Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Por que enrolar-se na bandeira?

Na Ucrânia, há o embate entre nacionalismo do bem e do mal

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 12h19 - Publicado em 3 abr 2022, 08h00

Em que circunstâncias o leitor estaria disposto a largar tudo, tentar abrigar a família da maneira mais protegida possível e, mesmo nunca tendo encostado em nada mais letal do que uma faca de churrasco, pegar em armas para defender o Brasil de uma agressão externa? A pergunta provavelmente é feita por muitos que assistem à resistência quase inacreditável dos ucranianos, a começar pelo presidente, um humorista que transformou camiseta verde-­oliva em figurino de herói, passando pelo prefeito da capital, o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, que regularmente dispara frases cinematográficas, do tipo “É melhor morrer do que viver como escravo”. Com 2,01 metros de altura e cara esculpida nos ringues, ele parece mais adequado ao papel do que o miúdo Vladimir Zelensky. Como bala não respeita tamanho, a resistência de ambos reflete o espírito de luta existencial que se implantou no país.

O sentimento patriótico, de luta pela sobrevivência da nação, é um dos elementos que mais causa admiração num mundo em que esse tipo de coisa parecia relegada aos pedaços piores dos livros de história, com a diluição das identidades nacionais — um fenômeno não necessariamente bom, mas supostamente inevitável e até desejável para apagar da memória os males provocados pelo nacionalismo furioso, resumido em três elementos: Alemanha nazista, Itália fascista e Japão imperial.

“O ‘patriotismo como último refúgio do canalha’, segundo Samuel Johnson, virou um chavão”

De tantas vezes ser invocada, inclusive no contexto errado, o patriotismo como “último refúgio do canalha”, segundo o pensador inglês Samuel Johnson, virou um chavão serial. Mas o caso da Ucrânia está ressuscitando o conceito de nacionalismo ruim e nacionalismo bom. Este, “um nacionalismo cívico baseado no patriotismo e no estado de direito”, na definição da autora americana Anne Applebaum. O mau, obviamente, é retratado pelos discursos sinistros, a realidade alterada, a manipulação pervertida e até as feições distorcidas de Vladimir Putin.

Como em tantas outras coisas, George Orwell deu a melhor definição dos dois fenômenos. O bom, ele chamou de patriotismo, “a devoção a um lugar e a um modo de vida específicos, que acreditamos ser o melhor do mundo, mas não desejamos impor a outras pessoas”. O (mau) nacionalismo, ao contrário, “é inseparável do desejo de poder”.

Continua após a publicidade

O que nos leva de volta à primeira pergunta: quem resistiria de armas na mão a um desejo avassalador desse tipo? Com uma narrativa nacional riquíssima e vencedora, ancorada numa espécie de religião cívica em que a liberdade é cultuada como valor supremo, os americanos decepcionaram na resposta. Segundo uma pesquisa da Quinnipiac, apenas 55% disseram que continuariam nos Estados Unidos e participariam da resistência; 38% simplesmente fugiriam do país. Na faixa dos 18 aos 34 anos, a “resistência” cai para 45%. “Projetando para a escala nacional, seriam 125 milhões de ianques caindo fora da Terra dos Não Mais Livres e Pátria dos Não Especialmente Bravos”, ironizou a escritora americana Lionel Shriver. Ela mesma disse que colocaria uma caixa de vinho na traseira do SUV e daria o fora. E o leitor, faria o quê?

Publicado em VEJA de 6 de abril de 2022, edição nº 2783

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

a partir de 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.