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Perigos da boa consciência

Julgar-se do lado certo pode levar a excessos

Por Vilma Gryzinski 28 set 2025, 08h00

Charlie Kirk está morto e enterrado como herói — e muitos sentiram um certo alívio. O debatedor assassinado provocava desconforto por não deixar margem às dúvidas não só entre os que o abominavam, mas também entre os simpatizantes, por se posicionar com a certeza dos justos na defesa de princípios conservadores. De forma geral, a “certeza dos justos” da qual nascerá o paraíso sobre a terra é monopólio da esquerda. A direita não costuma prometer um mundo melhor e reconstruído, só o velho mundão de sempre onde você dá um duro danado para “ter as suas coisas”, em definição magnífica do capitalismo que brasileiros mais simples costumam fazer. Se tiver dons acima da média e senso de oportunidade, pode ser até que fique rico. Senão, já está bom ter suas coisas, e sem querer nada de ninguém, outra construção popular que mina na base o autoconvencimento de esquerda sobre a própria virtude.

Disse Robespierre, o mais radical dos radicais da Revolução Francesa: “A virtude cria felicidade como o sol, a luz”. Segundo seu conceito, tudo tinha que ser começado de novo e foi o que fizeram os revolucionários, que criaram o Ano Um, o calendário com um ciclo de dez dias em lugar da semana bíblica de sete, os meses com novos nomes como Termidor (calor), Pluvioso (chuva), Brumário (névoa) e Frutidor (frutas). Com falsa modéstia, Robespierre proclamava suas virtudes: “Eu não sou um defensor do povo. Nunca pretendi ter esse título faustoso; eu sou do povo, mas jamais fui mais do que isso; quero ser apenas isso, desprezo qualquer um que pretenda ser mais do que isso”. Obviamente, foi o oposto, o senhor da vida e da morte dos milhares que tombaram sob suas ordens, no Grande Terror.

“Charlie Kirk era um otimista apaixonado, um espírito de esquerda numa cabeça de direita”

Escrevendo na Spectator, Roger Kim­ball foi buscar um episódio quase esquecido da Revolução, o dos “afogamentos de Nantes”, uma forma de execução sumária usada para esvaziar as prisões superlotadas da cidade. A guilhotina e os fuzilamentos não davam conta da quantidade de gente a ser executada — sendo a segunda forma considerada um desperdício de tempo e munição. Sob o comando de um enviado especial, Jean-Baptiste Carrier, criou-se um outro sistema. Prisioneiros com pés e mãos amarrados eram colocados em balsas com furos nos cascos tapados por pranchas e levados para o centro do Loire. Os executores arrancavam as pranchas e as balsas afundavam com sua carga humana no rio. No caso dos padres que não abju­ra­vam a Igreja nem proclamavam fidelidade à constituição republicana acima de tudo, eram amarrados nus com freiras, igualmente despidas, e afogados no rio. Carrier chamava a atrocidade de “casamentos revolucionários”. Um quadro anônimo deixou registrado o método que devorou até 10 000 vidas. “A sede de sangue do esquerdismo não é novidade. É uma parte central do impulso socialista. O que é o socialismo? Em parte, é o otimismo traduzido para um programa político”, escreveu Kimball, com seu habitual pessimismo.

Em tudo, Charlie Kirk era um otimista, um apaixonado defensor das ideias que considerava virtuosas. Um espírito de esquerda numa cabeça de direita. Por isso, o assassino considerou insuportável que continuasse a viver.

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2025, edição nº 2963

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