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Trump nem liga que a “maldosa” Meghan não vai ao banquete

Presidente americano enfrenta mais  inimiguinhos do que nunca na Inglaterra e a mesma e calma rainha que já teve que esconder a prataria de ditador romeno

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 19h41 - Publicado em 2 jun 2019, 12h09
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  • Na ausência de um desastre, já se pode prever que muitos de milhares de britânicos sairão às ruas de Londres para protestar contra Donald Trump (são exatamente do conhecido tipo que pode ir a protestos numa segunda-feira de trabalho).

    Mesmo que se comporte como um lorde, Trump será acusado de inúmeras gafes. Aliás, antes de chegar já andou aprontando das suas.

    Perguntado sobre a ausência de Meghan Markle, a duquesa de Sussex, do ápice das visitas de estado, o banquete palaciano em Buckingham, Trump fez que não sabia que ela não iria.

    A boa desculpa de que teve o bebê Archie há menos de um mês também não funcionou diante de declarações de Meghan quando era uma atriz de televisão: Trump é um misógino etc etc etc. E se Hillary Clinton não ganhasse, ia se mudar para o Canadá. Onde, por sinal, já morava para filmar o seriado de que participava.

    “Não sabia que ela era maldosa”, reagiu Trump, acrescentando que de qualquer maneira ela será “uma boa princesa americana”.

    Outras intervenções trumpianas entraram no campo complicado da política de um reino nervoso pela disputa sobre quem será o substituto  da primeira-ministra Theresa May. Boris Johnson, aconselhou Trump.

    E como resolver o Brexit, razão das divisões que levaram à renúncia de May? É claro que Trump tem a solução: chamem “meu amigo” Nigel Farage para chefiar as negociações.

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    Farage, atualmente no céu por ter levado novíssimo  Partido do Brexit ao primeiro lugar nas eleições para o Parlamento Europeu, e é tão detestado pelo establishment inglês que nem o convidaram para qualquer ato oficial da visita de estado de Trump.

    Agradar visitantes importantes – e quem pode ser mais importante do que o presidente dos Estados Unidos – e promover a imagem, a aproximação e principalmente os negócios para o país é o objetivo das visitas de estado.

    Até os políticos mais  escolados se impressionam ao  pisar no tapete vermelho do salão de baile do Palácio de Buckingham, aparatado para um banquete com as mesas em formato de U que começam a ser postas três dias antes, as pratarias palacianas, as flores, os castiçais, as seis taças e os sete talheres para cada conviva.

    É claro que não é a rainha quem escolhe os convidados, mas o governo britânico.

    Elizabeth II, agora sozinha desde que o marido se aposentou, foi morar no interior e, aos 97 anos, não participa de cerimônias oficiais, recebe os visitantes não apenas para o banquete, mas como hóspedes no próprio palácio.

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    Sozinhos ou com as respectivas mulheres, os visitantes ficam na Suíte Belga (homenagem ao rei Leopoldo I da Bélgica, o príncipe alemão que se casou com Charlotte, filha do rei George IV, a quem sucederia como rainha se não tivesse morrido de parto aos 21 anos).

    O esplendor dos aposentos, com um salão principal do século 18 e, entre outros quadros, um Canaletto, o pintor favorito dos muito ricos, não impressionou os chineses encarregados de preparar da visita do presidente Xi Jinping.

    Eles reclamaram que o banheiro não tinha ligação direta com o quarto, como nas suítes que só começaram a existir muito tempo depois que Buckingham já era intocável.

    Aliás, reclamaram de tudo. Queriam que os armários fossem vermelhos e os móveis dispostos segundo os princípios do feng shui. E mais: levar comida própria, plena liberdade para montar “barracas tecnológicas” nos quartos da equipe e permissão para usar tablets ou laptops na hora do banquete.

    Também reclamaram de um dos hábitos da alta aristocracia: ter empregados para abrir as malas e arrumar as roupas das visitas no armário.

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    Parênteses: Cherie Blair, mulher de Tony Blair, contou que quando ele era primeiro-ministro ficou constrangida com a hipótese de que um “acessório anticoncepcional” fosse encontrado na sua mala, durante visita de cortesia a um dos palácios de campo da Rainha. Nem é preciso dizer o tipo de piada que circulou sobre a probabilidade de uso do acessório.

    O comportamento da delegação chinesa depois provocou um soluço diplomático. Um câmera do pool de cobertura de uma garden party no palácio captou sem querer um comentário da rainha ao saber que a comandante de polícia com quem conversava tinha sido encarregada do esquema de segurança durante a visita de Xi Jinping.

    “Que falta de sorte”, disse a rainha. “Eles foram muito rudes com o embaixador.”

    Segundo os especialistas em realeza, nada se compara à visita de Nicolae Ceausescu, o ditador comunista da Romênia, e sua igualmente ditatorial mulher, Elena, em 1978.

    Segundo o historiador Robert Hardman, durante a visita, para celebrar a encomenda de aviões britânicos, a rainha chegou a se esconder atrás de uma moita no jardim do palácio quando viu que o casal estava passeando por ali.

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    Mais ainda: o presidente francês, Valéry Giscard d’Estaing, ligou antes da visita avisando para a rainha tomar cuidado. Numa estadia oficial em Paris, os romenos haviam roubado objetos de decoração e até feito buracos na parede, procurando microfones escondidos.

    Escovas de prata e outros objetos valiosos de toalete foram tirados dos quartos reservados à delegação romena em Buckingham.

    Apesar do bom conselho, Giscard d’Estaing, como absolutamente todos os outros presidentes franceses recebidos em visita de estado, reclamaram depois da comida.

    Mas a saia justíssima da visita, em 1960, do monumental Charles de Gaulle deixou uma anedota incomparável.

    Um convidado perguntou à mulher do presidente francês o que esperava ter com mais ansiedade depois que o marido saísse da vida pública.

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    “A penis”, respondeu Yvonne. Em português, “um pênis”.

    A rainha salvou a pátria e comentou:  “Ah, happiness”.

    O inglês com forte sotaque de madame de Gaulle havia tirado o agá aspirado e transformado a palavra em inglês para “felicidade” em algo um tanto impróprio para um banquete com a rainha.

    O inglês de Melania Trump, a ex-modelo eslovena, é melhor. Mas, para garantir, melhor não perguntar o que ela mais deseja depois da Casa Branca.

    E nem perguntar a opinião de Meghan Markle. Ela já é duquesa em virtude do casamento com o príncipe Harry, mas ainda tem muito o que aprender em matéria de real compostura, e comportamento estritamente apolítico, diante de qualquer convidado oficial. Mesmo os que venham com uma surpresinha.

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