Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Meteoros no reino das pedaladas

A precária credibilidade do país vive sob ameaça constante

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 13h16 - Publicado em 6 ago 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Historicamente, as equipes econômicas, com honrosas exceções, têm, entre tantos defeitos, o de agir como dirigentes de clubes de futebol. Tomam decisões erradas no presente, cujos efeitos práticos só serão sentidos no futuro. Vamos pegar um exemplo que pode sair do forno a qualquer momento: a pedalada no pagamento dos precatórios.

    De repente, os gênios da economia se surpreenderam com o meteoro dos pagamentos de precatórios em 2023. Ponto 1. Se o governo sabe quem está devendo para ele, também deveria saber a quem deve pagar. E quando. Ser surpreendido, da forma como o governo demonstrou, pelas dívidas que precisa quitar é prova cabal de grosseira incompetência.

    No mundo real, não nos gabinetes da burocracia estabilizada de Brasília, as empresas fazem provisões e se preparam para pagar potenciais dívidas. Aqui a equipe econômica olha para o céu à espera de meteoros. E, quando os avista, diz: “Devo, não nego, pago quando puder”.

    Ponto 2. E quando os meteoros ou as necessidades emergentes aparecem, surgem soluções criativas, tal qual a manjada e inconstitucional cobrança de PIS/Cofins sem descontar da base de cálculo o ICMS. A questão terminou em um galeão fiscal explodindo as contas do governo no Supremo Tribunal Federal. Agora, a solução criativa é dar pedaladas nos precatórios.

    As soluções criativas são geradas partindo-se do princípio de que existiria uma “inconstitucionalidade útil”, também chamada de “o crime constitucional compensa”. Crime que foi — e continua a ser — amplamente praticado pelas autoridades tributárias no país sob o olhar complacente e bovino de muitos.

    Continua após a publicidade

    “Ser surpreendido pelas dívidas que precisa quitar é prova cabal de grosseira incompetência”

    Funciona assim: a) aprovar uma solução inconstitucional que gera receita; b) enrolar o contribuinte em um inferno de atos e portarias; c) torcer para que poucos contribuintes recorram à Justiça; d) aguardar o STF decidir —anos depois — pela inconstitucionalidade; e) reclamar de que o Tesouro não tem como pagar; e f) demorar mais anos e anos para pagar o que é devido.

    Agora, a partir da surpresa “meteorítica”, e para completar o ciclo da “criminalidade constitucionalizada”, propõe-se o “preparo h”: dar uma pedalada nos precatórios decorrentes das dívidas que a Justiça determinou ao governo pagar.

    A precária credibilidade do Brasil vive sob constante ameaça das autoridades tributárias. Os ataques que corroem nossa credibilidade se dão pela vocação irresistível de nossos governos de arquitetar orçamentos secretos, dar pedaladas fiscais, inventar cobrança tributária inconstitucional, tentar não pagar o que deve, fazer saldo fiscal não executando fundos. É o caso do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), entre outras criações. Tudo pela ausência de planejamento e de respeito aos mandamentos constitucionais.

    Continua após a publicidade

    Temas sensíveis como as dívidas do governo não podem ser tratados com descaso e desrespeito à letra constitucional. Nem a partir da observação de meteoros no céu do Planalto Central. A ponto de justificar Olavo Bilac: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo. Perdeste o senso!”.

    Em políticas públicas, perscrutar os céus e ouvir estrelas sem ter o pé na realidade constitucional e o pulso nos embates judiciais e na penosa construção de credibilidade econômica e financeira é viajar na maionese.

    Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2021, edição nº 2750

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.