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Todo mundo quer tirar uma casquinha do papa: funeral será concorrido

De Trump a Milei, convidados importantes não podem perder a oportunidade de aparecer no centro das atenções mundiais

Por Vilma Gryzinski 23 abr 2025, 06h55

Há vinte anos não acontece uma grande cerimônia fúnebre para um papa no Vaticano – a de Bento XVI foi menos importante porque ele já havia renunciado uma década antes. Qual a personalidade mundial que, tendo recebido um convite, vai deixar de figurar num evento, para usar a abominável palavra, que atrairá os olhos do mundo?

Já disseram sim Donald Trump, Javier Milei, Lula da Silva, Volodymyr Zelensky, Emmanuel Macron, Keir Starmer, os reis católicos da Europa e, provavelmente, o príncipe William, entre uma lista já batendo em 200 delegações.

O último grande funeral no Vaticano foi o de João Paulo II, mais popular e mais importante do que Francisco, tendo sido vital para dar a força moral incomparável que sustentou a resistência ao comunismo na Polônia, apressando o fim pacífico de todo o edifício construído sobre a palavra de Marx e Lênin, o maior acontecimento da segunda metade do século XX.

Como a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude, Milei já havia tido o bom senso de espairecer a relação com o papa, considerado o maior argentino da história, alguns centímetros acima de Messi. Tê-lo chamado de “imbecil” enviado pelo Maligno foi apenas um capítulo.

MÃOS MANICURADAS

O papa colaborou na conciliação, embora não seja difícil imaginar o que estava pensando quando recebeu Mileii no Vaticano. Da mesma forma, trocou saudações com Cristina Kirchner, depois de um histórico de atritos com ela e com o marido e antecessor na presidência, Néstor, quando era arcebispo de Buenos Aires.

Por causa dessa bronca, como dizem os argentinos, a esquerda peronista tentou desenterrar um caso em que Jorge Mario Bergoglio foi acusado de colaborar com a ditadura. A ficha logo caiu que era uma tática suicida, Cristina Kirchner, uma operadora política muito hábil e inteligente, botou um chapeuzinho e apareceu na Praça de São Pedro.

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O mundo da política funciona assim e o papa, qualquer que seja ele, também tem essa função. Algumas vezes a comunicação falha, como aconteceu durante a primeira visita do casal Trump ao Vaticano. Francisco perguntou a Melania se ela dava”potica” ao marido, referindo-se a um quitute de massa folhada da Eslovênia. Melania não entendeu a tradução e perguntou “Pizza?”.

Para completar, o nome do pão em italiano é “putiza”.

ESTILO ARGENTINO

A ideia de Melania colocando as mãos manicuradas na massa é extremamente conjectural. Em favor de Francisco, reconheça-se que ele tentava deixar os visitantes mais descontraídos, mesmo depois de atritos graves, como dizer que Trump, por causa do muro que prometia no primeiro mandato, não era cristão.

O papa pode ter direito a dizer que é ou não cristão, mas é uma autoridade a ser exercida com muita prudência, não por discordâncias sobre política migratória. Nesse caso, ele foi menos bispo de Roma e mais argentino, por causa de “uma longa cultura de denigração do rival”, segundo anotou Pablo Vaca no Clarín, ao notar uma espécie de trégua no estilo político “revanchista e de agressão perante”.

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Contra esse pano de fundo, Milei se saiu bem ao mencionar “as diferenças que hoje resultam menores”, exaltando a “honra de ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria”.

A nota oficial do governo argentino também procurou puxar a sardinha para o lado conservador com a menção da luta de Francisco para “proteger a vida desde sua concepção”.

‘MAL ABSOLUTO’

O papa também foi radicalmente argentino quando um jornalista perguntou se o aborto não era um mal menor para mulheres grávidas infectadas pelo vírus zika, com seus efeitos deletérios sobre o sistema neurológico dos fetos que gestavam.

“O aborto não é um mal menor. É um crime”, respondeu cabalmente Francisco. “É jogar fora um para salvar o outro. É o que faz a máfia. É um crime, um mal absoluto”.

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Posições assim costumam ser escamoteadas pelos que preferem acentuar o lado chamado de progressista de Francisco. O papa, obviamente, não era um homem simples de colocar numa caixa e pronto, assunto resolvido..

Haverá clamores de “Santo, santo”, como aconteceu durante o velório e enterro de João Paulo II? Possivelmente, não. Embora Francisco tenha tido um fim corajoso e sofrido, não foi exatamente um mártir. Deixa mais um gesto revelado pelo médico Sergio Alfieri: depois de sair da grave crise pulmonar durante sua última internação, deu dinheiro a um assessor e mandou trazer pizza para a equipe que atendia.

Muitos o exaltarão, pegando carona no prestígio papal. São coisas de um mundo ao qual ele não pertence mais. Depois de sábado, as atenções se voltarão para o conclave e quem sairá papa, sendo a exceção no dito comum dos especialistas sobre a votação na Capela Sistina: “Muitos entram papa e saem cardeais”.

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