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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio

Exemplo de suinocultura sustentável: o caso Nutribras

Trajetória da empresa, aspectos sustentáveis, desafios e oportunidades

Por Marcos Fava Neves
Atualizado em 26 mar 2025, 08h39 - Publicado em 26 mar 2025, 08h38

Mais um caso de empresa brasileira foi publicado no principal periódico mundial de agronegócios, a revista International Food and Agribusiness Management Review (IFAMR). Caso que passa agora a ser usado por universidades e executivos em todo o mundo para discutir inovações e estratégias. O caso aborda os desafios e oportunidades da suinocultura no Mato Grosso, com foco na trajetória da Nutribras, uma das principais empresas do setor na região, e que merece destaque por ser exemplo de empresa sustentável no agro. Seguem os pontos mais interessantes para os leitores da nossa coluna.

História da Nutribras: a família Lucion produz suínos desde 1984 e, no final dos anos 90, migrou de Santa Catarina para Mato Grosso, buscando reduzir custos ao produzir milho no Centro-Oeste e transportá-lo para a suinocultura no Sul. Em Sorriso (MT), instalaram a granja em uma área com pastagens degradadas e enfrentaram desafios estruturais, como a falta de estradas e energia elétrica, solucionados com parcerias locais.

A operação começou com grãos e suínos, mas logo expandiu para novos negócios. O grupo foi pioneiro na produção de biogás no Brasil, impulsionado por pesquisas da Embrapa, investimentos estrangeiros e o Protocolo de Kyoto. Inicialmente, o biogás era utilizado para geração de energia elétrica.

A industrialização foi o grande salto da empresa, com a inauguração do frigorífico em 2011. Em 2013, adicionaram linhas de embutidos e cortes temperados, elevando o faturamento. Em 2016, seguiram com ampliações e melhorias, sempre com foco em sustentabilidade.
Em 2020, a empresa investiu na sanidade, qualidade da carne e genética dos rebanhos. Em 2021, iniciou com a Univates o desenvolvimento de biometano para uso veicular. Em 2022, lançou o primeiro caminhão movido a biometano da suinocultura, com a meta de converter toda sua produção de biogás (30.000 m³/dia) em combustível sustentável.

A Nutribras hoje: conta com mais de 1.700 colaboradores diretos, distribuídos entre produção agrícola, frigorífico e geração de energia. Na agricultura, cultiva soja, milho e feijão em 30.000 hectares, aproveitando a vantagem da região para até três safras anuais. Todo o feijão é comercializado com a Sorribras, a soja é negociada com esmagadoras para a produção de farelo e o milho é utilizado internamente na alimentação dos suínos. A empresa busca autossuficiência no milho e tem estrutura para armazenagem estratégica.

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A suinocultura é um dos principais negócios da empresa, com 18.000 matrizes em ciclo completo, resultando no abate de 600 mil animais por ano, dos quais 10% vêm de produtores independentes. A carne processada abastece mais de 5.000 clientes no Brasil e no mundo, gerando quase 60 mil toneladas anualmente.

Na produção de biogás, os dejetos suínos são direcionados para biodigestores, gerando biometano para veículos e fertilizantes orgânicos que reduzem custos agrícolas. O modelo de economia circular da Nutribras reaproveita subprodutos, tornando a produção mais sustentável.

Com operações em Sorriso, Vera, Nova Ubiratã e Paranatinga, a Nutribras está no coração do agronegócio mato-grossense, estado responsável por 31% da produção nacional de grãos. Sorriso se destaca como polo da região, enquanto Vera mantém atividades focadas na produção agrícola e suinocultura.

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Mercados e Habilitações: a carne suína é uma das proteínas mais consumidas no mundo, mas no Brasil ocupa apenas a terceira posição. No Mato Grosso, a baixa densidade populacional limita a demanda e cerca de 30% a 40% da produção da Nutribras destinada ao mercado interno sai do estado. A empresa foca no mercado doméstico, com apenas 15% da produção voltada à exportação para países como Argentina, Uruguai e Vietnã. Em breve, a China deve se tornar um novo destino, ampliando as oportunidades comerciais.

Apesar dos desafios da suinocultura, a exportação tem ajudado a fomentar o mercado interno, com cortes inicialmente desenvolvidos para fora, como o matambrito, ganhando aceitação no Brasil. No entanto, a concorrência pelo milho, impulsionada pelo crescimento das usinas de etanol, tem pressionado os custos de produção. Para reduzir riscos, a Nutribras adquiriu uma fazenda de 45.741 hectares em Nova Ubiratã (MT), onde pretende produzir 100% do milho necessário para a ração de seus suínos até 2025.

A propriedade também abriga uma estação ecológica e uma vila histórica, que será urbanizada para melhorar as condições locais e atrair mão de obra. Além disso, com 75% da área produtiva passível de irrigação e uma unidade de armazenamento de grãos, a fazenda garantirá maior estabilidade para a produção da empresa.

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Desafios da Suinocultura no Mato Grosso: a dificuldade da logística brasileira impacta diretamente o setor. O transporte de cargas é altamente dependente do modal rodoviário e o Centro-Oeste sofre com a falta de investimentos em infraestrutura. A distância para os portos do Sudeste e a falta de opções de transporte para os portos do Norte comprometem a competitividade da região. A ferrovia Sinop-Miritituba, em projeto, poderia melhorar essa situação, permitindo o escoamento da produção bovina e suína.

A competição com os estados do Sul é um desafio, pois além da proximidade dos portos, essa região concentra mercado consumidor, infraestrutura consolidada e mão de obra qualificada. No entanto, o crescimento dos mercados do Norte e Nordeste favorece o Mato Grosso, que tem vantagem na produção de grãos, reduzindo custos da suinocultura. Diferente do modelo integrado do Sul, a produção mato-grossense é verticalizada, garantindo maior controle e margens, apesar da necessidade de maiores investimentos.

A mão de obra qualificada é escassa devido ao êxodo rural e à falta de capacitação no interior do estado. Na sanidade, a Nutribras adota o modelo de compartimentação para reduzir riscos e garantir a continuidade da produção em caso de surtos de doenças.

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O acesso ao crédito também é um obstáculo, com taxas de juros elevadas e poucas linhas de financiamento adequadas às necessidades do setor. Projetos sustentáveis, mesmo pioneiros, ainda encontram dificuldades para obter incentivos financeiros.

Com um modelo de produção verticalizado, a Nutribras enfrenta obstáculos como a logística precária, concorrência do Sul e dificuldades no acesso a crédito, mas se beneficia da proximidade dos mercados emergentes e da autossuficiência em insumos. Para fortalecer sua posição no mercado, a Nutribras pode investir na diversificação de negócios, explorando novos segmentos da cadeia produtiva, e intensificar sua produção por meio de inovação e tecnologia para ampliar sua rentabilidade. Quais outras oportunidades existem para uma empresa como a Nutribras na suinocultura? Esta é a pergunta de debate e para nós um orgulho ver que a história de uma empresa familiar brasileira ganha destaque no principal periódico mundial de agro! Parabéns à família Lucion e parabéns ao agro do Brasil.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Flávio Valério, Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.

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