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Três leoas: as candidatas conservadoras que são as preferidas das bases

Penny Mordaunt está na frente nas pesquisas para chefiar o governo britânico, embora a cúpula do Partido Conservador prefira candidato tradicional

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 14 jul 2022, 08h05 - Publicado em 14 jul 2022, 08h00

Os jogos são vorazes e políticos tradicionais estão dançando a cada rodada. Hoje tem mais uma. O preferido dos parlamentares para chefiar o Partido Conservador e, portanto, o governo, segundo o regime parlamentarista, é Rishi Sunak, um perfeito “homem do sistema”, desde o emprego na Goldman Sachs que o tornou milionário até a experiência como ministro da Economia nos tempos loucos da pandemia e da crise dos combustíveis.

Mas as bases querem uma mulher, de preferência uma reencarnação de Margaret Thatcher. Três delas estão no páreo e à frente das pesquisas junto aos membros de carteirinha do Partido Conservador. Todas venceriam Rishi Sunak numa hipotética disputa final, quando os dois candidatos que sobrarem de pé forem levados ao escrutínio das bases.

Penny Mordaunt é a mais destacada, mas Liz Truss (agora inteiramente vestida de azul Thatcher) e Kemi Badenoch também estão fazendo bonito. Instintivamente, os membros do partido – entre 100 e 150 mil pessoas – detectam que elas destruiriam a principal narrativa da oposição de esquerda, a de que os tories, a denominação tradicional, são o partido dos ricos e privilegiados.

Mordaunt assumiu os cuidados com a família aos 15 anos, quando a mãe morreu de câncer de mama, e trabalhou como assistente de mágico para pagar os estudos. 

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Embora diplomada  em Oxford pelo curso que é um celeiro de primeiros-ministros – PPE, sigla em inglês para filosofia, política e economia -, Liz Truss foi intensamente menosprezada pelas elites quando se tornou ministra das Relações Exteriores. Em notas plantadas anonimamente na imprensa, os bem pensantes ridicularizaram a ministra por imitar atitudes de Thatcher e chegaram a torcer para que Serguei Lavrov, o assustador chanceler russo, a humilhasse.

Kemi Badenoch, nascida Olukemi Olufunto Adegoke, numa família nigeriana, já foi chamada de “o pior pesadelo do Partido Trabalhista”: uma mulher negra formidavelmente eloquente que trabalhou no McDonald’s “chapando hambúrguer e limpando banheiros”, está na ala da direita dos conservadores (sim, a direita também tem uma esquerda) e tritura a teoria crítica racial – qualquer escola que ensine como se fosse um fato elementos dessa ideologia que “vê a minha negritude como vitimização e a branquitude deles como opressão” está descumprindo a lei, disse num discurso famoso. Sobre a política de carbono zero, deu uma definição fatal: “Desarmamento econômico unilateral”.

Ela também seduz as bases quando diz que micropolíticas como “dar 50 libras aqui e um desconto ali”  são ineficientes- uma flechada em Rishi que, entre outros incentivos, promoveu um desconto de 10 libras em todas as contas de restaurantes, para incentivar um ramo de negócios que estava saindo derrubado da paralisação de atividades durante a pandemia.

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A dinheirama despejada por Rishi emergencialmente na economia para pagar todo mundo que estava parado e, depois, o aumento das contribuições sociais de empregados e patrões, mais um imposto sobre o lucro das empresas, desiludiram os conservadores de raiz de um partido cujo mantra pode ser resumido em menos governo e menos taxações.

Rishi diz, claro, que vai seguir todos os mandamentos do thatcherismo se for eleito, mas prega uma “conversa de adultos” sobre as exigências sem precedentes criadas pela pandemia e a guerra na Ucrânia.

Uma boa parte dos parlamentares conservadores concorda: na primeira rodada da eleição, ele teve 88 votos (Penny Mordaunt ficou em segundo, com 67). Mas é difícil vencer as resistências criadas pela heterodoxia econômica e também pelas constrangedoras revelações de que sua mulher, Akshata, filha de um bilionário indiano, mantinha domicílio fiscal na Índia. O próprio Rishi só devolveu seu green card americano bem depois de um bom tempo no comando da economia britânica.

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“Você acha que membros de seu partido já estão preparados para escolher um homem marrom, Rishi?”, provocou, abjetamente, um advogado de esquerda, Jolyom Maugham. “Marrom”, sem o gracioso contexto do apelido da cantora Alcione, é a forma nada elegante de chamar indianos e outros povos asiáticos que não são brancos.

A preferência das bases por Penny Mordaunt ou alguma das outras leoas conservadoras pode, evidentemente, influenciar a votação dos parlamentares. A essa altura, é praticamente impossível que alguma delas não esteja entre os dois finalistas.

Penny tem algo do apelo populista de Boris Johnson, um sedutor serial que as bases finalmente abandonaram devido a seus conhecidos problemas de caráter. Ela participou de um reality show de mergulhos comandado pelo campeão olímpico Tom Daley. Mostrou que é uma mulher bonita, hoje com 49 anos, com um corpo com o qual outras mulheres que não são modelos, atrizes ou influencers, podem se identificar.

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Aparecer de maiô vermelho num programa de televisão e ser qualificada de “a parlamentar mais sexy” do reino não constituem exatamente argumentos que encantem as elites. Penny tem alguma substância a mais no currículo. Foi ministra da Defesa, durante apenas três meses, no governo da ex-primeira-ministra Theresa May, e rebaixada para secretária da Ajuda Externa no governo Boris. 

Os inimiguinhos estão tentando intrigá-la com as bases, chamando-a de “Theresa May com cabelão” e desencavando posições como o apoio à autoidentificação das mulheres trans. O irmão gêmeo dela é gay, o que a ajuda a se solidarizar com a causa.

“Acho que deveríamos estar falando do custo de vida, do sistema de saúde”, desconversou ela, antes de fazer um jogo de palavras sobre uma mulher como ela não ter um, digamos, penduricalho.

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Sem grandes arroubos retóricos, como os que fizeram a fama de Boris Johnson, ela já comparou a sua carreira política aos mergulhos que aprendeu a lapidar no reality show.

“É preciso ser corajoso na política. Para conseguir fazer coisas, você tem que pôr a cabeça a prêmio. É como mergulhar. Tudo o que se faz implica em riscos. O importante é administrar isso e manter a dignidade”.

Dignidade é uma palavra importante depois das vaciladas com que Boris Johnson cavou a própria cova.

O sistema de escolha dos dois candidatos finais é como um reality show da política – “Com pessoas feias”, sibilou uma comentarista.

A beleza de Penny Mordaunt certamente não atrapalha, mas pode ajudar a consolidar a imagem de que ela é um peso leve, sem densidade para chefiar um governo num momento extremamente perigoso para qualquer político, em qualquer país do mundo. É essa a batalha que ele tem que vencer até segunda-feira para estar na final.

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