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São rapazes sino-americanos?

É um dilema lidar com a expansão da China em nosso continente

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 jun 2024, 10h24 - Publicado em 25 jun 2023, 08h00

No coração da Argentina, na imensidão dos pampas da província de Neuquén, uma antena gigantesca vasculha o espaço profundo. Está no centro de um complexo de 2 000 quilômetros quadrados, gentilmente cedido por Cristina Kirchner, quando era presidente. Apesar de todo o habitual blá-blá-blá nacionalista do peronismo, a Estação de Espaço Distante é de uso exclusivo dos chineses, com pequenas concessões a cientistas nativos. Se alguém acredita que a estação voltada para a exploração espacial não tem finalidade militar, precisa verificar o que está colocando no seu mate. A estação é símbolo poderoso da intensa, rápida e muitas vezes despercebida expansão da China na América Latina. Enquanto os Estados Unidos dedicavam parte de sua política externa a assuntos que consideram vitais, como promover o casamento gay (no Japão, com toda sua sofisticada cultura plurissexual) ou hastear a bandeira do arco-íris em embaixadas, a China fazia uma balada mais pesada. Envolve o que todo mundo quer: dinheiro para investimentos ambiciosos em infraestrutura ou em projetos populistas como estádios de futebol (o agrado ganhou até nome, a Diplomacia dos Estádios, e começou na África, tendo atingido lá a marca de 34 instalações esportivas). Agora, existem estádios construídos com investimentos chineses em países como Costa Rica, El Salvador, Suriname, Barbados, Santa Lúcia, Antígua e Barbuda, Granada, Jamaica, Bahamas.

“Não há chop suey grátis. Tudo o que os chineses põem na mesa tem tabela de preço”

As transações podem ser rápidas. Um dia, Honduras era um dos poucos países remanescentes que mantinham relações diplomáticas — longe de serem grátis — com Taiwan. No dia seguinte, a excelentíssima presidente Xiomara Castro, mulher do chapelão Manuel Zelaya, tinha mudado de lado. Baixou em Pequim de terninho vermelho, louca para discutir “sinergia” com seus novos amigos. Com os países mais chegados, a montanha de negócios da China envolve projetos de alta volatilidade, como a base secreta de espionagem instalada em Cuba para perscrutar os EUA.

Como lidar com essa China que aspira à hegemonia? Precisamos dela, como compradora de nossos produtos e vendedora de importações vitais. Ao mesmo tempo, não podemos ser ingênuos ou deformados pelas lentes ideológicas que traçam um futuro declinante para os EUA e um alegre mundo em que somos todos sino-americanos. Precisamos de mentes argutas para administrar necessidades, com pragmatismo, gente que entenda que não há chop suey grátis: tudo o que a China põe na mesa tem tabela de preço. Do ouro da Bolívia, um ciclo dominado por chineses, aos acordos entre meios de comunicação oficiais do atual governo brasileiro — ufa, que alívio, a China nos ensinará a fazer jornalismo —, a presença chinesa é maciça. O projeto de desdolarização, tão caro a Lula, tem até data: 2027. Resolverá um dos grandes problemas da China, que é administrar os 2 trilhões de dólares que tem em títulos do Tesouro americano e ao mesmo tempo ir para o confronto com os EUA na questão de Taiwan. O entrelaçamento das duas maiores economias do mundo segura, por enquanto, os ânimos agressivos, mas é questão de tempo. “Paciência é poder”, diz um provérbio chinês. “Com tempo e paciência, a folha da amoreira vira um vestido de seda.” De que tear geoestratégico sairão nossas roupas nos próximos anos?

Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847

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