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Reflexões sobre a diplomacia

A política externa do Brasil não pode ser guiada por ideologias

Por Murillo de Aragão 6 out 2024, 08h00
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  • Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, diz que só haverá cessar-fogo após a destruição do Hamas -
    Enquanto boicota Israel, o Brasil mantém silêncio sobre o apoio explícito do Irã a grupos terroristas no Oriente Médio (EMMANUEL DUNAND/AFP)

    Em um mundo cada vez mais complexo em termos geopolíticos, uma impressão prevalece: a incerteza e a insegurança continuarão a dominar os próximos tempos. Nesse cenário global instável, é essencial refletir sobre o papel da diplomacia brasileira. Nas últimas duas décadas, salvo um breve período durante o governo Michel Temer, a diplomacia brasileira tem sido orientada por interesses ideológicos dos governos de plantão, em detrimento da tradição diplomática consolidada ao longo do tempo.

    No entanto, é imperativo lembrar que a diplomacia deve ser uma política de Estado, pautada pelos grandes interesses nacionais, e não um instrumento de governos transitórios. Historicamente, o Brasil sempre foi reconhecido por sua diplomacia prudente, atenta à busca por consensos em tempos de tensão. No entanto, à medida que enfrentamos crises globais — como os conflitos no Oriente Médio, a invasão da Ucrânia e a instabilidade na Venezuela —, o Brasil tem adotado uma postura pública que se distancia de sua tradição de equilíbrio e da defesa dos valores da sociedade brasileira.

    “Somos agressivos onde não deveríamos ser e complacentes onde a firmeza é necessária”

    Atualmente, o país parece estar se afastando das democracias ocidentais. Esse distanciamento ficou evidente na Assembleia Geral da ONU, quando a delegação brasileira boicotou o discurso de Benjamin Netanyahu e apoiou a proposta de paz da China para a guerra na Ucrânia — uma proposta que, na prática, mantém o controle russo sobre territórios invadidos. Embora Neta­nyahu seja alvo de críticas por não apresentar soluções claras para o conflito com os palestinos, o Brasil parece ignorar o fato de que a recente escalada no Oriente Médio começou com ataques do Hamas e de grupos financiados pelo Irã. Esses ataques incluem milhares de foguetes lançados pelo Hezbollah e o uso de drones por milícias no Iêmen, no Iraque e na Síria.

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    Apesar dos excessos cometidos, a guerra de Israel é, em essência, uma guerra de autodefesa. Enquanto boicota Israel, o Brasil mantém silêncio sobre o apoio explícito do Irã a grupos terroristas no Oriente Médio — justamente no momento em que o Irã está prestes a integrar o bloco dos Brics. Além disso, a diplomacia brasileira não tem sido assertiva na defesa dos interesses comerciais do país, agora ameaçados por políticas protecionistas europeias, supostamente justificadas por preocupações ambientais. Há uma inversão de prioridades: somos agressivos onde não deveríamos ser e complacentes onde a firmeza é necessária, especialmente diante do protecionismo europeu.

    A política externa do Brasil não deve ser guiada por uma ideologia antiocidental que põe em risco as relações com as democracias e enfraquece os valores centrais da diplomacia nacional. Manter a independência tradicional é fundamental para o Brasil, que não deve se alinhar a interesses geopolíticos que comprometam sua credibilidade internacional. A substituição de uma visão nacional de longo prazo por interesses imediatos enfraquece a continuidade de uma política externa coerente e respeitada, que sempre foi um dos pilares da louvável atuação internacional do país.

    Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

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