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Premiê baleado: político de esquerda que apoiava causas de direita

Robert Fico tornou-se a figura central da política na Eslováquia, com ideias feitas para as teorias conspiratórias, contra a Ucrânia e contra vacinas

Por Vilma Gryzinski 16 Maio 2024, 08h00
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  • Um homem cercado por guarda-costas caminha em direção de um grupo de pessoas que acompanham sua visita a uma cidade do interior. “Venha até aqui”, diz uma delas. O homem vai e leva três tiros. Os seguranças dominam o atirador e carregam o baleado até seu carro para ser socorrido num hospital.

    São muitas as semelhanças entre o atentado contra Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, e Jair Bolsonaro, inclusive a gravidade dos ferimentos no abdome. De certa maneira, atentados solitários no meio de multidões sempre são parecidos.

    E provocam todo tipo de teorias conspiratórias. Fico (os eslovacos pronunciam Fitso) tinha ideias sob medida para alimentar as especulações mais extremadas sobre os motivos que levaram um cidadão de 71 anos chamado Juraj Cintula, identificado como poeta, ex-segurança e fundador de um clube literário de esquerda, uma combinação peculiar, a disparar os tiros.

    Ironia adicional: recolhia assinaturas para criar um partido chamado Movimento Contra a Violência.

    O principal partido de oposição, Eslováquia Progressista, já negou qualquer associação com Cintula.

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    DURO E POLARIZADOR

    É claro que as especulações correm soltas, inclusive pelo perfil político de Fico: começou como militante do Partido Comunista da antiga Checoslováquia e entrou quase diretamente no desmanche da cortina de ferro erguida pela União Soviética em torno da Europa Oriental, fazendo carreira na Esquerda Democrática, o partido herdeiro do comunismo.

    Logo depois da Revolução de Veludo, o romântico nome da improvisação geral que levou ao fim do comunismo, o país se separou em dois, República Checa e Eslováquia, por acordo mútuo. Por caminhos estranhos, os eslovacos entraram para a União Europeia e a Otan, mas muitos continuaram ressabiados e simpáticos às ideias do ex-comunista, defensor, simultaneamente, do euro, da aproximação com Moscou, da oposição à Ucrânia, do fechamento das fronteiras a imigrantes e, durante a pandemia de covid, das máscaras e da vacinação compulsória. Sem o peso nem a capacidade argumentativa do vizinho Viktor Orbán, de certa maneira procurava emular o líder húngaro.

    O mundo de Fico desmoronou em 2018, quando o jornalista Jan Kuciak, que investigava casos de corrupção no governo, foi assassinado, um caso que chocou o país e colocou o primeiro-ministro praticamente no exílio.

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    Poucos têm motivos para duvidar que a Rússia de Vladimir Putin deu uma forcinha na batalha digital para promover a reabilitação de Fico, que formou uma coalizão de governo com a extrema direita, entre outros partidos. Uma de suas primeiras iniciativas foi desmontar o departamento de combate à corrupção.

    São lances de uma personalidade complexa e dominante, um político duro e polarizador, considerado mestre das jogadas pelo poder, um sobrevivente nato que agora enfrenta um teste tremendo.

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