Os mais otimistas dizem que Gustavo Petro hoje é de centro-esquerda, prefere a denominação “revolucionário” a “guerrilheiro”, declarou-se candidato progressista para sair da caixinha da esquerda, elegeu-se cercado por assessores pragmáticos.
Os mais realistas olham para o que ele escreveu. A sua proposta principal é simplesmente delirante, ou ditada pelo pensamento mágico.
Diz seu programa que tem como objetivo “abandonar o modelo econômico baseado na exploração do petróleo e do carvão”. Em lugar dele, entraria um modelo de “crescente produção agropecuária, de turismo respeitoso do meio ambiente físico e cultural, e de uma produtividade baseada no conhecimento, na ciência e na tecnologia”.
Ah, sim, ele também quer “gerar empregos e oportunidades, incluir as mulheres, o campesinato, as comunidades étnicas e a população migrante”, além, claro, de “assumir de forma decidida a defesa e a restauração de nossos recursos naturais”.
Pode ser apenas uma expressão de desejos, como tantos programas eleitorais, mas fica a dúvida: de onde sairão as dezenas, talvez centenas de milhões de turistas necessários para simplesmente mudar o modelo econômico (até na lista dos sul-americanos mais visitados, a Colômbia fica em quinto lugar, depois de Argentina, Brasil, Chile e Peru).
Petro também quer aumentar o tamanho do Estado, hoje a principal plataforma esquerdista, depois da falência do modelo revolucionário que ele seguiu quando militava no M-19 com o codinome de Aureliano – como o fabuloso Buendía de Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão.
As propostas vão da educação universitária gratuita para mulheres a “capacitação dos recicladores”. Claro que também pretende “lutar contra a mudança climática e a perda de biodiversidade” através do “desmonte gradual do modelo extrativista e do uso de combustíveis fósseis”. E também tem a parte da reconstrução da “institucionalidade agropecuária”, onde aparece o velho jargão da luta contra “o latifúndio improdutivo”.
Um dos pontos com potencial mais explosivo é o do acordo com os Estados Unidos para a extradição de narcotraficantes – a única punição que eles realmente temem.
Petro usa o termo “flexibilização” e “justiça restaurativa”, o que já dá uma boa pista. Seu projeto inclui beneficiar membros de organizações ilegais desde que entreguem armas, drogas e dinheiro, tornando-se bons cidadãos. O objetivo é “a restauração da vítima”. E, claro, não “a subordinação a poderes estrangeiros”. A comunidade do tráfico deve estar em festa, tal como os regimes de Cuba, Nicarágua e Venezuela, todos autores de declarações deslumbradas para comemorar a vitória de Petro.
Todo mundo sabe que todo governo tem uma grande diferença entre diz o que vai fazer e o que realmente faz. Petro não tem maioria legislativa para implementar muitas de suas propostas, incluindo a sobre o tratado de extradição de criminosos para os Estados Unidos.
Imaginem, então, como faria para mudar de modelo econômico, uma obsessão do autoritarismo de esquerda que sempre termina em desastre.
Transformar a Colômbia em Pandora, a terra mágica do filme Avatar, pode soar bonito, até poético, no papel, mas é irrealizável. O risco é que, em vez do modelo mágico, a coisa acabe em Venezuela. Petro não parece ter o perfil para isso, apesar do vídeo em que aparece, tocado por uma doses a mais, falando num palanque sobre a glória da volta das bandeiras vermelhas.
Os colombianos que votaram nele, obviamente, querem uma vida melhor – e mais benesses do Estado, a marca do nosso subdesenvolvimento sistêmico. Bandeiras vermelhas não vão preencher estas carências. Se não as aumentarem, já será um alívio.