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Fatos, versões e autoengano

Para salvar 2025, poderes têm que, juntos, restaurar expectativas

Por Murillo de Aragão 12 jan 2025, 08h00

A. T. Cholerton, um renomado jornalista inglês, certa vez afirmou que “tudo era verdade, menos os fatos”. Essa observação irônica e perspicaz ecoa no Brasil atual, onde narrativas distorcidas frequentemente obscurecem a realidade, dificultando a compreensão dos desafios que enfrentamos. Vamos aos fatos.

O desemprego está em seu menor patamar em anos, o crescimento em 2024 será significativo e houve melhorias na distribuição de renda. Porém, o país queimou reservas internacionais devido à aguda perda de credibilidade na condução da política econômica. Cruelmente, as boas notícias ficaram no passado, enquanto as decisões sobre gastar e investir são tomadas com base em expectativas agora contaminadas por incertezas.

Se o governo tivesse adotado uma postura mais firme na questão fiscal e evitado declarações desastrosas, poderíamos ter iniciado o ano com um horizonte mais promissor, sustentado pelos resultados positivos do ano anterior. No entanto, a equipe econômica parece isolada, sem respaldo político e incapaz de convencer que a fragilidade fiscal pode comprometer o governo como um todo.

O Brasil enfrenta três cenários potenciais. O pior seria uma perda total de credibilidade fiscal, com o dólar ultrapassando os 7 reais, agravando inflação e juros. Um cenário intermediário manteria o atual ambiente de instabilidade. O cenário mais positivo dependeria de ações fiscais contundentes, melhor comunicação do governo e revitalização de uma equipe econômica sob severos questionamentos internos e externos.

Comunicar, insisto, não é apenas gastar em publicidade. É dialogar, ouvir e construir uma narrativa consistente de credibilidade. É abandonar o deslumbramento que setores do governo ainda demonstram com o poder e priorizar o que realmente importa: estabilidade e confiança. Para reverter as expectativas, algumas questões cruciais precisam ser respondidas com sinceridade.

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“Parece que o país caminha para um cenário de mediocridade, insistindo em medidas paliativas”

O governo cortará mais despesas? O Congresso aprovará ajustes fiscais? Uma reforma ministerial dará mais unidade ao Executivo? O governo dialogará mais com agentes econômicos? Declarações “lacradoras” serão arquivadas? A reflexão sobre essas perguntas é desanimadora. Entre o sucesso absoluto e o fracasso total, parece que o Brasil caminha para um cenário de mediocridade, insistindo em medidas paliativas e improvisações.

É o típico “sambarilove” — empurrar a crise até que as circunstâncias externas melhorem ou o caos se torne inevitável. A verdade é que o Brasil não pode ignorar os sinais de alerta que se acumulam. Fuga de capitais, desvalorização do real e juros futuros em alta não são números isolados, mas sintomas de uma crise mais profunda. A crescente demanda por dólares não reflete um ataque especulativo imaginário, mas a reação à falta de credibilidade fiscal.

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Os três poderes precisam conciliar agendas e organizar um esforço conjunto para restaurar expectativas. Caso isso seja feito de maneira séria, os resultados positivos aparecerão rapidamente. Como dizia Delfim Netto, o Brasil flerta com o abismo, mas, na hora H, costuma dar um passo atrás. É o que esperamos para este ano: que o Brasil tenha juízo, dialogue mais e aja com pragmatismo. Que deixemos o autoengano e encaremos os fatos antes que seja tarde. Ainda dá tempo.

Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926

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