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Murillo de Aragão

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Preocupantes sinais dos tempos

O futuro próximo se mostra pouco animador

Por Murillo de Aragão 11 ago 2024, 08h00

Os chamados “sinais dos tempos” são vistos como advertências ou indícios que precisam ser analisados e compreendidos para que a sociedade possa se preparar para o futuro. Há muito, os sinais dos tempos não são bons. A polarização política consome o pragmatismo. Os desencontros predominam nas agendas. O multilateralismo está em crise. E problemas dos séculos passados, como desigualdade, racismo e intolerância religiosa, prosseguem ocupando os espaços da vida.

Recentemente, investidores desmontaram um dos maiores carry trades de todos os tempos, em uma clara demonstração de aversão a risco. Migraram seus investimentos para aplicações conservadoras. Temores de recessão assustaram o mercado em todo o mundo. Na geopolítica mundial, os arranjos que se formam apontam para temas perigosos e situações delicadas.

Uma rápida mirada ao redor acrescenta preocupações relevantes ao cenário. Na vizinhança, a Argentina não mostrou condições de se recuperar e corre o risco de viver agudos retrocessos. A Venezuela enveredou por uma viagem de miséria, pobreza, tráfico de drogas e corrupção cujo fim é incerto. Na Europa, os novos líderes tampouco estão à altura dos conflitos que prosseguem por conta da invasão russa na Ucrânia, da guerra no Oriente Médio e da questão da imigração. As tensões crescentes entre Irã e Israel podem piorar ainda mais o quadro na região.

No Oriente, existe o espectro de ações bélicas em Taiwan e a economia chinesa anda de lado com uma queda brutal no consumo. Até mesmo o mercado de alto luxo foi duramente atingido no primeiro semestre do ano. O FMI aponta que, sem mudanças estruturais, a economia chinesa perderá ainda mais dinamismo.

“Um mundo que parecia alegre com o boom das commodities e a globalização voltou-se para o confronto, o conflito e a desconfiança”

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No Japão, o índice acionário Nikkei, na primeira semana de agosto, apresentou queda semelhante ao verificado no crash da Black Monday de 1987.

As expectativas de desaquecimento também chegam aos Estados Unidos. Em meio a temores de recessão, as eleições presidenciais norte-americanas têm como protagonistas dois nomes com imensas fragilidades. Kamala Harris, uma vice-presidente opaca, e o polêmico Donald Trump. Nenhum deles transmite confiança frente aos desafios existentes.

Um mundo que parecia alegre com o boom das commodities e a globalização voltou-se para o confronto, o conflito e a desconfiança. O terrorismo, que se insinuava como o grande vilão da paz mundial, tem a companhia da crescente globalização do crime organizado. Como pano de fundo, há a polarização radicalizada da política, promovendo preconceito, incerteza e insegurança.

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Os sinais prosseguem ruins com a decadência das instituições, que, mesmo em ambientes democráticos, se envolvem em conflitos internos enquanto o mundo pega fogo — literalmente, considerando o aquecimento global. As lideranças hoje postas, como disse, tampouco parecem preparadas para tempos ainda mais difíceis, ou para evitar que o ambiente acabe se deteriorando gravemente. Parafraseando Montaigne, o mundo está cheio de material inflamável e as lideranças circundam as crises com tochas ardentes de insanidade, despreparo e radicalismo.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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