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Revolução cultural: rolam estátuas e cabeças de jornalistas

Num momento de fúria e embriaguez coletiva, o #BlackLives Matter vira o novo #MeToo e cria situações em que discordâncias se tornam crimes

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 jun 2020, 13h43 - Publicado em 8 jun 2020, 12h11

Vai durar ou ser passageira como o #MeToo, a onda de indignação coletiva contra abusos sexuais?

As grandes manifestações de revolta contra a morte de George Floyd têm uma motivação poderosa, o repúdio quase unânime ao racismo, uma causa permanente.

Têm também, nos Estados Unidos, um caráter repetitivo, onde as explosões de protesto racial deixaram marcas vistas até nos bairros de população negra majoritária.

Mas os protestos atuais provocaram uma confluência de interesses entre a causa negra e a dos “vitimologistas”, uma palavra inventada para definir os que se sentem ofendidos por uma extensa variedade de motivos.

Estes sentimentos alimentam uma onda paralela aos protestos contra o racismo e fundamentalmente contrária à liberdade e variedade de opiniões.

As estátuas derrubadas ou vandalizadas são um símbolo poderoso.

Winston Churchill marchando eternamente para a vitória mais importante da história do Reino Unido? “Era racista”, picharam manifestantes.

Imaginem Robert E. Lee, na versão equestre do comandante das tropas vencidas dos estados do Sul, durante a Guerra Civil americana. Não caiu, mas nunca mais vai voltar para a praça em Richmond ou de qualquer outra cidade americana.

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As cenas mais impressionantes aconteceram com uma estátua de Edward Colston, em Bristol, cidade pela qual passa o rio Avon.

O Colston de bronze foi lançado, derrubado e jogado no rio, em cenas que lembraram a derrubada da estátua de Saddam Hussein em Bagdá.

Sem falar na Revolução Cultural, o movimento lançado por Mao Tsé Tung contra quadros e dirigentes do próprio Partido Comunista Chinês, submetidos a humilhações públicas pelos jovens da Guarda Vermelha – sem falar nos danos ao patrimônio, até hoje incalculáveis.

A polícia poderia ter interferido, mas o oficial no comando “escolheu” não fazer nada.

Provavelmente pela péssima e merecida fama do Colston da vida real, um mercador de escravos do século XVII.

“Não deveria ter uma estátua dele em Bristol ou em qualquer outro lugar”, disse o novo líder da oposição trabalhista, Keir Starmer. Para amenizar, disse que o vandalismo foi “completamente errado”.

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A questão, evidentemente, é que uma coisa justifica a outra.

Começa-se com uma praga como o escravagista e se chega a Churchill, que realmente tinha opiniões racistas, expressadas especialmente em relação a Gandhi.

O contexto histórico deve ser respeitado? É uma questão aberta para debates – mas os derrubadores de estátuas querem tudo, menos debate.

A mesma intransigência jacobina foi desatada contra jornalistas importantes por não praticarem o “vitimologia” de manual.

O caso mais conhecido é o do editor da página de editoriais do New York Times.

James Bennet primeiro pediu desculpas pela publicação de um artigo do senador republicano Tom Cotton dizendo que o uso de forças militares era justificado no caso atual.

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Cotton não defendeu nenhum absurdo, mesmo para quem discorda de sua opinião.

Deu também o exemplo de vários precedentes, inclusive quando John Kennedy “federalizou” a Guarda Nacional do Alabama para proteger os estudantes negros da pressão exercida por moradores brancos contra a integração racial nas escolas.

O governador era George Wallace, praticamente um sinônimo de racismo na época, e o presidente Kennedy, coberto de razão, passou por cima dele.

As desculpas de James Bennet não bastaram, as pressões da redação continuaram. Acusação: colocar em risco a vida dos jornalistas negros do Times.

Bennet acabou com um “pedido de demissão”.

O mesmo aconteceu com o diretor de redação do Philadelphia Inquirer, um jornal tradicional da cidade.

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A cabeça de Stan Wishnowiski não resistiu a uma manchete que fazia referência ao Black Lives Matters, ou vidas negras são importantes.

“Prédios são importantes”, dizia a manchete, mostrando a extensão da destruição em áreas onde os maiores prejudicados são os próprios moradores negros.

Num clássico da esquerda devorando-se a si mesma, Andrew Sullivan, o tipo de jornalista com quem todo mundo que aprecia um bom debate gostaria de dividir uma mesa, teve um artigo vetado na revista New York.

“Cabeça erguida: minha coluna não sai esta semana”, tuitou o responsável pelo crime de talvez pensar que violência e saques prejudicam, ao invés de ajudar, a causa antirracista.

Não saberemos sua opinião.

Ah sim, Sullivan é um antitrumpista de primeira linha. E gay, também. Mas isso não conta no momento.

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