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APURAÇÃO DAS ELEIÇÕES 2024

Murillo de Aragão

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O perigo do “retroprogresso”

O novo governo busca inspiração num passado imaginário

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 10h42 - Publicado em 12 fev 2023, 08h00
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  • Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva (R) and Finance Minister Fernando Haddad (L) shake hands during the presentation and signing of new economic measures at the Planalto Palace in Brasilia, on January 12, 2023. (Photo by Sergio Lima / AFP)
    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente Lula  (Sergio Lima/AFP)

    Desde as eleições de outubro, o novo governo emite sinais e ruídos contraditórios. Tal fato se comprova pela assertividade e abundância de declarações polêmicas. Em vez de prevalecer o equilíbrio e a prudência, as vibrações eleitorais seguem predominando.

    O fenômeno tem duas consequências principais. A primeira é gerar impasses, dúvidas e incertezas. A segunda é causar a impressão de que o novo governo busca uma espécie de “retroprogresso”, ou seja, uma projeção rumo a um passado que não existiu.

    No plano imagético, o retroprojeto se baseia em outro conceito complexo, este de Zygmunt Bauman: o da retrotopia, que é uma desconfiança do presente aliada a um imaginário utópico do passado. Passado do qual, como narrativa construída, se selecionam partes, visando compor uma imagem idealizada. E que só existe como imaginação e é motivada pela saudade do que não fomos.

    Em política, a retrotopia é uma atitude recorrente. Só mudam os atores e o cenário. O governo Bolsonaro também embarcou em uma viagem utópica, ao sonhar com um regime militar que não existiu. Assim como muitos, recentemente, pediram uma intervenção militar que não viria.

    “Corremos o risco de ficarmos prisioneiros de um limbo, uma espécie de purgatório em que descuidamos da realidade”

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    A retrotopia projeta um sucesso do passado composto de pedaços de verdades, de meias verdades e de mentiras sinceras. No entanto, a nostalgia do que não fomos é tão nefasta quanto a aspiração a sermos o que ainda não podemos ser.

    Como disse Montaigne, “a sabedoria presta um bom serviço aos que subordinam seus desejos às suas capacidades”. Prometer o que não pode entregar é uma ferida autoinfligida que, com o passar do tempo, só vai piorar.

    Outra forma de se ferir é não entender, de forma clara, as razões que decretaram os acontecimentos. No caso, as eleições presidenciais. Por que chegamos aqui? Esquecemos que, nos últimos vinte anos, o país viveu uma vertiginosa sequência de acontecimentos políticos, econômicos e sociais que moldaram uma nova realidade?

    As duas contradições — a ferida autoinfligida e a não leitura da realidade — cobram um preço alto: o atraso nas realizações ou até mesmo o fracasso de propósitos. Entre uma contradição e outra, corremos o risco, como nação, de ficarmos prisioneiros de um limbo, uma espécie de purgatório em que descuidamos da realidade tentando viver em uma pararrealidade gelatinosa.

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    Posto o dilema do momento, pergunta-se: seria o retroprogresso inexorável, tal qual uma caminhada ao abismo político? Seguramente, não. Em política nada é inexorável. Tudo é relativo. Tudo pode mudar — para melhor ou para pior. Depende das decisões dos atores institucionais relevantes na cena política. E das escolhas que esses atores vão fazer.

    O novo governo tem na história dos últimos vinte anos bons e maus exemplos de políticas públicas. Sabe também que não existe mais o monopólio das manifestações nas ruas. E sabe ainda que os poderes Judiciário e Legislativo são mais independentes e atuantes do que antes. Enfim, são outros tempos. Bem mais complexos e que exigem doses industriais de pragmatismo.

    Publicado em VEJA de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828

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