Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Murillo de Aragão

Por Murillo de Aragão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

O perigo do “retroprogresso”

O novo governo busca inspiração num passado imaginário

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h42 - Publicado em 12 fev 2023, 08h00

Desde as eleições de outubro, o novo governo emite sinais e ruídos contraditórios. Tal fato se comprova pela assertividade e abundância de declarações polêmicas. Em vez de prevalecer o equilíbrio e a prudência, as vibrações eleitorais seguem predominando.

O fenômeno tem duas consequências principais. A primeira é gerar impasses, dúvidas e incertezas. A segunda é causar a impressão de que o novo governo busca uma espécie de “retroprogresso”, ou seja, uma projeção rumo a um passado que não existiu.

No plano imagético, o retroprojeto se baseia em outro conceito complexo, este de Zygmunt Bauman: o da retrotopia, que é uma desconfiança do presente aliada a um imaginário utópico do passado. Passado do qual, como narrativa construída, se selecionam partes, visando compor uma imagem idealizada. E que só existe como imaginação e é motivada pela saudade do que não fomos.

Em política, a retrotopia é uma atitude recorrente. Só mudam os atores e o cenário. O governo Bolsonaro também embarcou em uma viagem utópica, ao sonhar com um regime militar que não existiu. Assim como muitos, recentemente, pediram uma intervenção militar que não viria.

“Corremos o risco de ficarmos prisioneiros de um limbo, uma espécie de purgatório em que descuidamos da realidade”

Continua após a publicidade

A retrotopia projeta um sucesso do passado composto de pedaços de verdades, de meias verdades e de mentiras sinceras. No entanto, a nostalgia do que não fomos é tão nefasta quanto a aspiração a sermos o que ainda não podemos ser.

Como disse Montaigne, “a sabedoria presta um bom serviço aos que subordinam seus desejos às suas capacidades”. Prometer o que não pode entregar é uma ferida autoinfligida que, com o passar do tempo, só vai piorar.

Outra forma de se ferir é não entender, de forma clara, as razões que decretaram os acontecimentos. No caso, as eleições presidenciais. Por que chegamos aqui? Esquecemos que, nos últimos vinte anos, o país viveu uma vertiginosa sequência de acontecimentos políticos, econômicos e sociais que moldaram uma nova realidade?

Continua após a publicidade

As duas contradições — a ferida autoinfligida e a não leitura da realidade — cobram um preço alto: o atraso nas realizações ou até mesmo o fracasso de propósitos. Entre uma contradição e outra, corremos o risco, como nação, de ficarmos prisioneiros de um limbo, uma espécie de purgatório em que descuidamos da realidade tentando viver em uma pararrealidade gelatinosa.

Posto o dilema do momento, pergunta-se: seria o retroprogresso inexorável, tal qual uma caminhada ao abismo político? Seguramente, não. Em política nada é inexorável. Tudo é relativo. Tudo pode mudar — para melhor ou para pior. Depende das decisões dos atores institucionais relevantes na cena política. E das escolhas que esses atores vão fazer.

O novo governo tem na história dos últimos vinte anos bons e maus exemplos de políticas públicas. Sabe também que não existe mais o monopólio das manifestações nas ruas. E sabe ainda que os poderes Judiciário e Legislativo são mais independentes e atuantes do que antes. Enfim, são outros tempos. Bem mais complexos e que exigem doses industriais de pragmatismo.

Publicado em VEJA de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.