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Murillo de Aragão

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A inevitabilidade do Centrão

O grupo funciona como uma máquina voltada para o poder

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 14h11 - Publicado em 2 abr 2021, 06h00
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  • Com a indicação da deputada federal Flávia Arruda (PL-DF) para o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Governo, pasta que cuida da interlocução com o Congresso, o Centrão volta a ocupar posto relevante no Palácio do Planalto. Flávia Arruda terá sob seu controle a pressão arterial não apenas da base política em suas demandas junto ao governo, como também do fluxo de atendimento dessas demandas. É uma posição estratégica. A escolha da deputada comprova o poder do Centrão. Tal fato impõe algumas reflexões. Considerando o modelo político brasileiro, o Centrão sempre estará, ainda que parcialmente, participando da gestão do poder no Brasil? Com o atual ambiente político, a resposta é sim. Mesmo que em 2022 ganhe um candidato de esquerda, a presença de setores do Centrão no futuro governo é quase garantida.

    “O Centrão esteve em todos os governos desde FHC, passando por Lula, Dilma e Temer”

    Historicamente, o Centrão (ou setores dele) esteve em todos os governos desde FHC, passando pela era Lula, pelos anos Dilma e, obviamente, pela gestão Temer. Alguns devem lembrar que o escândalo do mensalão foi justamente uma operação política destinada a cooptar apoio para Lula no Congresso. E por que o Centrão é figura carimbada no álbum da política nacional? A razão é simples e reside no nosso sistema político. Mas a simplicidade da resposta também esconde uma grande complexidade. Os sistemas partidário e eleitoral brasileiros favorecem a fragmentação partidária. Partidos políticos viraram instituições controladas quase perenemente por indivíduos ou grupos que negociam com base em interesses regionais. Apesar do mandamento constitucional de que os partidos devem ser entes nacionais, o comportamento deles, muitas vezes, é pautado pelo paroquialismo. Pelo lado do Executivo, a construção de apoios políticos exige diálogo com vários partidos e muitos caciques. Os partidos pouco se orientam por ideologia. São mais máquinas de poder do que aparatos de ideias. Nesse sentido, não há contradição em uma legenda se dizer de centro e apoiar um governo de esquerda ou de direita. Desde que seus interesses sejam preservados ou valorizados, tudo bem.

    O Centrão, por sua larga configuração ideológica, acaba se tornando a área-­alvo preferencial da cooptação política no Brasil. No fim das contas, é a única área disponível, já que a polarização entre direita e esquerda antagoniza os lados e valoriza o centro. Por que a união do Centrão não se dá antes e durante as eleições? Porque as forças que participam do núcleo são orientadas por questões regionais no processo eleitoral. Alguns também devem lembrar que Ciro Nogueira, presidente do PP, partido que apoiava Geraldo Alckmin (PSDB) na corrida presidencial em 2018, apoiou o candidato do PT no Piauí. Exemplos assim são comuns. Em sendo máquinas de poder, as forças do Centrão buscam sobretudo ampliá-lo. Para tal, se orientam seguindo uma escala: o poder regional em primeiro lugar; e o poder federal que resulte em fortalecimento do poder regional. Lógica que não é simples de ser entendida. O folclore político de Brasília informa que, ao ser indagado sobre a possibilidade de se aproximar do Centrão, o presidente Jair Bolsonaro teria respondido: “É o que temos para hoje”. Considerando o modelo político nacional, a opção de Bolsonaro continuará valendo também para o futuro.

    Publicado em VEJA de 7 de abril de 2021, edição nº 2732

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