Guerra Comercial se Intensifica
O conflito comercial com a China terá efeitos graves nas cadeias de suprimento globais

Não há nenhuma surpresa nas atitudes de Donald Trump. No entanto, o que devemos questionar é quais as consequências de suas atitudes. De modo claro, a eleição de Donald Trump representava uma potencial e dramática mudança nas regras do comércio mundial. Sua posse e o consequente anúncio de medidas tarifárias confirmaram as expectativas.
A decisão de impor novas tarifas a parceiros comerciais importantes, como Canadá, Europa, México e China, pode desencadear uma série de reações econômicas e políticas, agravando a fragmentação do comércio global e o ressurgimento de medidas protecionistas. Os países impactados pelas estratégias de Trump provavelmente retaliarão com suas próprias medidas, tanto tarifárias quanto não tarifárias.
O conflito comercial com a China terá efeitos graves nas cadeias de suprimento globais, já que a China já deixou claro que pretende lutar até o fim para proteger seus interesses comerciais. O Canadá está na mesma posição, enquanto o presidente do México afirmou que o país tem planos A, B, C e D para lidar com a questão.
Como desdobramento, podemos esperar o endurecimento das regras de imigração e a imposição de restrições ao trânsito de mercadorias e, até mesmo, de pessoas. Países europeus e o Canadá, por exemplo, podem adotar medidas mais rígidas para a entrada de cidadãos e produtos americanos, impactando setores como turismo, tecnologia e serviços.
Por outro lado, a promessa de incentivos fiscais e vantagens tarifárias pode atrair indústrias globais para o território americano, o que é objetivo primordial de Trump. É também importante notar que as barreiras comerciais americanas podem incentivar uma maior cooperação comercial entre os países afetados e isolar ainda mais os EUA.
Canadá, México, UE e China poderiam fortalecer suas relações comerciais formando novos acordos e zonas de livre comércio que não estão abertas à América. Esta mudança poderia levar ao fortalecimento de blocos econômicos alternativos e a uma maior competição entre os mercados não-americanos. Mesmo o fraco acordo dos BRICS poderia se beneficiar do isolamento americano.
Por fim, a política de Trump, com as observações que fiz anteriormente, estabelece uma grave ruptura na ordem econômica e comercial global. Sua decisão, por exemplo, de construir reservas em criptomoedas, assim como sua defesa do dólar como moeda utilizada no comércio internacional, com certeza provocará um grande impacto nas finanças internacionais.
O mundo complexo em que vivemos atualmente, como escrevi em uma coluna no começo de fevereiro, é um “mundo muito maluco”, o qual o Brasil pode se beneficiar por ser, de um lado, um ator periférico na política internacional e, por outro, uma potência na produção de alimentos que terminam sendo essenciais para o mundo todo. Por ser periférico, pode não ser envolvido diretamemte no conflito. Já a produção de alimentos nos manterá em posição relevante no comércio internacional caso os Estados Unidos percam espaço na cadeia fornecedora mundial.