mandada uma mensagem muito clara”, analisou o historiador Sergey Radchenko, da John Hopkins.

Outros analistas especulam que Prigozhin já recebeu uma mensagem brutalmente indireta quando Vladen Tatarski, um blogueiro totalmente alinhado com o chefe do Wagner, explodiu em inúmeros pedaços num atentado a bomba num café de São Petersburgo. O conspiracionismo, tantas vezes justificado no caso da Rússia, enxerga uma ação interna no atentado do qual, notavelmente, ninguém fala mais.

Tudo na Rússia é envolto em camadas de intriga e mistério. Respondendo às perguntas sobre quem seria o “vovô imbecil”, Prigozhin só fez ironias. “Opção número é Mizintsev, que foi demitido por nos dar munição e portanto agora não poderá fazer mais isso”, provocou.

O general Mikhail Mizintsev, encarregado da logística na Ucrânia e vice-ministro da Defesa, foi removido, em abril, numa confirmação de que as coisas não vão nada bem. O que fez o general? Entrou imediatamente para o Grupo Wagner, um sinal de que as fronteiras entre exército regular e o irregular são menos definidas do que imaginamos.

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A “opção número dois” mencionada por Prigozhin é o próprio Gerasimov, que “deveria nos mandar munição, mas só recebemos 10%” do requisitado.

“E a opção número três é Natalia Khim”, instigou Prigozhin. Natalia é uma estrela de reality show que está combatendo no Donbas — isso não pode ser inventado. Ela postou recentemente um vídeo oferecendo munição a Prigozhin.

Faz tudo isso parte de uma grande encenação? Está Prigozhin fazendo jogadas combinadas com Putin ou se tornou de fato um agente provocador incontrolável?

“Ontem, chegou uma ordem de combate que afirmava claramente que, se deixarmos nossas posições, isso será considerado traição à pátria”, disse, em outros de seus rompantes. Outra maluquice: reclamou que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “não está dizendo exatamente a verdade” quando desconversa sobre o contra-ataque da primavera. Imaginem só esperar que um inimigo entregasse todo o jogo sobre planos que estão sendo mantidos sob o mais estrito dos sigilos.

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O fato é que a Rússia, dispondo de superioridade em armas e em combatentes, não está ganhando a guerra que provocou. Nem sequer em Bakhmut, onde apostou tanto, consegue a preponderância militar, embora a um preço terrível em vidas para a Ucrânia.

Sem um avanço claro de alguma das partes não existe sequer a possibilidade de se começar a falar em negociações de paz. Não importa o que Celso Amorim diga, essa é a realidade. Aliás, viram as fotos de Amorim com Zelensky? Ah, não? Por que seria?

Os ucranianos sabem muito bem qual é o panorama político-estratégico — e sabem também que a próxima contra-ofensiva da primavera definirá os futuros passos, uma aposta altíssima para um exército, na prática, em posição de desvantagem.

Não basta que estejam dispostos aos maiores sacrifícios, numa luta existencial por sua sobrevivência como nação, precisam ter resultados concretos no campo de batalha.

A única alternativa seria o “vovô imbecil” desmanchar-se em seus próprios erros, mas por enquanto isso parece só expressão de desejos, mesmo que seja de um lacaio da estirpe de Ievgueni Prigozhin, que subiu na vida servindo refeições de luxo a Putin em seu restaurante e agora se acha grande o suficiente para ridicularizá-lo.

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